Quatorze alunos e três professores da escola secundária Marjory Stoneman Douglas em Parkland, na Flórida, morreram num Dia dos Namorados (celebrado em 14 de fevereiro nos Estados Unidos) porque um estudante fortemente armado executou nela um massacre. Desde o início do ano, essa foi a 18ª vez que tiros foram disparados numa escola americana.
Desde a notória chacina de Columbine, em 1999, que deixou 15 mortos, mais de 150 mil alunos em 170 escolas de todo o país já testemunharam disparos de armas, de acordo com uma análise do jornal Washington Post. Ou seja: abrir fogo em escolas faz parte da vida cotidiana.
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Até agora, as reações a essa insanidade seguiram o mesmo padrão: perplexidade, tristeza, orações e, por fim, resignação. E o mundo fora dos EUA se pergunta, meneando a cabeça: se mais de 10 mil pessoas morrem anualmente a tiro nos Estados Unidos, por que não se restringe a venda ao menos de armas semiautomáticas?
Após o massacre na pequena comunidade texana de Sutherland Springs, em novembro de 2017, o correspondente da DW em Washington comentou: "O olhar deve se dirigir para a repetição periódica da mesma situação. E essas carnificinas devem ser apresentadas como são: um constante fracasso dos legisladores em proteger seus próprios eleitores".
Mas agora algo pode mudar, pois a atual geração de estudantes não está mais disposta a assumir o papel de vítima. A melhor prova disso é o furioso discurso de Emma González, de 19 anos, uma sobrevivente do massacre. "Envergonhe-se", bradou ela ao presidente Donald Trump, acusando-o de proximidade com o lobby de armas de fogo NRA.
E ela anunciou: "Nós somos aqueles que, um dia, farão as leis". Sua fala se espalhou pelas redes sociais em horas. A página do Facebook Never again (Nunca mais) teve mais de 60 mil curtidas num curto espaço de tempo. Houve manifestações em várias escolas, e uma marcha foi convocada para Washington em 24 de março.
Eles são muitos. Eles estão furiosos. E eles estão determinados a acabar com a obsessão por armas nos EUA, com essa insanidade que diz que, quanto mais pessoas estiverem armadas até os dentes, maior a segurança. Esses estudantes sabem exatamente como propagar seus pontos de vista na internet. E têm um nome: Geração Columbine.
Quando Emma Gonzalez diz que eles são os jovens sobre quem um dia estará escrito, nos livros didáticos, que foram "a última geração dos massacres a tiros", isso certamente é prematuro. Mas eles poderão ser os primeiros a oferecer uma ampla resistência civil ao ditame da lógica das armas. E merecem agradecimento por isso.
Afinal, não está na hora – já passou da hora há muito tempo.
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