Um ano após independência
17 de fevereiro de 2009
O Kosovo está acostumado a ser o último da fila. Em meados dos anos 1990, quando outros países que integravam a antiga Iugoslávia já haviam conquistado há tempos sua independência, o Kosovo ainda estava em meio a um conflito congelado, sem perspectiva de solução. Quando a guerra do Kosovo eclodiu, dez anos atrás, a Bósnia-Herzegóvina já estava a caminho da reconstrução há quatro anos, a Croácia já tinha se tornado um novo mercado emergente e a Eslovênia até já havia iniciado negociações para ingresso na União Europeia.
A independência do Kosovo completa um ano agora, enquanto a maioria dos outros países que formavam a ex-Iugoslávia podem comemorar agora seu aniversário de 18 anos. A desagregação da Iugoslávia começou há 20 anos, e paradoxalmente justamente no Kosovo. Foram vinte anos perdidos. Nesse período cresceu uma geração, cuja formação foi deficitária. As escolas eram miseravelmente mal equipadas e não podiam competir com as exigências do mercado de trabalho moderno.
Nas universidades se formavam sobretudo cientistas sociais politicamente doutrinados. Mas o mercado de trabalho precisava de mão-de-obra qualificada. Após o fim da guerra, a estruturação do sistema educacional começou do zero. Hoje, o Kosovo é a sociedade demograficamente mais jovem da Europa, tendo ao mesmo tempo o mais baixo nível educacional. A maioria das pessoas qualificadas abandonou a região.
Não há tempo a se perder, sobretudo numa época de crise econômica global. Hesitou-se por tempo demais. As negociações sobre o status da região, sob mediação de Martti Ahtisaari e Wolfgang Ischinger, deixaram o Kosovo durante dois anos com fôlego suspenso – um período em que os políticos locais se distraíram com debates sobre a independência, hesitando em tratar dos problemas cotidianos. Após a declaração de independência, demorou quase um ano para a missão de Estado de direito da União Europeia, Eulex, estar pronta para atuar. Uma das razões foi o bloqueio do mandato da Eulex no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas isso também não deve servir de desculpa para a inércia.
Agora é hora de enfrentar com determinação as reformas necessárias em todos os âmbitos da sociedade kosovar e não se deixar paralisar pelos conflitos ainda existentes no norte do país. O Kosovo precisa de investimentos. Os investidores necessitam de segurança jurídica. Para tal, o sistema jurídico e os cadastros têm que se tornar transparentes e funcionar de forma confiável, pois a corrupção é um veneno para os investimentos. Um funcionarismo público politicamente independente é indispensável para isso.
As experiências de outros países do Leste Europeu mostraram que essas reformas podem durar décadas. Quanto mais responsabilidade se empurrar para os outros, mais tempo tudo vai demorar. A Bósnia é o exemplo mais evidente disso. O Kosovo deveria aprender com essas experiências e resistir à tentação de transferir sua responsabilidade para a comunidade internacional e com isso para a Eulex. A geração jovem do Kosovo é capaz e poderá mudar a situação.(sm)
Fabian Schmidt, editor da redação albanesa da DW-RADIO, é especialista em assuntos relativos à Albânia, Macedônia e Kosovo