Claro que a União Europeia (UE) tem opções para desafiar os Estados Unidos. Há um exemplo: Cuba. Há 22 anos, os Estados Unidos queriam botar esse pequeno país insular de joelhos por meio de sanções, já os europeus preferiam fazer negócios com os cubanos. Bruxelas chegou até mesmo a, no âmbito das assim chamadas blocking regulations, proibir empresas europeias de obedecer às sanções dos EUA.
A diferença em relação a hoje? Naquela época havia um presidente na Casa Branca, Bill Clinton, que era sensato e simpático aos europeus. Já hoje...
Além disso, a UE poderia proteger suas empresas das ameaças de sanções feitas por Washington ao compensar as desvantagens por elas geradas. Investimentos públicos ou ajuda pública a investimentos privados também são uma possibilidade. A UE dispõe, portanto, das ferramentas para adotar um curso de confrontação com Trump. E só assim se poderia convencer as empresas europeias a continuar fazendo negócios com um país que está na mira dos Estados Unidos da forma como o Irã está.
Tudo se resume, portanto, a saber se os chefes de Estado e de governo da UE estão de fato dispostos a entrar no ringue da disputa pelo Irã. Qualquer golpe calculado contra os Estados Unidos poderia levar a um rápido acirramento, com grandes prejuízos financeiros. Políticos cautelosos, como Angela Merkel, não estarão dispostos a ir tão longe. Na noite desta terça-feira (15/05), em Bruxelas, não havia nenhum sinal de que os europeus estejam dispostos a seguir por esse caminho.
Assim, os chefes de grandes empresas multinacionais, como a Siemens, estão diante da seguinte decisão: ou abandonam os negócios com o Irã ou os mantêm e despertam a ira dos americanos. É provável que os executivos prudentes prefiram a primeira opção, pois os negócios com os Estados Unidos são, para a maioria, mais importantes. Para a Siemens, por exemplo, os Estados Unidos são o maior mercado.
O dilema da União Europeia: ela precisa das empresas privadas para que haja investimentos no Irã, que os necessita com urgência. Mas ela não pode obrigar as empresas a fazer negócios com o Irã.
Restam os demais signatários do acordo nuclear, que poderiam tentar preencher a lacuna. Mas também aí há problemas. A Rússia, por exemplo, que insiste no estrito cumprimento do acordo, é na verdade, do ponto de vista econômico, um concorrente direto do Irã. Ambos fazem sobretudo negócios com a exportação de combustíveis fósseis. E a China provavelmente tem coisa melhor para fazer do que entrar em confrontação aberta com os Estados Unidos também nessa questão. No momento, os chineses estão tentando impedir uma guerra comercial com o governo de Trump. Diante disso, o acordo com o Irã tem menor prioridade.
O que resta, então, para os europeus? Tentativas tímidas de fazer com que algumas empresas façam negócios com o Irã, disponibilizar recursos públicos, tentar convencer os demais signatários a fazer o mesmo – tudo isso não vai, de fato, manter o acordo vivo. Já seria um sucesso se ele pudesse ser mantido numa espécie de coma até a próxima eleição nos Estados Unidos. O Irã certamente não obterá mais os estímulos econômicos aguardados. Com isso, o acordo depende sobretudo da boa vontade do regime iraniano de não reativar seu programa nuclear.
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