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Política ou negócios?

13 de março de 2010

Ótica apenas econômica de sua agenda na América do Sul provou que Guido Westerwelle subestima o subcontinente, diz Miriam Gehrke. Viagem foi marcada por acusações de que na delegação havia empresários amigos do ministro.

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Em que função, afinal, esteve Guido Westerwelle ao viajar pela América do Sul? Correto; oficialmente, como ministro das Relações Exteriores da República Federal da Alemanha. Nessa atribuição, ele apertou a mão de seus colegas de pasta no Chile, Argentina, Uruguai e Brasil, trocou cordialidades, sorriu para as câmeras, louvou exaltado os valores comuns como fundamento para as boas relações, e anunciou com grandiloquência que pretende fazer do estreitamento do contato com a América do Sul um foco de seu mandato. Pois – na constatação do ministro alemão – a América do Sul continua "sendo muito subestimada" na Europa.

Tudo isto não passa de uma enxurrada de frases prontas despejadas pela máquina de fórmulas diplomáticas. Há anos, a Alemanha não tem uma política concreta para a América Latina. Paralelamente à queda do Muro de Berlim e à reunificação alemã, há 20 anos terminava a era das ditaduras militares na América Latina. Após o retorno à democracia, a região foi arquivada com o carimbo "problema resolvido". O interesse em seus atuais desdobramentos políticos e sociais desapareceu.

A função de desenvolver as tão louvadas boas relações fica relegada aos representantes da economia alemã. E aqui entra novamente em cena o ministro do Exterior, o qual, em suas próprias palavras, se considera um "abridor de portas" para o empresariado nacional. Deste modo, é fácil compreender o aplauso dos empresários alemães quando seu mais alto advogado instou a Argentina a finalmente saldar suas dívidas junto ao Clube de Paris. Pois só assim os negócios com a Argentina poderão contar novamente com as garantias alemãs.

Está claro que os executivos alemães igualmente se alegraram diante da promessa de Westerwelle de ajudar o Brasil a expandir a energia nuclear; assim como diante das perspectivas de negócios bilionários no âmbito da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos no país. Pois, segundo o chefe da diplomacia, postos de trabalho na Alemanha dependem disso.

O ministro das Relações Exteriores ainda não compreendeu o seu cargo. Ele desperdiçou a oportunidade de debater abertamente com os brasileiros sobre as divergências quanto ao programa atômico do Irã; nem chegou a um posicionamento comum sobre a reforma do Conselho de Segurança Mundial. Direitos humanos, Estado de direito, proteção ao clima: todos estes são aparentemente conceitos estranhos para o ministro alemão do Exterior.

Nesta viagem, Westerwelle, na qualidade de presidente do Partido Liberal Democrático (FDP), cuidou dos interesses da clientela que sustenta seu partido com generosas doações. Assim, não é de surpreender o fato de a imprensa sul-americana mal ter registrado a passagem do ministro pela região. Fora clichês do discurso político, a Alemanha nada tem a oferecer à América Latina.

Em uma economia globalizada, os investimentos encontram seu caminho sem necessidade de qualquer flanqueamento político. O melhor exemplo disso é o avanço da China na América Latina. E a ótica exclusivamente econômica das conversas de Westerwelle provou que – também ele – subestima dramaticamente o subcontinente.

Autora: Miriam Gehrke (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer