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Moscou joga com o sofrimento dos ucranianos

Bernd Johann (av)12 de agosto de 2014

Kiev tem bons motivos para não confiar no comboio vindo da Rússia, cujo comportamento nos últimos meses tem sido traiçoeiro. Se o Kremlin quer mesmo ajudar, deveria aproximar-se de Kiev e da UE, opina Bernd Johann.

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Os habitantes dos territórios de conflito na Ucrânia precisam de ajuda: pão, água e medicamentos vão escasseando. Já que tudo indica que nenhuma das partes pretende dar fim à guerra, faz-se mais urgente do que nunca uma ação internacional coordenada de socorro, com a participação do maior número possível de países.

Bernd Johann
Bernd Johann, chefe da redação ucraniana da DW

Mas a Rússia se precipita. Por conta própria, colocou em marcha um comboio humanitário. E deixa tanto os demais países quanto o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) sem maiores esclarecimentos sobre suas intenções. A Ucrânia e o Ocidente temem uma possível intervenção russa no país, escondida sob uma operação de ajuda. Sua preocupação é justificada.

Infelizmente a experiência acumulada mostra o quanto procede essa desconfiança contra Moscou. Durante conflito, o Kremlin já tem ludibriado por vezes demais não só os ucranianos, mas também a comunidade internacional como um todo.

No início da crise, em março deste ano, o país afirmava que não havia militares seus na Crimeia. Pouco depois, anexava a península no Mar Negro. Até mesmo o presidente Vladimir Putin admitiu ter assumido o poder na Crimeia com o auxílio de militares russos.

Também no leste da Ucrânia, Moscou tem falado sempre de rebeldes separatistas locais que se revoltaram contra o governo de Kiev. No entanto, muitos combatentes e mesmo líderes dos grupos violentos vêm da Rússia – e não tentam ocultar esse fato. Suas armas e munição igualmente provêm do grande vizinho. Ele deixou passar pela fronteira comum até mesmo tanques, artilharia e mísseis – embora lá estivessem estacionados milhares de soldados russos que poderiam ter evitado a manobra.

Portanto não é de espantar que o procedimento russo desperte temores. Por isso a Ucrânia não quer deixar o comboio atravessar seus limites nacionais. Ela exige uma fiscalização internacional da ajuda, sob a égide de uma organização humanitária.

Também a União Europeia e outros países ocidentais advertem contra uma iniciativa solitária de Moscou. Bens humanitários são bem-vindos na Ucrânia, mas não uma frota de 300 caminhões da Rússia. Pois eles poderiam não só trazer víveres, mas também contrabandear reforços para os grupos separatistas na zona de crise.

Aos olhos dos ucranianos, Moscou é o instigador da guerra no leste de seu país. Certo é que, sem a interferência russa na Ucrânia, muito sofrimento teria sido poupado às pessoas da região. Se os russos quisessem realmente ajudar, bastaria deixarem de apoiar os grupos armados no leste ucraniano.

Mas, em vez disso, a Rússia faz um jogo pérfido com o auxílio humanitário. As verdadeiras intenções da manobra são obscuras. O Kremlin afirmou que a operação foi acordada com Kiev, que, por sua vez, desmentiu a afirmativa pouco mais tarde. Acredita-se que não houve qualquer arranjo com o CICV, que igualmente apresentou desmentido por seus porta-vozes. Assim, fica forçosamente a impressão de que o intuito de Moscou não seja levar ajuda rápida aos cidadãos em apuros, mas sim fazer uma encenação política.

A Alemanha e outras nações se empenham por um fim da violência no leste da Ucrânia. Elas querem ajudar os moradores da região. Se isso é o que a Rússia também quer, ela deveria expor abertamente as suas metas à Ucrânia, e sentar-se à mesa com Kiev e a UE. Em vez disso, contudo, a Rússia se esquiva de qualquer colaboração internacional na questão ucraniana – agora, aparentemente, até mesmo na ajuda humanitária.