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Muçulmanos, vocês também são a Alemanha!

Volker Wagener (av)9 de janeiro de 2015

Pegida não é Frente Nacional, e a islamofobia alemã não é tão pronunciada como na França. Mas muçulmanos também precisam agir para reverter as tendências discriminatórias, opina Volker Wagener, da redação alemã da DW.

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Volker Wagener, da redação alemã da DWFoto: DW

O atentado assassino em Paris atinge a Alemanha no momento mais inadequado possível. A partir de Dresden se alastra uma islamofobia difusa, infelizmente de tons inegavelmente simplistas, até mesmo racistas. Justamente os espíritos simplórios do movimento Pegida se sentem agora que sua irracional e generalizada crítica ao islamismo é justificada.

Não há dúvida: algo está por vindo na direção da Alemanha. E vai afetar a política, as municipalidades, os professores, os jornalistas e todos aqueles que ocupam cargos públicos ou simplesmente tentam intervir quando um clima alarmista toma conta da comunidade.

Sem dúvida, a Alemanha, enquanto Estado e sociedade, está mais sólida que seu vizinho francês. Falta-lhe um passado colonial no mundo islâmico, como o da "Grand Nation"; sua economia está mais estável, o desemprego é menor e a problemática dos subúrbios não é tão dramática em Berlim, Frankfurt ou Munique quanto nos banlieues de Paris e Marselha.

E enquanto a antiga grande França se exaure, há anos, numa crise de identidade, os alemães conseguem, praticamente no mesmo lapso de tempo, desenvolver uma autoimagem mais positiva. Resumindo: a França está literalmente malade, da cabeça e do corpo; a Alemanha sofre de um ligeiro achaque chamado Pegida.

Uma comparação entre a Frente Nacional (FN) e o movimento Pegida (sigla alemã para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente") já torna a diferença óbvia. Na França, a xenófoba FN é um partido de pleno direito, com 25% do eleitorado nacional e, portanto, em pé de igualdade com o velho Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha.

Os "europeus patriotas" da Saxônia são, comparativamente, um breve instantâneo da vida na província. Eles não constituem – felizmente – um partido, não sendo, portanto, legitimados pela sociedade.

Ainda assim, vale a antiga fórmula: quando na França, Reino Unido ou Itália legendas de extrema direita ocupam o parlamento com 10% ou mais dos votos, isso não é, nem de longe, tão alarmante para as sociedades locais quanto fragmentárias organizações xenófobas no centro da Alemanha.

Haverá uma outra explicação para o fato de, há semanas, os grandes meios de comunicação em Paris e Londres se interessarem tanto por tão pouco de Pegida? A história continua a projetar sombras.

A última coisa de que a Alemanha precisa é o fatal atentado contra os jornalistas do Charlie Hebdo servir de justificativa para os que são incapazes de reconhecer a gritante diferença entre terroristas contaminados pelo "Estado Islâmico" e nossos vizinhos turcos. Nesse ponto, é preciso um grande trabalho de paisagismo político-social – para começar, por parte dos partidos que representam a maioria.

Mas também aos 4 milhões de muçulmanos na Alemanha cabe responsabilidade pela paz cultural do país. De acordo com uma enquete da Fundação Bertelsmann, 90% dos muçulmanos com passaporte alemão consideram a democracia uma boa forma de governo. Entretanto, no dia a dia, pouco se percebe, da parte deles, um segundo patriotismo pelo país onde moram, trabalham e enviam seus filhos para a escola.

Nesse ponto, os imigrantes dos Estados Unidos continuam manifestando mais identificação com sua segunda pátria. Decerto a disposição dos alemães a acolher e integrar não tem a mesma qualidade da que demonstra a América do Norte, como clássica nação de imigrantes. No entanto, a eterna alusão a uma islamofobia latente ou a uma rejeição generalizada aos estrangeiros na Alemanha tampouco é vantajosa para os muçulmanos alemães, a longo prazo.

Um sinal convincente relativo que partiu do atentado em Paris é a convocação das associações islâmicas para que se vá às ruas. Seria, por assim dizer, um contramovimento às passeatas do Pegida e um gesto genuíno de solidariedade; uma demonstração de afinidade com a Alemanha e sua ordem constitucional.

E isso é bem no espírito de John F. Kennedy, que ao ser empossado presidente dos EUA em 1961, urgiu os americanos a não perguntarem o que o Estado podia fazer por eles, mais sim o que eles podiam fazer pelo país.