Opinião: Nada para celebrar no aniversário do Sudão do Sul
Fome. Colera. Guerra. O dia não é de festas para o Sudão do Sul. Mesmo se os políticos da nação africana retomarem a grande retórica no quarto aniversário de independência do país, nesta quinta-feira (09/07), e não se cansarem de elogiar os antigos rebeldes que morreram na luta pela independência e de prometer um futuro melhor para todos.
Belas palavras – elas são um soco no rosto de todas as pessoas que vivem nas regiões hoje abaladas pela guerra civil. E que não sabem se vão morrer na guerra ou de fome. É um soco no rosto das mães de 250 mil crianças que atualmente correm o risco de morrer de inanição. É um soco no rosto de todos aqueles membros da Igreja e da sociedade civil, que trabalham para resolver o conflito sangrento no Sudão do Sul.
Em retrospectiva: em 2005 terminou a guerra civil entre os rebeldes do Exército Popular de Libertação do Sudão (SPLA) e o governo em Cartum. Em 2011, o sonho dos sudaneses do sul se tornou realidade: o Sudão do Sul se separou do Sudão e se tornou independente.
Mesmo que muitas pessoas estejam contentes com um Estado próprio: não há razão para celebrar. Com a atual guerra civil, o governo em torno do presidente Salva Kiir e os rebeldes liderados pelo seu antigo vice, Riek Machar, estão destruindo todos os progressos alcançados desde o fim da guerra, em 2005. Nunca um número tão grande de crianças havia ido para a escola. Muitas pessoas foram capazes de ganhar o próprio sustento. Estradas foram abertas. Para as pessoas nas províncias afetadas pelos combates, isso tudo soa hoje como um sonho de outra época.
No entanto, Kiir e Machar não colocarão o bem de seu próprio povo à frente de seu egoísmo. É quase impossível contar quantas negociações fracassaram entre os dois. Enquanto isso, eles arrastam os seus exércitos saqueadores por todo o país. De acordo com um relatório da Missão da ONU no Sudão do Sul, soldados do governo teriam violentado, matado e até mesmo queimado vivas mulheres e crianças.
Nesse quarto aniversário, os países estrangeiros também deveriam se abster de enviar mensagens de advertência para as partes em conflito. Depois do fim da guerra civil com o norte, toda ONG de algum renome se instalou na região. A comunidade internacional queria demonstrar que pode construir um Estado. Os sudaneses foram relegados ao papel de figurantes.
Bilhões em ajuda de desenvolvimento se perderam no Sudão do Sul. Os doadores ignoraram amplamente que esse dinheiro servia para impulsionar estruturas corruptas e que os políticos continuaram a não ter que assumir nenhuma responsabilidade por seu país.
Agora, os líderes na Europa e nos EUA não conseguem pensar em mais nenhuma solução. Ora é o presidente do Quênia quem deve servir de mediador no conflito, ora é o primeiro-ministro etíope. Para iniciar um diálogo realmente sensato entre os dois lados, para aumentar finalmente a pressão sobre as partes conflitantes – para isso, o Ocidente não tem tempo. O mundo agora está preocupado com a Grécia ou com o Oriente Médio.