Sim, há motivos para ter medo. O novo coronavírus (2019-nCoV) aparentemente se alastra com extrema velocidade, e também o número de mortes vai aumentando. As medidas drásticas do governo chinês, colocando 43 milhões de cidadãos sob quarentena, são certamente eficazes para conter o alastramento do vírus.
E se realmente se conseguir manter a população da província de Hubei e de outros territórios afetados basicamente de castigo em casa, talvez o surto entre em colapso ainda mais rápido do que se pensava.
Entretanto, com o vírus é como com a cotação da bolsa de valores: quem decide sobre sua força e atividade é menos a realidade e a razão serena, do que a expectativa emocional. Assim, a máscara antigermes se transformou no símbolo dessa expectativa: quem a porta, mostra que já foi infectado por ela.
Claro está que os passos decididos de Pequim mostram efeito duradouro, em nível mundial. Pois o medo do nCoV se alastra mais rápido do que o próprio vírus.
Talvez se deva primeiro respirar fundo – sem máscara – e considerar a situação para além do noticiário atual. Por muito tempo os coronavírus eram considerados normais e relativamente inofensivos causadores dos resfriados com que se é regularmente confrontado.
Mas os vírus são mutáveis, podendo assumir formas perigosas, como se demonstrou por diversas vezes no século 20. A eclosão das pestes da Sars e Mers, transmitidas por animais, também mudou a imagem pública do coronavírus.
Essas duas variantes virais eram, de fato, extremamente perigosas. No caso da Sars, morreu um de cada dez infectados tratados em hospitais. Com a Mers, os números foram ainda mais dramáticos: um terço dos que procuraram tratamento foi vítima do patógeno transmitido por camelos.
Mais tarde, contudo, veio à tona que na Península Arábica era muito maior o número dos que se contaminaram com a Mers sem jamais desenvolver sintomas fortes. E o caso do nCoV poderá ser semelhante. De fato, o número dos pacientes tratados e também das mortes cresceu dramaticamente nos últimos dias. Mas isso se deve, acima de tudo, ao fato de o surto estar em plena fase de alastramento.
Como ocorre com toda epidemia, mais cedo ou mais tarde vai ocorrer um colapso, pois os infectados desenvolvem imunidade e a peste cai no vazio. E desde já o nCoV poderá se provar ainda menos perigoso: segundo os números oficiais, morre um em cada 40 infectados, muito menos que em consequência da Sars ou Mers.
Por outro lado, isso não leva em consideração que muitos enfermos em Wuhan ou outros territórios chineses atingidos simplesmente ficam em casa para sarar, até porque não há medicamentos eficazes contra o vírus. É provável que os hospitalizados por um decorrer especialmente grave da doença sejam apenas a ponta do iceberg. E todos os demais ficam simplesmente fora das estatísticas.
Se esses fossem incluídos nos cálculos, é possível que no fim se constatasse que o nCoV não é muito mais perigoso do que uma gripe comum, que atravessa a cada ano o globo, em rito sazonal, e que, dependendo da variante, sempre faz milhares, ou mesmo dezenas de milhares, de vítimas humanas. E justamente agora a gripe grassa mais uma vez no Hemisfério Norte.
Exatamente por isso, talvez se devesse pensar primeiro na gripe e menos no nCoV, ao lavar cuidadosamente as mãos após uma viagem de ônibus ou trem, ou depois de manusear maçanetas ou corrimões em edifícios públicos. E a máscara antigermes? Pode tranquilamente ficar de fora.
Ah, antes que esqueça: você já foi se vacinar?
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