Quando se pensava que a mais bizarra campanha presidencial americana da história recente não poderia ficar mais estranha, a disputa entre Donald Trump e Hillary Clinton teve mais uma inesperada reviravolta, desta vez a apenas 11 dias das eleições.
Veio através de uma carta enviada aos líderes no Congresso pelo diretor do FBI (a polícia federal americana), James Comey, na sexta-feira (28/10). Em 169 palavras, ele escreveu que a agência descobriu e-mails adicionais "que parecem pertinentes" à investigação sobre os e-mails privados de Hillary.
Ao fim do texto, Comey alertou que não poderia estimar o tempo necessário para a análise dos e-mails, nem garantir se o novo material é significante ou não. O anúncio do FBI foi seguido por uma série de declarações de fontes anônimas sobre potenciais origens e conteúdo das mensagens.
Liderados por Trump, atualmente em clara desvantagem nas pesquisas de opinião, os republicanos tentam capitalizar a polêmica, enquanto os democratas preferem minimizá-la. Mas, independentemente dos argumentos de ambos os lados, o eleitor só tem, de concreto, as declarações do FBI para avaliar.
E isso simplesmente não é o bastante, a menos de duas semanas de uma campanha eleitoral que dividiu os americanos de tal forma que era inimaginável antes do início da corrida, mesmo para os observadores mais cínicos.
A nova investigação do FBI fez o que muitos achavam impossível – deixou a disputa novamente em aberto. A descoberta dos e-mails pode levar a uma investigação criminal e se tornar um fator decisivo na corrida à Casa Branca, ou ser arquivada, como aconteceu anteriormente.
Cabe ao responsável pela abertura dessa investigação adicional, num momento crítico para os americanos, explicar publicamente sua decisão e resolver a questão, de uma forma ou de outra, ainda antes da eleição.
O diretor do FBI deveria saber que seu comunicado vago, de 169 palavras, não está de acordo com um assunto dessa gravidade. O povo americano merece mais e não deveria ser deixado num limbo em relação a isso.
O jornalista Michael Knigge é correspondente da DW em Washington.