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Movimento alemão Pegida está se destruindo

Felix Steiner (av)29 de janeiro de 2015

Com a renúncia da liderança, o fim do movimento é previsível, mas os temas levantados por ele permanecem. Resta saber quem agora vai se ocupar desses assuntos, comenta o articulista Felix Steiner.

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Felix Steiner, articulista da DWFoto: DW/M.Müller

Às vezes é possível se tornar vítima do próprio sucesso. Isso acontece com especial frequência na fase de fundação de partidos e movimentos políticos. Quando um grupo encontra ressonância ampla, também passa a atrair magicamente os resmungões de sempre, os eternos frustrados e pirados, que – com suas ideias malucas e interesses particulares, em geral excêntricos – põem à prova a tolerância do grupo.

O resultado são intermináveis lutas de alas e os nervos à flor da pele de uma liderança que, além de politicamente inexperiente, ainda costuma ter que lutar paralelamente por seu pão de cada dia. E que, nesse momento, muitas vezes joga tudo para o alto.

As brigas internas constantes irritam o público, o grupo perde respaldo e, em algum ponto, sucumbe ao esquecimento.

Recentemente, esse foi o destino do Statt Partei (Partido do "Em Vez De") e do Partido Pirata na Alemanha. Na prática, ambos acabaram consigo mesmos. E ainda cabe constatar se o eurocético Alternativa para a Alemanha (AfD) será mais do que um fenômeno passageiro.

Nas próximas semanas, o processo será bem semelhante para o Pegida (sigla para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente"). É claro que ainda se realizarão passeatas em Dresden, mas virá bem menos gente. Os meios de comunicação tampouco cobrirão o acontecimento de forma tão intensiva, o que resultará em ainda menos participantes da próxima vez. O Pegida vai se apagar.

E um dia somente estudiosos da história contemporânea vão se interessar em saber o que aconteceu com o Pegida, e em que sequência. Ele terá sido um movimento civil que cresceu rápida e intensamente e foi sequestrado por notórios radicais de direita? Ou, ao contrário, tratava-se de um grupo de notórios extremistas que conseguiu formular um "termo de intenções" compatível com o grande público – de modo a atrair, para os assim chamados "passeios" em Dresden, milhares de cidadãos que ficariam indignados de serem chamados de radicais de direita?

Na maioria das redações e também entre a classe política da Alemanha, as notícias desta quinta-feira (29/01), sobre a renúncia da liderança do Pegida, devem ter provocado alívio. Nesses meios, o movimento vinha provocando no mínimo perplexidade, em muitos casos até mesmo hostilidade aberta e polêmica desdenhosa – fato que não é motivo de orgulho para a Alemanha, pois a característica de uma democracia viva é convencer, não marginalizar!

Mas mesmo que, em breve, as passeatas tenham fim, as questões levantadas pelos manifestantes permanecem.

Por exemplo, como lidar com muçulmanos radicais na sociedade alemã; ou com o perigo de que eles se tornem terroristas por um – para nós incompreensível – ódio à nossa liberdade e tolerância social; ou com a seguinte questão: por que casamentos forçados e "assassinatos de honra", que também existem na Alemanha, muitas vezes não são chamados por esses nomes pela mídia – a proibição de discriminação pelo código de ética da imprensa alemã dá aqui o seu alô. A acusação generalizada de "imprensa da mentira" tem sua origem justamente nessa situação.

Outra questão: não seria melhor abrigar refugiados e requerentes de asilo em residências em vez de abrigos coletivos, dado que cinco forasteiros na vizinhança causam menos apreensão do que 50 ou até 500. Mas onde se discutem tais questões na Alemanha? Infelizmente, não nas sedes regionais de partidos estabelecidos, como a União Democrata Cristã (CDU) ou o Partido Social-Democrata (SPD).

Portanto a questão decisiva permanece: quem se ocupa dos adeptos do Pegida? A recente visita do líder do SPD, Sigmar Gabriel, a Dresden foi um sinal importante, mas será que seu partido vai seguir o exemplo?

Na CDU, a vice-chefe de partido Julia Klöckner deu um passo à frente ao pleitear compreensão pelos adeptos do Pegida – e logo foi acusada por vários veículos de imprensa de simpatia pelos nazistas. Como Klöckner quer ganhar as eleições do próximo ano na Renânia-Palatinado, ela logo vai parar com tais iniciativas.

Sobra o Alternativa para a Alemanha (AfD), que neste fim de semana se reúne em convenção partidária em Hamburgo. Na ocasião vai se definir melhor a direção a ser tomada por essa legenda relativamente jovem, que quase conseguiu entrar para o parlamento federal em 2014.

A questão central é: pode haver na Alemanha um partido à direita da CDU de Merkel que não seja logo marginalizado politicamente por estar além do espectro democrático? Caso positivo, os alarmes da chefe de governo deveriam soar. Pois, excetuada a coalizão com o SPD, ela não teria perspectivas de uma opção de aliança com chances de obter maioria parlamentar. E essa não pode ser a vontade de Merkel.

Seria uma falácia pensar que os problemas levantados pelo Pegida se resolveram por si sós. Justamente agora que o movimento está se despedaçando, essas questões precisam ser debatidas também nos chamados partidos das massas. Do contrário, eles não merecem essa alcunha.