"O Velho Mundo do século 20 já é, definitivamente, passado": o ministro do Exterior e futuro presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, não é alguém que deixaria escapar tal frase irrefletidamente – mesmo assim, ele foi direto ao ponto. E justamente Marine Le Pen, líder da legenda francesa Frente Nacional, lhe dá razão: "Estamos testemunhando o fim de um mundo e o nascimento de um novo", disse ela, a 800 populistas de direita reunidos em Koblenz, oeste da Alemanha, no último sábado (21/01).
Lamentar pouco ajuda, reclamar não resolve nenhum problema. O Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), é uma realidade, assim como Trump. Uma metamorfose política no mundo ocidental está em andamento. O populismo está em alta. Nada vai continuar como (ainda) é. Em breve, haverá eleições em países centrais: na França, na Holanda, na Alemanha.
Enquanto isso, os EUA se despedem do papel de protetor da ordem mundial. Na Síria, eles já abandonaram o campo em prol de Putin. E, cada vez mais, Washington se concentra em Israel. A transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém Ocidental – uma promessa de campanha – não implica nenhuma decisão organizacional, mas uma declaração política. E daquelas: uma mudança equivaleria ao reconhecimento, de fato, de Jerusalém como a única capital de Israel. Algo tão pouco perigoso como uma procissão de velas através de um posto de gasolina.
E o novo presidente americano não precisa nem se preocupar com a Europa: isso já está sendo feito pelas Petrys, Le Pens e Wilders da vida – seus parentes espirituais em formato de bolso, respectivamente, na Alemanha, França e Holanda. Voltados egoisticamente para si, o objetivo dos populistas de direita europeus são megalomaníacos Estados nacionais e uma cópia da atitude de Trump: "America first". Não é de admirar que a premiê britânica, Teresa May, tenha sido a primeira política do Velho Continente a cumprimentar o novo presidente americano. Para Trump e para todos os populistas europeus, a saída dos britânicos da UE é um prato cheio para espalhar a sua malícia frente a todas as alianças supranacionais.
É como se quase todas as lições aprendidas pelo mundo ocidental depois da Segunda Guerra Mundial fossem expostas ao ridículo: política de alianças, princípio da solidariedade, ajuda econômica. O Brexit mobilizou os eurocéticos – os demais ficaram em casa, segundo o lema: vai ser possível evitar a saída da UE, mesmo sem meu voto. Trump se beneficiou do sistema de delegados no colégio eleitoral, que em votos absolutos representam menos da metade dos americanos.
E as legendas populistas de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e Frente Nacional ainda são, atualmente, oposição. O que torna perigosos a guinada da política para a direita, a correção dos padrões de valores e o clima social nos EUA e na Europa é o ódio subliminar dos populistas contra o Estado, a democracia, as elites sociais, a existente multinacionalidade e os meios de comunicação.
Mas o último fim de semana também reflete – de Washington, passando por Nova York, Boston, Sydney, Londres, Paris e também Koblenz – outra realidade: as manifestações, os protestos em massa contra mentalidades pueris, visões de mundo simplistas e incitadores repugnantes. Se o destino da democracia é ser mais que uma palavra acadêmica na sala de aula, então ela tem que provar agora a sua força. Por todas as partes: nos Parlamentos, nos meios de comunicação, nas ruas.