O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, não chegou a seu país como partiu – incógnito, a partir de algum ponto na fronteira verde. Não, ele aterrissou no aeroporto internacional de Caracas, passou sem ser molestado pelos controles e foi recebido por numerosos adeptos. Quase como um presidente de verdade.
Mas a presença de vários embaixadores, também da Alemanha, sinalizava que sua presidência interina está longe de garantida. Guaidó precisa da atenção internacional, ela é seu seguro de vida.
O chefe de Estado Nicolás Maduro anunciara que o oposicionista seria preso, por sair do país de forma ilegal e conclamar à rebelião. Também suas questões de patrimônio estão sendo investigadas. Maduro sempre encontrou algum jeito ou de trancafiar seus opositores políticos, ou senão de impedir que participassem das eleições. A Justiça e, afinal, a parte decisiva das Forças Armadas permanecem aparentemente inabaláveis em seu apoio ao regime chavista.
O fato de, apesar disso, Guaidó ter podido seguir alegremente para a cidade e anunciar novas manifestações a milhares de seguidores eufóricos é, de início, apenas um sinal de que Maduro aguarda. Os governos que apoiam o presidente interino – sobretudo os Estados Unidos, mas também a União Europeia – deixaram bastante claro que detê-lo teria consequências. Quais estas seriam, permanece em aberto.
Uma intervenção militar americana ainda não foi descartada, mas parece antes improvável. Em vez de unir o país, ela prejudicaria a oposição no longo prazo e é também rechaçada pelas nações vizinhas que apoiam Guaidó. Já agora, cada ameaça dos EUA é, para os chavistas e seus apoiadores restantes, mais uma prova da necessidade defender-se de uma invasão imperialista. Cuba manteve-se durante décadas com essa argumentação – e também graças à ajuda russa e venezuelana.
Seria igualmente difícil apertar as sanções sem afetar ainda mais gravemente a população. Com as medidas contra a indústria petroleira os EUA já empregaram sua arma mais afiada, agora, a rigor, só restaria impor mais sanções contra indivíduos.
Nesse jogo de tempo, o decisivo é quanto tempo o regime chavista conseguirá manter o fôlego em meio ao faturamento minguante com o petróleo, e se o carisma de Juan Guaidó bastará para que seus seguidores aguentem por todo esse tempo.
Mas o jogo tem outros participantes: a China e, principalmente, a Rússia mantêm o governo Maduro vivo. O fato de o presidente em exercício deixar seu adversário até agora incólume indica que ambos os países não estão interessados numa confrontação internacional.
Russos e chineses poderiam desempenhar um papel decisivo em dar fim a essa guerra de nervos, através de um diálogo real entre as forças governamentais e a oposição. Para tal, contudo, teriam que se desligar de Maduro, pois até agora ele se aproveitou de todo tipo de negociações só para consolidar ainda mais o próprio poder. A oposição se recusa categoricamente a sentar-se mais uma vez à mesa com ele. Se Guaidó abandonasse esse posicionamento, o apoio com que conta estaria em risco.
No fim das contas, só os venezuelanos podem decidir sobre seu próprio futuro. Porém sem ajuda internacional não será possível encontrar nem uma saída da crise permanente, nem enfrentar a tarefa, que se colocará em algum momento, de guiar o país de volta a algo parecido com sua antiga prosperidade.
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