"É simplesmente ridículo dizer que a Rússia é uma ameaça militar para os países-membros da Otan", afirmou o presidente Vladimir Putin nesta quinta-feira (27/10) em Sochi. Há nem tanto tempo assim até alguns críticos dele concordariam com isso – simplesmente porque a ideia parecia inconcebível.
Mas, nos últimos dois anos, a liderança russa fez muitas coisas que nem os mais pessimistas poderiam imaginar. Quando Putin diz, dois anos e meio após a anexação da Crimeia e o início da guerra no leste da Ucrânia, que "a Rússia não tem a intenção de atacar ninguém", ele logo desperta lembranças de Walter Ulbricht. O líder do partido do regime da Alemanha Oriental afirmou, pouco antes da construção do Muro de Berlim, em 1961, que ninguém tinha a intenção de construir um muro.
Isso não significa que haja um risco imediato. Mas como Putin hoje é tão confiável quanto Ulbricht era então, a Otan é obrigada a considerar possibilidades que preferiria descartar. Por isso é correto que a Aliança Atlântica comece a implementar o estacionamento de tropas multinacionais nos Estados bálticos e na Polônia, decidido na cúpula de julho, logo após a reunião dos seus ministros da Defesa no meio da semana. A presença delas já basta para reduzir o risco de que algo realmente aconteça.
Se a Otan não fizesse nada, isso poderia levar algum linha-dura no Kremlin a ficar tentado a testar se a aliança realmente ajudaria seus membros no Leste Europeu. Mas, assim, essa questão está esclarecida, pois cada faísca nos países bálticos ou na Polônia seria automaticamente um conflito com uma das principais nações da Aliança. Se Putin for um político que age racionalmente, então a Rússia não ameaçará nenhum desses países militarmente.
Simultaneamente, com essa demonstração de disposição para a defesa, a Otan envia a Moscou o sinal de que ainda está interessada num diálogo. Isso também está correto e é importante. Não se deve esperar grandes resultados , mas o diálogo é como as sanções que foram impostas à Rússia por causa da anexação da Crimeia e da guerra na Ucrânia: mesmo quando é pouca a esperança de que a liderança russa seja levada a abrir mão de sua política de agressão, pelo menos é necessário tentar.