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Opinião: pseudoeleições no leste da Ucrânia

Bernd Johann (md)3 de novembro de 2014

Os separatistas pró-russos encenaram uma farsa no leste ucraniano, na qual os cidadãos não tiveram escolha. O processo de paz de Minsk está sendo jogado no lixo, opina Bernd Johann, chefe da redação ucraniana da DW.

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Foto: AFP/Getty Images

A população foi intimidada e está com medo devido à guerra. Só por isso, a eleição não seria válida. Era assim que os líderes auto-proclamados das "repúblicas populares" de Donetsk e Lugansk julgavam até uma semana atrás as internacionalmente reconhecidas eleições parlamentares da Ucrânia. De forma cínica e hipócrita, as mesmas pessoas agora organizam suas próprias eleições – no meio de uma zona de guerra, com uma Kalashnikov na mão e com o apoio de Moscou.

Foram pseudoeleições à moda separatista. Os vencedores já estavam decididos de antemão. Os partidos e candidatos pró-ucranianos não foram admitidos nas chamadas eleições presidenciais e parlamentares. Em Donetsk, sequer os comunistas pró-russos puderam se candidatar. Até então, o partido tinha lá um de seus redutos. Na região de Donetsk apenas duas agremiações participaram: a "República Donetsk" e o "Donbass Livre", ambas com o objetivo de declarar independência da Ucrânia. E eles agora fortalecem seu curso intransigente, assim como os grupos separatistas em Lugansk.

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Bernd Johann, chefe da redação ucraniana da DWFoto: DW/P. Henriksen

Aparência de legitimidade

Os habitantes das duas regiões orientais da Ucrânia não tiveram escolha real. Não houve uma competição política. Os separatistas competiram entre si. Com o apoio russo, essas pessoas quase tomaram o poder há alguns meses, de um dia para o outro. Com pleitos controversos, querem agora dar uma aparência de legitimidade às suas ações. Mas, na verdade, estas eleições foram uma farsa.

Centenas de milhares de pessoas não puderam votar. Elas foram expulsas ou fugiram dos combates. Por esta razão, o resultado da eleição não reflete a situação política na região. Não havia listas eleitorais válidas, o que facilitou votações múltiplas. Outra oportunidade para manipulação foi a votação pela internet, que também não pôde ser verificada.

Medo, intimidação e incerteza

Muitos cidadãos que ficaram em Donetsk e Lugansk realmente depositam esperanças nos separatistas. Que outra escolha eles têm, se não querem ou não podem ir embora? E alguns só foram às urnas porque alimentos foram distribuídos nos locais de votação. A maioria das pessoas na região, entretanto, vive em um clima de medo, intimidação e incerteza. Professores e médicos, assim como todos os outros funcionários do Estado tiveram que assegurar lealdade aos novos governantes, se quisessem continuar a receber seus salários. E quem não foi votar deve sofrer consequências pessoais e profissionais, como os separatistas deixaram bem claro antes da controversa votação.

Internacionalmente as eleições foram condenadas. Mas isso não muda nada, pois os separatistas têm apoio da Rússia. O Kremlin já tinha lhes dado um cheque em branco para essas eleições armadas. Mas com isso Moscou e os líderes das "repúblicas populares" colocam em perigo o processo de paz. Pois a eleição viola o Acordo de Minsk, que o separatistas assinaram há dois meses na capital de Belarus, juntamente com representantes do governo de Kiev, com presença de representantes da Rússia e da União Europeia.

No contexto de uma descentralização, as eleições locais na região deveriam ocorrer sob lei ucraniana. Mas agora isso provavelmente não vai mais dar em nada.

Nem os separatistas, nem a Rússia respeitam os acordos. Em vez disso, a separação de partes do leste da Ucrânia deve ser selada. Assim o processo de paz de Minsk vai parar, em grande parte, no lixo. Novas fronteiras são desenhadas na Europa - pela força das armas e com a ajuda de pseudoeleições.