Cinco dias após a resolução da ONU contra a construção de assentamentos israelenses em território palestino, o debate continua em Jerusalém e Tel Aviv: como é possível que o Conselho de Segurança da ONU condene, pela primeira vez desde 1979, a política de assentamentos de Israel por meio de uma resolução e ainda apele para a suspensão imediata dos assentamentos de Israel na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Estes, segundo a resolução, não têm base legal e colocam em perigo a implementação de uma solução de dois Estados.
Em Israel, o debate sobre a resolução transcorre de forma extremamente autocrítica. "Se a construção de assentamentos não fosse acelerada, se não tivéssemos ouvido esta retórica militante do atual governo, os EUA teriam adotado uma postura diferente", afirmou o vice-conselheiro de segurança nacional, Ben Rhodes.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu leva Israel ao precipício com sua política, acusou o jornal liberal de esquerda Haaretz. Em resposta à resolução, a administração local de Jerusalém cancelou uma votação sobre a construção de centenas de novas casas de colonos em Jerusalém Oriental, uma região palestina. De acordo com informações de agência de notícias, devido a pressão de Netanyahu.
A política de assentamentos é problemática. Sua base jurídica é controversa: Israel acredita ser justificada, a ONU vê isso de forma diferente. E quem já esteve na Cisjordânia fica com uma impressão bem forte do que a política de ocupação significa para os palestinos. É óbvio que essa política não pode ser permanente. E os colonos fundamentalistas não devem, assim como os fundamentalistas do Hamas e do Fatah, serem vistos como os representantes mais simpáticos de um dos lados.
Mesmo assim, a resolução incomoda quando se vê quais países a apoiaram. Quem a propôs foi justamente o Egito (embora a tenha retirado logo depois): um Estado que há anos se destaca por violações significativas dos direitos humanos, que tranca em suas prisões oposicionistas e jornalistas e muitos outros cuja posição não agrada aos governantes, e onde se impõe penas de morte em julgamentos em massa.
Também implementam uma política pelo menos questionável, segundo a Anistia Internacional, outros Estados signatários: a Venezuela, sob o presidente Nicolás Maduro, dá tratamento truculento aos opositores políticos. O governo do Senegal limita a liberdade de reunião e não vê nada demais em prender pessoas por causa de sua orientação sexual; a Malásia desrespeita o direito à liberdade de expressão e outros direitos civis e políticos.
Também incomoda a indignação com Israel que alguns dos membros permanentes do Conselho de Segurança expressam: a Rússia e a China. Trata-se de duas candidatas de peso quando o assunto é violação dos direitos humanos. A Rússia lança suas bombas há meses sobre os civis sírios – predominantemente sobre sunitas, membros da mesma confissão que Moscou se propõe a proteger na Palestina.
Com tais representantes a bordo, a resolução da ONU tem, no mínimo, um problema de credibilidade – ainda mais depois de outra organização das Nações Unidas, a Unesco, classificar indiretamente o Monte do Templo em Jerusalém, neste mês de outubro, como um local exclusivamente muçulmano. Num documento da instituição, o lugar é referenciado como "Mesquita de Al-Aqsa / Haram al-Sharif e área circundante". Isso inclui o Muro das Lamentações, onde todos os dias centenas de judeus rezam. Atrever-se a contemplar apenas o lado muçulmano numa questão como essa beira o antissemitismo. Não dá para descartar que esse limite tenha sido ultrapassado.
A situação não melhora com o fato de a resolução ter sido encaminhada exclusivamente por Estados árabes – incluindo Argélia, Líbano, Sudão e Egito. Os três primeiros até hoje não reconheceram Israel. Não seria algo para se desconfiar?
A crítica à política de assentamentos de Israel é legítima desde que ela se afaste de forma clara do antissemitismo e de outros motivos impróprios – como desviar a atenção de questões domésticas ou o rancor mais grosseiro. Credível e aceitável ela só se torna quando se distancia daqueles cujas próprias ações levam quase que automaticamente à conclusão de que perseguem objetivos muito diferentes do que os nobres pronunciamentos sugerem. Nem todos aqueles que aparentemente reivindicam a mesma coisa são irmãos em espírito. Por isso, é necessário cuidado na escolha das parcerias.