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Opinião: Trump e os neonazistas

Ines Pohl
Ines Pohl
22 de novembro de 2016

O futuro presidente e seus aliados nacionalistas de direita vão usar imigrantes e muçulmanos como bodes expiatórios para justificar seu fracasso. A paz social está ameaçada nos EUA, opina a jornalista Ines Pohl.

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DW Mitarbeiterin Ines Pohl
Ines Pohl é correspondente da DW em WashingtonFoto: DW

Durante toda a campanha eleitoral, organizações de direitos humanos, grupos que lutam pelos direitos dos imigrantes sem documentos, advertiram que os discursos de ódio de Donald Trump poderiam levar o país a uma guerra civil.

Agora Trump ganhou. E a luta está aberta. Alguns de seus seguidores comemoram com a saudação de Hitler nas redes sociais e lutam abertamente pela limpeza étnica. Grupos como o National Policy Institute (NPI) convidam, confiantes na vitória, para uma entrevista coletiva, para divulgar suas ideologias a poucos quarteirões da Casa Branca.

Com cabelo raspado e penteado no estilo de Hitler e com um largo sorriso no rosto, eles explicam que é hora de os brancos finalmente obterem de volta o que é deles. Ou seja, a soberania sobre seu próprio país, os Estados Unidos, que, afinal, argumentam, foi fundado pelos europeus.

Eles falam abertamente que sua identidade branca está ameaçada por uma sociedade multicultural. Eles afirmam que o politicamente correto e a imprensa mentirosa são responsáveis ​​por assegurar que as minorias tenham mais a dizer do que a raça branca. Eles exigem, em alto e bom som, que todos os muçulmanos sejam monitorados e que sejam criadas regiões nos EUA, onde apenas os brancos tenham permissão para viver.

A aprovação nas mídias sociais é imensa, o número de visitantes dos portais online explode. A turba está solta. Isto é extremamente perigoso para a paz social no país. Em todos os lados do espectro político, crescem as preocupações de que os protestos até agora pacíficos, em grande parte, se transformem em batalhas de rua. Ódio gera ódio. E cada vez mais pessoas têm medo de que as suas vidas e as de suas famílias estejam ameaçadas. E elas estão dispostas a lutar por seu futuro.

A responsabilidade recai sobre Donald Trump. No passado, ele demonizou grupos étnicos e religiosos inteiros, para fazer campanha eleitoral com a incitação de medos. E mal ele foi eleito, já traz, com Steve Bannon, um conselheiro estratégico que é celebrado pelos nacionalistas de direita como um deles, sem que Trump e sua futura equipe de governo se distanciem disso.

E o fundador do NPI, Richard Spencer, é mesmo quem chama atenção para o maior perigo. Donald Trump e seu movimento, diz ele, são o corpo. Ele e sua ideologia, a cabeça. A cabeça, da que o movimento Trump estava precisando.

Até agora, havia bons motivos para dizer que Trump não é um ideólogo no sentido clássico, que ele estaria principalmente interessado em si mesmo e em fazer negócios. Por conseguinte, não haveria espaço livre para uma ideologia política clara, que seja mais complexa e consistente do que a promessa de levar a América à antiga grandeza.

Não vai demorar muito para que os eleitores de Trump se decepcionem e sintam que ele dificilmente vai conseguir implementar sequer uma de suas promessas bombásticas. Nem empregos vão cair do céu, nem o México vai pagar por um muro na fronteira.

Então, Trump vai precisar de bodes expiatórios, que ele poderá responsabilizar por seu fracasso. Não é difícil imaginar quem o seu assessor estratégico Bannon e os fortalecidos nacionalistas de direita vão buscar: imigrantes não europeus e muçulmanos. A história pode se repetir.