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Opinião: Trump permanece perigoso

24 de outubro de 2016

As pesquisas praticamente excluem uma vitória do candidato republicano. Mas seu eleitorado permanece insatisfeito e irado, e reintegrá-lo deverá ser prioridade presidencial, opina o correspondente Miodrag Soric.

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Miodrag Soric é correspondente da DW em Washington
Miodrag Soric é correspondente da DW em Washington

Donald Trump só pretende aceitar o resultado das eleições presidenciais se ele ganhar. E se não? Ele vai conclamar à revolução? O candidato republicano se mantém vago. Ao que tudo indica, ainda está elaborando o papel que assumirá após sua previsível derrota eleitoral: uma espécie de líder oposicionista extraparlamentar e suprapartidário, uma voz do homem branco irado, um advogado dos perdedores da globalização.

Pois que o faça – é o que muitos pensam –, após sua derrota, o fantasma Trump desaparecerá tão rapidamente quanto veio. Afinal, o mundo da política segue sempre girando, e muitos antigos candidatos presidenciais sequer são lembrados hoje em dia.

Quem dera que fosse tão simples assim. Pois o êxito desse populista é sintomático, confirmando que nos Estados Unidos o abismo entre ricos e pobres se alarga cada vez mais; que um número crescente de empregos é tão mal pago que é quase impossível alimentar uma família com eles.

Muitas americanas não têm sequer a opção de ir trabalhar ou ficar cuidando dos filhos: elas têm que ganhar dinheiro, ou não haverá suficiente para manter a família. E não há como negar que as pontes, calçadas e ferrovias dos EUA decaem, enquanto somas bilionárias são desperdiçadas em guerras. Para novas armas parece sempre haver dinheiro, mas não para os veteranos militares que atravessam, mendigando, os centros urbanos do país.

Quem será capaz de rebater seriamente que centenas de milhares de crianças – a maioria afro-americanas e latinas – crescem em bairros cujas escolas são tão ruins, que são praticamente nulas as suas chances de uma boa carreira profissional no futuro? No entanto, a solidariedade social não cresce, pois é sobretudo nos pobres que se poupa.

Há muito se sabe que doença aflige os EUA. Mas democratas e republicanos estão tão aferrados à luta pelo poder, que não sobra tempo para governar de verdade. Tanto a decepção com as elites quanto os efeitos da globalização aplainaram o caminho para um populista do tipo Trump: um suposto forasteiro do sistema que durante décadas subornou políticos de ambos os partidos, e agora alega que vai combater a corrupção.

Por que Trump é perigoso? Porque coloca em questão não só o resultado de um pleito democrático, mas a própria democracia. Por incitar os cidadãos a desconfiar das instituições estatais – evocando, para tal, os Pais Fundadores da nação, pois também eles foram céticos em relação ao governo central – embora por motivos totalmente outros.

A paz social ainda não está ameaçada nos Estados Unidos. Não há quaisquer sinais de um "levante da classe baixa", como profetizado anos atrás pela jornalista e autora alemã Inge Klöpfer. A maior parte da população percebe qual é o jogo de Trump: primeiro acirrar os medos, para então se apresentar como salvador.

Por esse motivo, a eleição presidencial transcorrerá sem percalços, a despeito de todos os maus augúrios. Mas o novo ou nova chefe da Casa Branca deve rapidamente construir pontes, até o opositor político, até as minorias, até os milhões de concidadãos que querem participar do sonho americano, mas têm sido excluídos economicamente.