O mais tardar em 23 de março de 2016, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, terá assinado o acordo de paz com os guerrilheiros das Farc, exatamente seis meses após os acordos jurídicos inéditos de Havana e o aperto de mão histórico com o chefe da guerrilha Rodrigo Londono, conhecido como Timochenko. Se isso ocorrer mesmo, será algo digno de um Prêmio Nobel da Paz.
Um acordo de paz definitivo com a guerrilha poria fim a uma guerra civil que já dura mais de 50 anos, a mais longa da história latino-americana. Mas, para isso, ainda há uma série de batalhas políticas a serem vencidas, e essa luta está apenas começando. As inúmeras vítimas da guerra – muito mais de 200 mil mortos, quase seis milhões de desalojados e expropriados e milhares de sequestrados – clamam por vingança. A oposição ligada ao ex-presidente Álvaro Uribe tira proveito disso, sob o lema "impunidade para os terroristas".
Lei e justiça não são a mesma coisa. Isso é algo que nós, alemães, também vivenciamos dolorosamente na superação de duas ditaduras. Mas justiça também não tem nada a ver com vingança. Pois vingança muitas vezes só semeia novos desastres. Através de meios legais, é possível alcançar um equilíbrio, uma chance de um novo começo. Este é o caminho que o presidente colombiano quer trilhar agora, juntamente com a liderança da guerrilha. Para as vítimas e suas famílias, ele será, entretanto, doloroso.
Mas o acordo sobre a justiça transitória é revolucionário. Ele se baseia, por um lado, em experiências que vão da África do Sul à Irlanda e introduz, por outro lado, um elemento totalmente novo de penitência e reconciliação, com penas escalonadas, que dependem do arrependimento dos delinquentes e da boa vontade deles para reparações. Com isso, a Colômbia poderia estabelecer novos padrões internacionalmente.
Mas primeiro o presidente Santos – antes, ele mesmo um linha-dura, ao lado de Uribe – tem que não só convencer as vítimas, mas também a rica elite urbana da Colômbia, que foi a menos afetada pela guerra civil. Aqui, o que importa não é apenas a indignação moral pela equiparação de tratamento entre militares e paramilitares com guerrilheiros de esquerda, mas também o dinheiro.
No longo prazo, um acordo de paz também vai trazer um dividendo de paz, mas no curto prazo, o processo custa dinheiro. Reforma agrária, indenizações, programas sociais e educacionais para perpetradores e vítimas – tudo isso não vem de graça. Muitos cidadãos ricos temem agora a introdução de uma taxa da paz, depois que um imposto de guerra para a luta contra os guerrilheiros fora introduzido no governo de Uribe. Mas o que pode ser mais valioso que a paz?
A Colômbia também vai precisar de ajuda internacional. Há tempos, a Alemanha apoia o processo de paz politicamente e também deveria se envolver mais financeiramente. Os EUA e a Europa também poderiam contribuir com algo mais além de boas palavras, alguns programas de ajuda da União Europeia e do Banco Mundial têm sido discutidos. Mas, primeiro, cabe à sociedade colombiana decidir. Resta a esperança de que ela entenda que, a partir da América Latina, a Colômbia pode enviar um sinal para o mundo!