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Prêmio Liberdade de Expressão da DW para Yulia Navalnya

6 de junho de 2024

Viúva de Alexei Navalny e sua Fundação Anticorrupção desafiam governo de Vladimir Putin na luta por uma Rússia justa e democrática. "Liberdade de expressão triunfará sobre a propaganda", disse a ativista.

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Yulia Navalnaya agradece o diretor da DW, Peter Limbourg, e o ministro alemão das Finanças, Christian Lindner, pelo prêmio
Yulia Navalnaya cumprimentada pelo diretor da DW, Peter Limbourg, e o ministro alemão das Finanças, Christian Lindner (esq.)Foto: Ronka Oberhammer/DW

"Ao assassinar Alexei Navalny, Putin assassinou metade de mim, metade do meu coração e metade da minha alma", afirmou Yulia Navalnya pouco depois de receber a notícia da morte de seu marido, o crítico do regime de Moscou Alexei Navalny. Ela disse que a metade que restou estava cheia de "fúria, raiva e ódio" e anunciou ao mundo que utilizaria esses sentimentos para continuar o trabalho de seu marido e de sua Fundação Anticorrupção, visando a construção de uma Rússia "repleta de dignidade, justiça e amor".

Nesta quarta-feira (05/06), Yulia Navalnaya e a Fundação Anticorrupção receberam em Berlim o Prêmio Liberdade de Expressão (Freedom of Speech Award) da Deutsche Welle de 2024.

Na cerimônia de entrega, o diretor-geral da DW, Peter Limbourg, afirmou que a Fundação Anticorrupção e Yulia Navalnaya "assumiram a missão de jogar luz sobre a escuridão do sistema corrupto e assassino do governo russo", e agradeceu pelo importante trabalho realizado por ela e pela entidade.

Em seu discurso, Navalnya observou que "os ditadores veem a liberdade de expressão como uma fraqueza. Eles a veem como a liberdade para disseminar desinformação e mentiras". Ela afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, sempre terá facilidade para encontrar supostos especialistas que mentirão por ele em troca de dinheiro.

Alexei Navalny e sua fundação, ao contrário, demonstraram, através de sua luta, que até ditadores todo-poderosos tremem frente à verdade, disse Navalnya. "Vamos continuar essa luta. Acreditamos que a liberdade de expressão triunfará sobre o veneno da propaganda."

O diretor da Fundação Anticorrupção, Ivan Zhdanov, falou sobre o trabalho da entidade e expressou sua admiração por Navalny. "Alexei é o homem mais corajoso, o líder mais inteligente e o político mais notável que conheci", afirmou. Ele disse que prêmio para sua organização também homenageia "milhões de pessoas que têm apoiado Alexei Navalny e a Fundação Anticorrupção".

Navalnya "nos deu de volta a coragem"

Em seu discurso em homenagem aos vencedores do prêmio, o ministro alemão das Finanças, Christian Lindner, enfatizou que a democracia e o Estado de direito não devem ser subestimados. O caso de Navalny, segundo afirmou, deixa claro que, na Rússia, quem luta por esse valores fundamentais está arriscando sua vida.

Lindner exaltou o fato de que, após a morte de seu marido, foi Navalnya, entre todas as pessoas, quem "nos deu de volta a coragem". "De maneira enfática, ela nos lembrou que é nosso dever lutar pela liberdade e justiça na Rússia."

Segundo o ministro, é exatamente isso que Navalnya e seus colegas vêm fazendo. "A Fundação Anticorrupção desafiou todas as restrições e se tornou um forte símbolo da incansável luta contra a corrupção na Rússia", exaltou.

Lindner, ao mesmo tempo, alertou contra possíveis preconceitos contra os vencedores do prêmio e seu país de origem. "Como Alexei, estamos convencidos que a Rússia ainda tem uma chance para que a democracia prevaleça no longo prazo."

Transparência contra autoritarismo

Navalny criou a Fundação Anticorrupção em 2011, mas organização acabou sendo banida pelas autoridades russas em 2021. Um ano mais tarde, a equipe se restabeleceu como uma organização internacional de modo a continuar a luta por transparência e contra a corrupção na Rússia.

Suas revelações sobre o funcionamento do governo russo atingem pessoas no mundo inteiro. A organização compartilha publicamente os resultados de seu trabalho em seu canal no YouTube, onde mantém uma lista de suspeitos de serem "praticantes de suborno e promotores da guerra".

Yulia Navalnaya e Alexei Navalny durante um protesto em Moscou em 2017
Yulia Navalnaya e Alexei Navalny durante um protesto em Moscou em 2017Foto: Sefa Karacan/AA/picture alliance

A Fundação também divulga suas pesquisas sobre os esquemas financeiros da elite do poder na Rússia com documentários em vídeo. O filme Um palácio para Putin, produzido pela entidade e apresentado por Navalny, já foi visto mais de 130 milhões de vezes.

Em entrevista à DW após a cerimônia, Navalnaya explicou como a equipe da Fundação é importante para ela. "A equipe que Alexei criou apoia muito o meu trabalho", disse. Ela e Navalny trabalharam junto como muitos dos integrantes da equipe por mais de 10 anos.

"Eles estiveram comigo em momentos difíceis da minha vida. Não são mais apenas colegas, são amigos", explicou. Ela também trabalha com organizações de direitos humanos que visam a proteção de prisioneiros políticos.

Mundo acusa Moscou

Navalny morreu em fevereiro de 2024 em uma prisão russa sob circunstâncias obscuras, o que levou governos e organizações internacionais a fazerem graves acusações às autoridades do país. Seus apoiadores e familiares falam em assassinato – Navalny já havia sobrevivido por pouco a uma tentativa de envenenamento em 2020, quando teve sua saúde fortemente abalada.

Lindner, em seu discurso, repetiu o que já havia sido dito por ele mesmo logo após a morte de Navalny: o crítico de Putin fora assassinado. 

Alguns consideram Navalnaya o novo rosto da oposição russa. Ela, porém, não desejava inicialmente entrar para a política. Nascida em 1976, estudou economia em Moscou e conheceu seu marido em 1998 durante uma viagem de férias à Turquia. Eles se casaram em 2000 e tiveram dois filhos.

Yulia Navalnaya surgiu no cenário político em 2013, durante a campanha de Alexei para a prefeitura de Moscou, na qual ele ficou em segundo lugar, atrás de Sergei Sobyanin. Naquele ano, ela se tornou a "primeira-dama" do novo líder da oposição russa.

Após a tentativa de envenenamento de Navalny, em agosto de 2020, ela atuou decisivamente para que seu marido pudesse receber tratamento no hospital Charité, em Berlim. O médico Aleksandr Polupan disse à DW que a persistência dela foi fundamental para que Navalny pudesse ser transferido para a Alemanha e para que o caso ganhasse enorme atenção do público.