Protestos no Irã
8 de fevereiro de 2011A recente onda de protestos populares, que se iniciou na Tunísia e Egito, se espalha agora pelo Oriente Médio. A oposição iraniana tenta usar a situação a seu favor e pediu autorização, junto do ministério do Interior, para fazer uma manifestação de apoio aos tunisianos e egípcios. Segundo o pedido, a manifestação aconteceria na próxima segunda-feira (14).
De acordo com a nota publicada na página de internet do movimento, Hussein Mussavi e Mehdi Karrubi, representantes da oposição iraniana, pediram "autorização para mostrar solidariedade com o movimento popular na região, especialmente com a revolta pela liberdade dos cidadãos na Tunísia e no Egito contra um governo tirano".
No Irã, a mídia estatal pouco noticiou sobre as manifestações no norte da África. Por outro lado, um ano e meio depois da polêmica eleição presidencial, aumenta a insatisfação contra o regime de Mahmoud Ahmadinejad.
Essa seria a primeira vez que um movimento popular ocuparia as ruas do Irã depois da violenta repressão do governo durante as eleições, em 2009. Na ocasião, oito manifestantes foram mortos e mais de mil pessoas foram presas.
Discurso ajustado
Mohamed Sadegh, editor-chefe do proibido jornal iraniano Tous, é um dos poucos críticos do regime que ainda se atrevem a conversar com a imprensa estrangeira. "O discurso oficial no Irã tem sua própria interpretação do movimento no Egito. Ou seja: uma revolta contra o regime autoritário. Algo como a revolução iraniana em 1979 contra o 'regime do xá'. Eles enfatizam também as exigências religiosas no Egito."
Na última sexta-feira (04), o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, denominou as revoltas populares na Tunísia e no Egito de "despertar islâmico". Logo no sábado, a Irmandade Muçulmana replicou que o que acontece no Egito não se trata de uma revolução islâmica e que os protestos contra um regime injusto e autocrático englobam todas as religiões e seitas.
Mohamed Sadegh, que ficou preso por um mês após as polêmicas eleições presidenciais, explica que "as autoridades iranianas sabem que, no nosso mundo, as mudanças regionais e internacionais se influenciam reciprocamente. O governo interpreta os acontecimentos à sua própria maneira e tenta influenciar o público."
Lá fora, o governo iraniano quer se mostrar como apoiador das manifestações e das exigências pacíficas a favor de mais direitos e democratização no Egito. O presidente do Parlamento, Ali Larijani, criticou inclusive o já revogado bloqueio à internet imposto pelas autoridades egípcias.
No entanto, tendo em vista a repressão brutal das manifestações após as eleições presidenciais no Irã, em 2009, e a proibição das reportagens sobre o fato, a atitude manifestada por Larijani parece um tanto risível, dizem críticos do governo.
Hora certa
Seraj Mirdamadi, jornalista e antigo coordenador da campanha de Hussein Mussavi, que concorreu contra Ahmadinejad nas eleições de 2009, classificou o pedido feito pela oposição iraniana como uma jogada inteligente.
"A resposta desse pedido não é importante. As autoridades já perderam de qualquer maneira. Se o governo autorizar o pedido, milhares de pessoas vão às ruas. E isso será um novo desafio para o governo. Se o pedido não for aceito, o que é o mais provável, ficaria provado mais uma vez que eles mentem. Então eles teriam que se explicar diante da opinião pública."
Mirdamadi vive atualmente em Paris. Para o jornalista, se as diferentes camadas da sociedade iraniana, especialmente a grande maioria atingida pela miséria, forem informadas, então será possível fazê-las despertar para que saiam às ruas contra o regime. As revoltas contra as ditaduras na Tunísia e no Egito também encorajaram os iranianos, acredita Seraj Mirdamadi
Estado policial
No Irã, no entanto, o estado de emergência ainda continua, conta Mehdi Khazali, de Teerã. O blogueiro e crítico de Ahmadinejad foi libertado da prisão somente em novembro de 2010. "Prevalece uma situação como num estado policial. Todos os críticos do regime estão sob pressão. Eles estão ou em prisão domiciliar ou na prisão. Partidos com orientação reformista, quando não proibidos, têm suas atividades encerradas. Jornais críticos foram fechados", narra Khazali.
Mohamed Sadegh vê uma grande diferença entre o movimento de protesto iraniano e os protestos no norte da África: "Nós começamos como um movimento de reforma. Os egípcios querem mudar as estruturas políticas de poder. Eles fazem uma revolução. Nós não queremos mais mudanças rápidas e violentas, com consequências imprevisíveis. Nosso movimento ainda vive e busca um caminho sensato e de longo prazo, que exija o menor custo possível e que prometa mais."
Autoras: Shabnam Nourian / Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque