Os 75 anos do biquíni
Logo após a Segunda Guerra, quatro pedaços de pano revolucionavam o mundo. Com economia extrema e pureza de formas, biquíni é criação de um engenheiro francês. Já sua conclusão lógica, o "fio dental", é invenção carioca.
Quatro triângulos e pouco mais
Mais economia, impossível: quatro triângulos de tecido, unidos por cordões. Em 5 de julho de 1946, a dançarina de strip-tease Micheline Bernardini se apresentava às câmeras numa piscina pública de Paris, trajando o primeiro biquíni da história. Seu criador era nada menos do que um engenheiro automobilístico, o francês Louis Réard, ainda sem noção da revolução que estava iniciando – não só na moda.
"Bomba an-atômica"
Fim da Segunda Guerra Mundial, início da Guerra Fria. No Atol de Bikini, Pacífico Sul, os EUA testavam suas bombas atômicas. Réard calca a publicidade para sua criação num jogo de palavras: "Le bikini, la première bombe an-atomique." Não se sabe se a expressão – politicamente incorreta e sexualmente ofensiva! – "bombas", para designar os seios, tem a mesma origem. Na foto, um modelo de 1947.
Desde os romanos
A rigor, o biquíni não foi uma invenção do engenheiro parisiense. Pois é comprovadamente muito mais antiga essa ideia de reduzir a roupa esportiva ao mínimo, só cobrindo as partes estritamente necessárias. Na Villa Romana del Casale, na Sicília, encontram-se afrescos em que jovens romanas praticam esporte trajando o ancestral do biquíni.
Alegria das garotas da folhinha
Antes de se tornar estrela de cinema, a atriz americana Marilyn Monroe ganhava um dinheirinho extra posando para fotos em trajes sumários, destinadas a calendários e páginas centrais de revistas. Para as modelos, o advento do biquíni foi um presente, convidando a despreocupada seminudez. Esta imagem de 1949, exposta no Museu de Arte de Brooklyn, Nova York, chama-se simplesmente "Marilyn na praia".
À prova de escorregão
Nos anos 50, Hollywood faturava nas bilheterias com coreografias aquáticas protagonizadas por belas sereias – também de biquíni. Entre as modalidades esportivas celebradas, estava até o esqui aquático, como nesta foto. Note-se: a parte superior desta ousada variante do traje de banho parece estar a um triz de cair, mais na de baixo há pano suficiente para encarar as velocidades de até 50 km/h.
Clássico das "Bond girls"
Quando, em 1962, a beldade suíça Ursula Andress surgiu do mar trajando estas precárias duas peças, muitos moralistas ficaram de queixo caído nos cinemas. Até o escolado James Bond (Sean Connery) perdeu o fôlego por um momento. O filme era "007 contra o satânico Dr. No". O mesmo sucederia a Pierce Brosnan, exatos 40 anos mais tarde, em "Um novo dia para morrer". Dessa vez a sereia era Halle Berry.
Até por baixo das roupas
Após a ofensiva bondiana de seminudez, caíam na Alemanha os últimos bastiões da resistência contra o traje de banho de duas peças. No Porto de Hamburgo foram apresentadas as últimas criações para o verão 1963: o modelo Capri (esq.) tem parentesco inegável com o biquíni de Andress. À direita, o modelo Sissi, "conjunto íntimo moderno com uma nota esportiva". Enfim: quase um biquíni.
Mínimo e ainda furadinho
Na Alemanha Oriental, a moderna mulher comunista também tinha direito de exibir suas formas. A editora feminina Verlag für die Frau louvava o biquíni de crochê, que não exigia tanto fio de algodão nem muito tempo para confeccionar. A variante tornou-se popular também entre os hippies. A desvantagem é que o material pesa com a água e alarga. Hoje dá-se preferência aos fios sintéticos.
A pátria do fio dental
Quem diria: no Rio de Janeiro da década de 1950 havia uma associação antibiquíni. Isso não impediu a evolução lógica da peça: por que quatro triângulos de pano, se três bastam? E assim nascia a tanga, logo apelidada "fio dental", por motivos óbvios. Pelos anos 70 adentro, também sofreu má fama, até conquistar as praias cariocas, as do Brasil e, em breve, o mundo. Liberdade global para as nádegas!
Presa perfeita para teleobjetivas
Paparazzi rondam as praias do mundo fotografando VIPs em situações reveladoras. A teleobjetiva é sua arma: X ganhou uns quilinhos? Y estará grávida? E a cada povo seus ídolos: a loira da esquerda é a famosa modelo e apresentadora de TV suíça Michelle Hunziker – em perfeita forma, mesmo depois de três filhos. Já a cunhada, que a acompanha, estava magra demais, dizem as más línguas.
Esportivo, porém sexista
Em 1996, o vôlei de praia passou a disciplina olímpica, logo se tornando num dos esportes mais apreciados por ambos os sexos. Talvez também por oferecer, de quebra, uma generosa visão da anatomia das jogadoras. Até 2012 o biquíni esportivo era obrigatório nas competições, mas a Associação Mundial de Voleibol suspendeu essa regra sexista. Hoje, tudo é possível, da calça de ciclista ao fio dental.
Biquíni tem museu
Em 2020 foi aberto em Bad Rappenau, na Alemanha, um museu dedicado à peça. Na foto, uma coleção de biquínis no estilo Brigitte Bardot.
Imortalmente sumário
Em marshalês, "bikini" quer dizer, aliás, "lugar dos cocos". Os habitantes do atol há muito deixaram Bikini para ir viver em áreas menos radioativas, mas o biquíni sobreviveu às décadas. Aparentemente imortal, na Vanity Couture At Miami Swim Week 2019, ele voltou a ser celebrado em várias versões e cores.
Andando com o tempo
Duas beldades numa praia italiana em 2020, em plena pandemia de coronavírus e obrigatoriedade do uso de máscaras faciais, expõem a versatilidade da peça, que aqui podemos chamar de "triquíni".