Os altos e baixos do populismo de direita na Europa
4 de dezembro de 2019AfD em busca de imagem moderada
O novo copresidente do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Tino Chrupalla, pediu no último fim semana que seus correligionários adotem um curso mais moderado como parte dos esforços do partido para conquistar mais eleitores.
A AfD, que atualmente lidera a oposição no Bundestag, deve se tornar um "poder político realmente sério" nos próximos anos, disse Chrupalla. Ele vai coliderar o partido ao lado de Jörg Meuthen, que também vem mantendo distância da direita radical.
Nas pesquisas de intenção de voto na Alemanha, a aprovação da AfD gira, atualmente, entre 13% e 14%, não tendo, portanto, aumentado significativamente em comparação com as eleições parlamentares de 2017, quando obteve 12,7% dos votos.
Em eleições realizadas neste ano em antigos estados da Alemanha Oriental, no entanto, a legenda obteve ganhos robustos. Na Turíngia, a AfD mais do que dobrou seus votos em relação ao pleito anterior, chegando a 22,5%. Na Saxônia, ficou com 27,5% dos votos, sendo o segundo partido mais votado, atrás da União Democrata Crista (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, e crescendo 17,8 pontos em relação às eleições de 2014. Em Brandemburgo, os populistas de direita ficaram com 23,5%, atrás somente do Partido Social-Democrata (SPD).
No entanto, até o momento os principais partidos alemães se recusaram a formar uma coalizão com a AfD tanto no nível federal quanto nos governos estaduais.
Democratas Suecos sobem nas pesquisas
Aconteceu algo inédito na política sueca: segundo recentes pesquisas de intenção de voto, o partido anti-imigração Democratas Suecos está em primeiro lugar, empurrando os "eternos" vencedores social-democratas para fora do topo na preferência do eleitorado do país nórdico.
Aparentemente, a razão é a onda de violência de gangues que vem se arrastando pelo país há meses. Os Democratas Suecos acusam a coalizão de governo formada por verdes e social-democratas de inação.
Com seu passado neonazista, o partido foi visto durante muito tempo de forma negativa. Mas, sob seu jovem presidente, Jimmie Akesson, o partido assumiu uma feição mais amigável.
O primeiro avanço dos Democratas Suecos se registrou com o início da crise de refugiados em 2015, quando a Suécia recebeu mais pessoas do que qualquer outro país europeu em proporção à sua população.
Nas últimas eleições parlamentares, em 2018, eles foram o terceiro maior partido. Em nível local e regional, não é mais tabu que políticos moderados trabalhem com populistas de direita. Nesse sentido, os Democratas Suecos estão à frente dos populistas de direita alemães da Alternativa para a Alemanha (AfD).
Vox espanhol contra separatismo catalão
O partido Vox celebra o ex-ditador Francisco Franco e a tourada. Luta contra o casamento gay e o feminismo e também é contra os imigrantes africanos. O fato de um partido tão reacionário ter chances na Espanha de hoje tem a ver com o separatismo catalão. Por um longo tempo, o país foi considerado um baluarte contra o populismo de direita, apesar da crise dos refugiados.
Mas desde os duros confrontos entre defensores e opositores da independência catalã, o Vox se tornou o porta-voz de uma postura inflexível. O presidente do governo (primeiro-ministro) socialista Pedro Sánchez acusa o jovem chefe do Vox, Santiago Abascal, de trair sua pátria.
Para Abascal, até o conservador Partido Popular (PP) é moderado demais. O Vox foi fundado no final de 2013 por ex-membros do PP. Assim como ocorre com a ultradireitista AfD na Alemanha, nenhum outro partido no Parlamento espanhol quer se aliar ao Vox, apesar de a busca por uma maioria do governo em Madri estar se tornando cada vez mais difícil.
Partido Popular Dinamarquês superado em questões migratórias
O direitista Partido Popular Dinamarquês nem precisa governar. Suas posições críticas à imigração tornaram-se predominantes, mesmo entre o Partido Social-Democrata do país. Os social-democratas superaram o Partido Popular Dinamarquês em questões migratórias na campanha eleitoral em meados do ano passado, ficando até mesmo mais à direita – e triunfaram, enquanto o Partido Popular caiu de 21% para quase 9% na preferência do eleitorado.
Após a vitória nas eleições, Sigmar Gabriel, ex-presidente do Partido Social-Democrata (SPD) alemão, aconselhou que seu partido fizesse o mesmo na Alemanha: um curso mais linha-dura em política migratória aliado a uma guinada à esquerda na política social.
Outros membros importantes do SPD alemão, no entanto, se distanciaram de seus colegas do partido dinamarquês. Na campanha eleitoral, os social-democratas dinamarqueses defenderam que processos de refúgio fossem conduzidos fora da Europa e quiseram vincular ajuda a países menos desenvolvidos à prontidão dos requerentes de refúgio rejeitados em retornar aos seus países de origem.
Para que um Partido do Brexit?
Quase nenhum outro partido populista de direita na Europa vivenciou um aumento e uma queda tão acentuada de popularidade quanto o Partido do Brexit no Reino Unido. Fundado no início deste ano, ele conquistou a maioria dos assentos de seu país no Parlamento Europeu nas eleições europeias de maio último, ofuscando completamente os dois maiores partidos britânicos tradicionais, o Partido Conservador e o Partido Trabalhista (Labour).
O nome do partido é programático: ele quer que o país deixe a União Europeia (UE) o mais rápido possível após a longa disputa em torno do Brexit sob o governo conservador. Mas o Partido do Brexit subestimou o primeiro-ministro conservador Boris Johnson. Embora ele tenha inicialmente tateado apenas com a saída da UE, agora está entrando nas próximas eleições gerais em 12 de dezembro com o plano de deixar a UE de maneira regulamentada até o início do próximo ano.
Johnson parece receber apoio da maior parte da opinião pública: nas pesquisas de intenção de voto, os conservadores detêm até agora uma liderança sólida, enquanto o Partido do Brexit ficou com menos de 5% nas últimas pesquisas.
FPÖ na Áustria em baixa
A queda do chefe do ultradireitista Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) aconteceu justamente devido ao seu tópico favorito, a corrupção. Heinz-Christian Strache apareceu num vídeo gravado secretamente em Ibiza, fazendo concessões a uma suposta sobrinha de um oligarca russo.
Strache renunciou. Mas a coalizão de governo entre o Partido Popular (ÖVP) e os populistas de direita do FPÖ agradava aos austríacos, especialmente em questões de segurança interna e migração, na qual eles seguiam uma linha particularmente dura.
Nas eleições parlamentares no final de setembro último, o FPÖ pagou a conta pelo escândalo de corrupção e caiu para 16%. Mas Sebastian Kurz, chanceler federal austríaco pelo ÖVP, está agora negociando uma nova coalizão com os verdes. Ainda não está claro se isso resultará uma coalizão de governo. Em suma, as negociações são difíceis.
Lega à espera na Itália
Matteo Salvini, ex-ministro do Interior da Itália e chefe da legenda populista de direita Liga, estava seguro demais de si. Em agosto último, ele rompeu a coalizão de governo com o Movimento Cinco Estrelas e apostou em novas eleições.
Nas pesquisas, o parceiro menor, o Liga, já havia superado há muito o Movimento Cinco Estrelas. Mas o plano de Salvini não deu certo, o Cinco Estrelas formou uma coalizão com o social-democrata Partido Democrático (PD). Uma das consequências foi a suavização da política migratória muito restritiva sob o governo de Salvini.
No entanto, a Liga, partido de Salvini, pode esperar um retorno: o atual governo se encontra dividido. E com 33% da preferência do eleitorado nas pesquisas, a Liga está claramente à frente do PD (19%) e do Cinco Estrelas (17%).
A Liga ganhou claramente as eleições regionais na Umbria. Parece ser apenas uma questão de tempo – até a próxima eleição parlamentar – para que a Liga volte a governar, pela primeira vez, presumivelmente, como parceiro majoritário.
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