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Os custos da crise no Chile

Victoria Dannemann md
20 de novembro de 2019

Um mês após o início da crise social o país sul-americano realiza o primeiro balanço dos prejuízos econômicos causados pelas manifestações. Fundos adicionais serão necessários para reconstruir infraestrutura destruída.

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Homens correm entre jatos de água e objetos que pegam fogo na rua
Barricada de rua em chamas em Santiago: destruição durante protestos deverá ter alto custoFoto: picture-alliance/AP Photo/R. Abd

Os números oficiais só mostrarão no final de novembro as reais consequências da crise social e política que atingiu o Chile há mais de quatro semanas. No entanto, os especialistas não estão otimistas em seus prognósticos.

Tudo indica que os números de produção e distribuição, comércio e construção, assim como o relatório econômico mensal do Banco Central chileno para outubro confirmarão as previsões negativas.

"Muito provavelmente, esse indicador será negativo e mostrará menos atividade em comparação com o mesmo mês do ano anterior, enquanto antes de todos esses eventos as previsões previam um crescimento superior a 3%", disse o economista Tomás Flores, do think tank Libertad y Desarrollo.

A cientista social alemã Kirsten Sehnbruch, da London School of Ecomomics, observa que ainda é difícil prever os custos reais da crise no momento. "De qualquer modo, os investimentos estão totalmente estagnados, assim como o crescimento", frisa.

"A situação econômica do país é difícil", ressaltou o ministro das Finanças, Ignacio Briones, ao apresentar no Congresso a situação econômica e fiscal, no contexto do debate orçamentário.

Sehnbruch acha que é preciso observar como a situação se desenvolve. "Pode haver mais incidentes. Anúncios como o do Walmart, que pretende processar o Estado chileno por não ter garantido a ordem pública, também não estão ajudando a situação", disse a cientista, mencionando um anúncio da rede de supermercados americana, que entrou na Justiça para garantir proteção policial para suas lojas no país, depois que dezenas foram saqueadas ou incendiadas.

Prejuízos no comércio

As condições estáveis, de que o presidente Sebastián Piñera tinha tanto orgulho e que descreviam o Chile como um oásis na América Latina, mudaram abruptamente. Uma das áreas mais atingidas é o transporte público. O metrô de Santiago foi vítima de vandalismo sem precedentes, estações e trens foram incendiados. As estimativas mais recentes falam em 370 milhões de dólares em prejuízos, que, por falta de seguro, têm que ser financiados com dinheiro dos contribuintes.

A empresa estatal relata ter em operação 69% das estações e 83% dos quilômetros da rede de trilhos. Grupos de manifestantes também atearam fogo em ônibus e lojas, saquearam supermercados, destruíram escritórios públicos e privados e até atearam fogo em um campus universitário.

"A destruição de bens, infraestrutura e máquinas afetará o índice de produção, e a reconstrução custará muito dinheiro", alerta Flores. "Especialmente pequenas e médias empresas sentiram a crise." A Câmara de Comércio de Santiago estima as perdas pela destruição, a pilhagem e as quedas de vendas em mais de 1,4 bilhão de dólares. Em dias que pareciam particularmente perigosos, muitas lojas permaneceram fechadas ou abriram por apenas algumas horas.

Segundo a Câmara de Comércio, "o faturamento anual do comércio caiu 10% desde 18 de outubro e as receitas de turismo e entretenimento, 36%". O cancelamento de dois grandes eventos, da Apec e da COP25, em novembro e dezembro, foi um duro golpe tanto para a imagem internacional chilena assim como para o setor de turismo e serviços, que esperava a visita de várias delegações.

"Quarenta e seis por cento das empresas sondadas pela Câmara de Comércio sofreram danos diretos, e todas se queixaram de vendas perdidas", afirmou a Câmara. O governo estima o número de pequenas e médias empresas afetadas em 6.800. Para elas, foi criado um fundo de ajuda, que disponibilizar fundos de 500 mil a quatro milhões de pesos (2600 reais a 21 mil reais) para o reparo de instalações, a reposição de mercadorias ou para novo capital de giro.

Fumaça escura sobe de estação de metrô incendiada em Santiago
Estação de metrô incendiada: estimativas apontam para prejuízos de cerca de 370 milhões de dólaresFoto: AFP/J. Torres

Consequências financeiras

A crise também é evidente no mercado financeiro. O dólar atingiu um valor histórico de 803 pesos chilenos e depois voltou a cair gradualmente, mas não para os níveis pré-crise, que eram de cerca de 730 pesos, também graças a uma injeção de 4 bilhões de dólares do Banco Central chileno. A bolsa caiu cerca de 13%. Na sexta-feira passada, ela havia se recuperado 8%, mas ainda estava em um nível mais baixo do que no período anterior à crise.

O governo está confiante de que a economia provavelmente se recuperará assim que a situação no país se normalizar, graças, entre outras coisas, à boa tributação e à reservas que o país possui. No entanto, a crise atingiu um país que, como o resto da América Latina, está em desaceleração econômica. A dívida pública, ainda que seja mais baixa que a de outros países da região, aumentou de 14% para 28% nos últimos cinco anos. "Isso limita a capacidade do governo de captar mais crédito, o que seria necessário para atender a todas as demandas", diz Flores.

Além do custo da crise, em 2020, será preciso financiar o plano social proposto pelo governo, que prevê a destinação mais de 1 bilhão de dólares ao sistema previdenciário, de saúde, renda mínima e reconstrução.

De acordo com estimativas preliminares do Ministério das Finanças do Chile, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 será menor do que o esperado há apenas alguns meses, entre 2% e 2,5%, como resultado da diminuição do consumo e de investimento privado.

O clima de violência diminuiu, mas os protestos e greves continuam, e atos de vandalismo ainda ocorrem. Outros fatores são mais difíceis de medir: "O Chile sofreu uma perda imaterial em termos de imagem no mundo", diz Kirsten Sehnbruch.

"Pelo alto nível de violência, os saques e o incêndio do metrô, os protestos causaram revolta, tanto nacional quanto internacionalmente. E as pessoas se perguntavam sobre o que estava acontecendo no Chile, sobretudo quando veio o cancelamento de eventos como a COP25 e Apec", acrescenta a especialista.

"Essa incerteza fez com que tanto indivíduos como empresas provavelmente esperem um pouco para levar adiante novos projetos até que saibam o que acontecerá no próximo ano", diz Flores.

A economia chilena pode arcar com os custos da crise e proporcionar maiores gastos sociais? Flores acredita que "é possível se isso acontecer gradualmente, mas naturalmente não, caso os gastos públicos sejam aumentados em todas as áreas como o reivindicado atualmente".

No entanto, especialistas concordam que, ao contrário de outros países afetados por conflitos na região, as instituições fortes do Chile ajudarão o país a mitigar os efeitos da crise.

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