"Os EUA são algo além de seu presidente"
4 de novembro de 2004"A vitória de Bush confirma a velha experiência: nenhum presidente candidato à reeleição, em períodos durante os quais os EUA estiveram envolvidos em guerras, perdeu o pleito. E nenhum candidato que se posicionou contra a guerra venceu em algum momento. [..] O mundo e principalmente alguns países na 'velha' Europa terão que aceitar a situação. Parte-se do pressuposto de que farão isso sem grandes dificuldades."
Neue Zürcher Zeitung
"A parcimônia em relação às palavras é aconselhável, sabemos disso, mesmo assim, neste caso não há como evitar dizer: é uma catástrofe. Pois não apenas Bush foi confirmado no cargo, mas também os republicanos, indo contra todos os prognósticos, reafirmaram seu domínio no parlamento. [..] É quase irônico: os eleitores, ao escolher Bush, se decidiram por uma política unilateral própria. Esta eleição é um ato unilateral: todo o mundo tinha esperanças em uma vitória de John F. Kerry, mas os rednecks, os fãs da bíblia e os outros da White America não se deixaram influenciar por isso."
die tageszeitung
"Os EUA, desta vez a maioria real dos cidadãos votantes, confirmaram um presidente que, mesmo partindo de um ponto de vista moderado e conservador, forneceu todos os motivos para ser afastado do poder: uma guerra fundada na desinformação e terminada em caos; a violação do Direito Internacional; a substituição da cooperação pela oposição primitiva entre amigo x inimigo; medidas econômicas não sólidas aliadas a um escoramento social forçado. O catequismo de Bush prega: governar significa não reparar erros. Os americanos perderam a chance de colocar nesta postura o selo de erro e desvio que ela realmente é."
Frankfurter Rundschau
"No fim, a escolha de um governante não é feita pela cabeça, mas pela barriga, pelo sentimento. É melhor escolher um que acredita saber sempre a verdade, que simplesmente parece estar sempre seguro de tudo, do que outro que pensa em etapas, se atém a detalhes e fala de acordo com esta postura. Este segundo tipo de político é o predominante na Europa. Nele nós provavelmente votaríamos. O outro é representado por George W. Bush. Ficamos muito tempo sem entender isso. Não sentimos – pela distância geográfica que nos separa – o que nos EUA mais vale, o que conta nesse país de enormes dimensões: as lendas da independência, liberdade e sorte que estão ao alcance de cada um. Além disso, uma religiosidade crescente e o mito de uma fragilidade que é força ao mesmo tempo. Agora, então, mais quatro anos de Bush."
Der Tagesspiegel
"Surge a pergunta: por que os americanos reelegeram esse homem? Um presidente que não prendeu o líder terrorista Osama Bin Laden, tendo começado uma guerra no Iraque cujos motivos não se sabia mais quais eram. Um presidente que ridicularizou os EUA, quando o mundo foi testemunha de que no Iraque não foram encontradas armas de destruição em massa e nenhuma ligação com a organização terrorista Al Qaeda. Um presidente que é o responsável pelos escândalos de desrespeito aos direitos humanos em Guantánamo e Abu Ghraib e que levou os EUA à maior crise de sua imagem perante o mundo de todos os tempos. Por que então George Bush? A resposta tem três partes: as sensações de ameaça, o inimigo frágil e um país conservador."
Die Zeit
"Os espectadores para além das fronteiras norte-americanas torceram, em sua maioria, para o adversário. [..] Muitos ficaram decepcionados com a reeleição do republicano. Mas mesmo assim nem os governos na Europa nem em qualquer outro lugar que se opuseram a Bush devem se esconder para dar vazão a seu abatimento. O que até agora pairava como uma ameaça ('mais quatro anos'), parece ter se tornado realidade. O que exige uma definição de interesses políticos que se liberta de um 'anti-Bushismo' popular e de um antiamericanismo imprudente. O caminho que deve conduzir a um novo entendimento tem que ser trilhado através do diálogo."
Frankfurter Allgemeine Zeitung
"Os EUA se tornaram estranhos para muitos europeus. A eleição reforçou ainda mais esta impressão. Bush, indo contra muitas expectativas, não entrará para a história como um episódio curto. Ele representa a maioria de um país que converteu a divisão política em um conceito e a luta partidária em um esporte nacional. O mundo não deveria se contaminar com essa atmosfera efervescente. Os EUA são algo além de seu presidente."
Süddeutsche Zeitung