Darwin vive!
13 de fevereiro de 2009Na época de Charles Darwin, a Biologia ainda se chamava História Natural: o papel do profissional era observar, vagando por florestas, campos e mares, e não experimentar, como hoje, quando esta ciência se desenrola sobretudo nos laboratórios, e seu objeto central são genes e moléculas.
Observando a natureza, Darwin chegou à constatação de que todos os seres vivos se originam de uma única espécie. Na época, tratava-se de pura especulação. Mas ele tinha razão.
Adaptação é a chave
O melhor exemplo são os "tentilhões de Darwin", espécie encontrada pelo biólogo na Ilha Galápagos, durante a famosa viagem do navio Beagle. Essas aves têm diversas formas de bicos: quer pequenos e espessos, apropriados para quebrar nozes e sementes, quer longos e delgados, com que penetram nas flores; ainda outros os têm curvados, ou pontudos e curtos.
A evolução ocorre através da adaptação ao meio ambiente: a moderna genética confirma esse fato. Em 1953, os bioquímicos James Watson e Francis Crick descobriram a estrutura química que cada ser vivo traz em suas células e onde está gravado o programa para sua evolução: o DNA (sigla inglesa para ácido desoxirribonucleico), portador de toda informação genética, e formado pela simples combinação de quatro substâncias.
O mais importante biólogo evolucionista da atualidade, Edward Osborn Wilson, considera a descoberta de Watson e Crick um marco científico do mesmo nível da publicação da obra darwiniana Sobre a origem das espécies através da seleção natural, em 1859. Ela valeu o Prêmio Nobel da Medicina de 1962 para a dupla de cientistas, ao lado do físico neozelandês Maurice Wilkins.
Desencontro histórico
Entre o pai da Teoria da Evolução e a dupla Watson-Crick, um monge austríaco também marcou de forma decisiva a moderna biologia. Gregor Mendel (1822-1884) chegou a enviar a Darwin os resultados publicados das descobertas que fizera durante suas tentativas de cruzar diferentes espécies de ervilhas.
Porém consta que o genial inglês jamais abriu a revista em questão, não tendo, portanto, qualquer ideia dos mecanismos da hereditariedade.
Contudo é na genética que se encontra a chave para o enigma dos tentilhões de Darwin. Pois no DNA não está apenas gravado que a evolução ocorreu, mas também de que modo ela provoca mutações nos seres vivos e altera sua aparência.
Brincadeira tentadora
Hoje, os pesquisadores sabem que a evolução não se dá, como se acreditava, através de modificações dos genes, mas sim pelo fato de eles serem "ligados" ou "desligados".
Esta noção de "interruptores genéticos" explica também por que não existem genes especificamente humanos. Possuímos cerca de 21 mil genes, tantos quanto um camundongo e, na maior parte dos casos, idênticos aos seus. Assim, não é necessária a criação de novos dispositivos para que nasça uma espécie: basta que os genes existentes sejam ativados ou inibidos, em combinações diferentes.
A bióloga evolucionista Christiane Nüsslein-Volhard pesquisa justamente essa área. Prêmio Nobel de Medicina em 1995, ela adverte contra interferências na evolução. "O erro básico é acreditar que basta compreender uma coisa para poder modificá-la. [...] Um mecanismo é uma estrutura altamente complexa. Praticamente não há possibilidade de alterar genes de forma direcionada e sem efeitos colaterais."
Darwin vive!
Tal opinião não é partilhada por todos os geneticistas. Como, por exemplo, Ian Wilmut, que até pouco era considerado "pai" de Dolly, a primeira ovelha clonada, mas que admitiu que os bem-sucedidos experimentos de 1996 foram realizados por seu colega Keith Campbell.
Ou o bioquímico estadunidense Craig Venter, o "Senhor dos Genes". Sua empresa Celera Genomics decifrou com enorme rapidez a sequência do genoma humano, fazendo concorrência ao internacional Projeto Genoma Humano (PGH), financiado com verbas públicas.
As visões de Venter são, por vezes, bastante mirabolantes. "Talvez soe como ficção científica. Mas design e seleção genética direcionada substituirão a evolução darwiniana", promete ele.
Palavras petulantes, que provavelmente fariam rir a Charles Darwin. Pois há 150 anos, desde que foi lançado seu revolucionário livro, ele tem sido repetidamente criticado, muitos já tentaram relativizar sua importância. Mas, no final das contas, o historiador natural inglês permanece sendo um dos mais influentes e significativos pesquisadores de todos os tempos.