Há dez anos, o Brasil estava prestes a ultrapassar a França como a quinta maior economia do mundo. Impulsionado pelas altas receitas de energia e matéria-prima da mineração e da agricultura, o país viveu um boom econômico que elevou 30 milhões de brasileiros para a classe média. O Brasil continuava a ter aquele um terço extremamente rico e aquele terço extremamente pobre da população – mas, de repente, o avanço social parecia possível. Sobretudo as pequenas e médias empresas e o setor de serviços serviram como trampolim social – e garantiram um rápido aumento do poder aquisitivo.
O mercado de 210 milhões de brasileiros consumidores ávidos, que, na dúvida, preferem gastar a economizar, atraiu todos os fabricantes de bens de consumo do mundo. Em média, os brasileiros compravam mais celulares, televisores, geladeiras, cosméticos e produtos de higiene pessoal do que os indianos, russos e sul-africanos. Este consumo também levou às altas taxas de crescimento da última década: dois terços do crescimento do Brasil foram dependentes do consumo – pouco veio das exportações ou dos investimentos.
Mas desde 2015 o motor de crescimento da economia brasileira vem estagnando e encolhendo: o país caiu para o 12º lugar em termos de potência econômica. E a tendência é descendente. Os brasileiros estão empobrecendo novamente, em vez de ascender. Há seis anos, sua renda média era 9% superior à renda média global, mas ao final do ano será quase 20% menor, prevê a Economist Intelligence Unit. O declínio da sociedade é particularmente evidente em uma comparação com a China: em 2016 a renda per capita (medida pelo poder aquisitivo) ainda era a mesma na China e no Brasil. Hoje é 30% menor no Brasil do que na China.
De acordo com as últimas previsões, o declínio continuará e será exacerbado pela pandemia. Uma razão para isso é o rápido aumento da taxa de desemprego. De acordo com estimativas do Banco Safra, a taxa real de desemprego já está em torno de 16% – e não os 12,9% oficialmente divulgados. Isso porque as estatísticas oficiais não levam em conta aqueles que, sem esperança de achar algo, não estão mais à procura de trabalho.
Além disso, a dívida dos cidadãos voltou a aumentar. Nos últimos dois anos, os brasileiros têm usado as baixas taxas de juros para contrair empréstimos. Sua dívida é quase metade do que eles ganharam nos últimos 12 meses (46%). Este também é o nível mais alto desde 2005, quando as pesquisas começaram.
O governo brasileiro teve considerável dificuldade em chegar às pequenas e médias empresas (PMEs) durante a crise: embora o governo queira dar às PMEs 40 bilhões de reais para garantir que elas não demitam seus funcionários, ainda não fez os investimentos necessários. Ao todo, 1,4 milhão de empresas deveriam ser favorecidas, e 12 milhões de empregos, mantidos. Mas, até agora, só 1% do empréstimo pôde ser sacado. A maioria das pequenas e médias empresas não se enquadra no programa de apoio – são pequenas demais para um faturamento anual de 360 mil reais ou mais. As grandes empresas recebem crédito dos bancos estatais, as empresas de médio porte ficam pelo caminho.
Isso também faz com que a renda dos brasileiros encolha. Segundo o Sebrae, as PMEs brasileiras respondem por mais da metade do total de empregados (52%) e produzem um quarto do PIB do país.
O instituto Ibre/FGV acaba de analisar os últimos dados do Fundo Monetário Internacional. Segundo estes números, a renda per capita dos brasileiros deve cair pelo menos 6% neste ano, para cerca de 13.600 dólares por habitante. A previsão sombria: a década de 2011-2020 é provavelmente a que os brasileiros perderam mais renda nos últimos 120 anos.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.