"Papáveis" de olho no trono de São Pedro
3 de abril de 2005As especulações sobre o possível sucessor de Karol Wojtyla começaram em 1981, quando ele sofreu o atentado na Praça de São Pedro, em Roma. À medida em que seu estado de saúde piorou, nos últimos anos, surgiram várias listas com nomes de cardeais considerados "papabili" ("papáveis").
Um critério é o país de origem. Além disso, contam fatores políticos como: o candidato é liberal ou conservador, moderado ou dogmático? Ou ainda, se ele conhece a burocracia do Vaticano. Nem sempre os considerados favoritos são os mais votados. Entre os nomes que são citados pelos vaticanistas (especialistas em assuntos do Vaticano) e pelas agências internacionais de notícias e mais cotados nas casas de aposta, no momento, estão os seguintes:
Nome (data de nascimento), país
Francis Arinze (01.11.1932), Nigéria
Negro, filho de um chefe tribal, é líder da Igreja Católica na África. Foi amigo próximo de João Paulo II, é considerado um conservador, mas um especialista para as relações do Vaticano com o Islã. Seria o primeiro papa africano depois de Gelásio I, no final do século 5º.
Jorge Mario Bergoglio (17.12.1936), Argentina
Jesuíta influente, é tido como reservado e humilde, simpatizante do movimento conservador Comunhão e Libertação
Dionigi Tettamanzi (14.03.1934), Itália
Arcebispo de Milão, uma das maiores arquidioceses do mundo, é considerado um intelectual conservador, "bom padre", e que poderia ventilar a Igreja. É um candidato forte não só entre os cardeiais como também nas casas de aposta.
Godfried Danneels (04.06.1943), Bélgica
Arcebispo de Mechelen e Bruxelas, salesiano, é tido como moderado. Em algumas questões, como a ordenação de mulheres para o sacerdócio, é mais aberto do que foi João Paulo II.
Ivan Dias (14.04.1936), Índia
Arcebispo de Bombay. Defendeu em muitos discursos a doutrina conservadora da Igreja sobre moral, aborto e homossexualidade.
Darío Castrillón Hoyos (04.07.1929), Colômbia
No Vaticano, foi prefeito da Congregação para o Clero. Poliglota e hábil, é considerado um dos candidatos mais experientes e teria a "idade certa" (75 anos). Foi um dos opositores mais enérgicos da Teologia da Libertação na América Latina.
Cláudio Hummes (08.08.1934), Brasil
Arcebispo de São Paulo, franciscano, nasceu em Montenegro (RS). Já foi considerado rebelde, mas hoje oscila entre moderado e conservador (progressista em questões sociais, mas conservador em relação à doutrina da igreja). Durante seu bispado em Santo André (ABC paulista), entre 1975 e 1996, contestou o regime militar e apoiou greves. Está entre os favoritos citados pela imprensa internacional.
Oscar Andres Rodríguez Maradiaga (29.12.1942), Honduras
O arcebispo de Tegucigalpa (capital de Honduras), salesiano, é um líder da igreja em ascensão na América Latina. Luta pela justiça social, mas é tido como "jovem demais" - a maioria dos cardeiais não quer mais um pontificado tão longo como foi o de João Paulo II.
Walter Kasper (05.03.1933), Alemanha
Foi bispo da diocese de Rottenburg-Stuttgart e é presidente do Conselho Papal para a Unidade dos Cristãos no Vaticano. É tido como um peso pesado na teologia e política eclesiástica, defensor do ecumenismo.
Giovanni Battista Re (30.01.1934), Itália
Foi um dos auxiliares mais próximos de João Paulo II e prefeito da Congregação para os Bispos. Especialista em direito canônico, é considerado um dos maiores conhecedores do Vaticano.
Christoph Schönborn (22.01.1945), Áustria
Arcebispo de Viena, dominicano, comunicativo, articulado e carismático. Com 60 anos, também é considerado "muito jovem". Foi o primeiro a dizer que o papa estava próximo da morte, em 2003.
Bernardin Gantin (08.05.1922), Benin (África Ocidental)
Negro, foi um dos amigos mais próximos de Karol Wojtyla, prefeito emérito da Congregação para os Bispos, presidente emérito da Comissão Pontifícia para a América Latina. Sua idade avançada é considerada uma desvantagem.
Joseph Ratzinger (16.04.1927), Alemanha
Foi arcebispo da arquidiocese de Freising e Munique. Como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (antigo Tribunal da Inquisição) foi o braço direito de João Paulo II, mas nessa função obteve a fama de ultraconservador. Como a Igreja alemã tem sido crítica do Vaticano, a nacionalidade pode ser uma desvantagem para Ratzinger no conclave. Ele, no entanto, seria imaginável para muitos como "um papa de transição".
Pio Laghi (21.05.1922), Itália
Enviado da paz de João Paulo II com a missão de evitar a guerra do Iraque. Foi embaixador do Vaticano (núncio) em Buenos Aires nos anos 70 e acusado de cooperar com o regime militar argentino. Conviveu com madre Teresa de Calcutá (1910-1997).
Roger Etchegaray (25.09.1922), França
Foi arcebispo de Marselha entre 1970 e 1984. No início de 2003, foi enviado em missão de paz ao Iraque e conversou com então ditador Saddam Hussein. Presidiu a Comissão Pontifícia para Justiça e Paz entre 1984 e 1998.
Carlo Maria Martini (15.02.1927), Itália
Arcebispo emérito de Milão, aposentou-se em 2002 para se dedicar ao estudo de textos bíblicos. Considerado reformista, defende a contracepção e ordenação de mulheres.
Miloslav Vlk (17.05.1932), República Tcheca
Arcebispo de Praga, é líder da Igreja nos países do Leste Europeu desde o fim do comunismo. Acompanhou o conflito de Kosovo em 1999 e denunciou a expulsão dos albaneses do sul da Iugoslávia. Tem estreitas ligações com os líderes da Igreja na Itália.
Angelo Scola (07.11.1941), Itália
Patriarca de Veneza, é um dos nomes recentes na lista das apostas. Tem o apoio da organização Opus Dei, que promove a doutrina conservadora da Igreja Católica nas questões da sexualidade, aborto e casamento.
Angelo Sodano (23.11.1927), Itália
Secretário de Estado do Vaticano sob João Paulo II, é considerado o segundo homem na hierarquia da Igreja Católica.
Camillo Ruini (19.02.1931), Itália
É o vigário-geral da diocese de Roma, foi auxiliar próximo de João Paulo II e preside a Conferência Episcopal Italiana. É considerado conservador e sempre aparece nas listas dos preferidos dos vaticanistas.