Papa apoia mapuches, mas pede fim da violência
17 de janeiro de 2018O papa Francisco defendeu nesta quarta-feira (17/01) em Temuco, na região chilena da Araucanía, berço de origem dos índios mapuches, o reconhecimento das culturas indígenas, mas instou os mapuches a abandonar a violência. Araucanía é palco de um conflito entre comunidades indígenas, que exigem terras ancestrais, e empresas agrícolas.
"A defesa da cultura do reconhecimento mútuo não pode ser construída com base na violência e destruição que termina custando vidas humanas. Não se pode pedir reconhecimento aniquilando o outro", ressaltou Francisco, durante a missa realizada no aeroporto de Maquehue.
O pontífice acrescentou que "a violência termina tornando mentirosa a causa mais justa". Ele ressaltou ainda a necessidade de cada povo contribuir com suas riquezas e deixar de lado "a lógica de acreditar que existem culturas superiores ou inferiores".
O papa iniciou a homilia falando em mapudungun, a língua nativa dessa comunidade. "Mari, Mari [Bom dia]. Küme tünngün ta niemün [A paz esteja convosco]", saudou Francisco.
Diante de milhares de pessoas, o pontífice agradeceu pela oportunidade de visitar a Araucanía, exaltou a beleza da região e cumprimentou "de maneira especial os membros do povo mapuche, bem como também os outros povos nativos que vivem nestas terras austrais como os rapanui [da Ilha de Páscoa], aymara, quíchua e atacameños, e tantos outros".
Local criticado
A escolha do aeroporto de Maquehue para a missa foi alvo de críticas. O local funcionou como um centro de detenção e tortura durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Apesar do apelo de organizações de Direitos Humanos, os organizadores decidiram manter a cerimônia no aeroporto.
Durante a missa, o papa, porém, lembrou que no aeroporto de Maquehue aconteceram graves violações dos direitos humanos. "Oferecemos esta celebração a todos os que sofreram e morreram, e pelos que a cada dia carregam sobre suas costas o peso de tantas injustiças", apontou.
Após a cerimônia, o papa almoçou com membros dos mapuches, uma vítima da violência rural, um imigrante haitiano e um descendente de colonizadores suíço-alemães. No almoço, Francisco conversou sobre os problemas da região.
Abusos sexuais
Numa viagem marcada por protestos devido ao escândalo de pedofilia envolvendo padres católicos no Chile, Francisco se reuniu na terça-feira com vítimas desses abusos. Segundo o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, o encontro particular reuniu um pequeno grupo. "Só havia o papa e eles. Deste modo, eles puderam contar seus sofrimentos. O papa os ouviu e orou com eles", acrescentou.
Antes do encontro, o papa havia pedido perdão às vítimas durante um discurso para membros do corpo diplomático e políticos, no Palácio de La Moneda, sede do governo chileno.
Vítimas dos abusos sexuais cometidos durante anos pelo sacerdote chileno Fernando Karadima elogiaram Francisco pelo encontro, mas exigiram ações contundentes do pontífice contra quem cometer ou encobrir esses crimes.
Os chilenos pedem a destituição do bispo Juan Barros, que teria ajudado a acobertar os abusos sexuais de Karadima, que, apesar de ter sido considerado culpado pelo Vaticano, foi condenado apenas a uma vida de oração e penitência.
Ataques incendiários
A primeira viagem de Francisco ao Chile desde que assumiu o papado, em 2013, está sendo marcada por uma série de atentados contra igrejas. Três helicópteros, duas igrejas e uma escola foram alvos de ataques incendiários ocorridos na noite de terça-feira e na madrugada desta quarta-feira, na Araucanía e nas regiões vizinhas de Bío-Bío e Los Ríos.
Um policial foi atingido por tiros nas costas quando repelia um ataque de encapuzados a uma fazenda na localidade de Ercilla, a 570 quilômetros ao sul de Santiago. O agente foi levado ao hospital de Temuco, onde os médicos constataram que o colete à prova de balas evitou sua morte ou que ficasse gravemente ferido.
Ao menos 11 igrejas foram incendiadas no Chile desde a semana passada. O papa permanece no país até quinta-feira, quando segue para o Peru, onde fará visitas institucionais e deve se deslocar a Puerto Maldonado para se encontrar com representantes dos povos da Amazônia.
CN/efe/lusa
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