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Do orgulho à xenofobia

Toma Tasovac (as)28 de dezembro de 2006

O cientista Wilhelm Heitmeyer, que há cinco anos pesquisa atitudes hostis dentro da sociedade alemã, fala à DW-WORLD sobre patriotismo, futebol e o perigo existente em campanhas de afirmação da identidade.

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Cartaz da campanha 'Du bist Deutschland', criticada pelo cientista alemãoFoto: presse

Wilhelm Heitmeyer é professor da Universidade de Bielefeld e um dos mais renomados sociólogos da Alemanha. Ele foi diretor de diversos grupos de pesquisa sobre extremismo de direita, violência, xenofobia e conflitos étnicos-culturais.

Heitmeyer conduz um estudo empírico, que já dura cinco anos, sobre atitudes hostis dentro da sociedade alemã. Em entrevista à DW-WORLD, ele afirmou que campanhas de afirmação da identidade criam barreiras ao salientar diferenças e que pessoas são discriminadas não por sua conduta pessoal, mas por pertencerem a determinados grupos.

DW-WORLD: O que se entende pelo conceito de "minoria fraca" na Alemanha, que é segregada pela maioria da sociedade?

Wilhelm Heitmeyer: Nosso conceito opera com o termo da hostilidade dirigida a grupos de seres humanos. Isso significa que seres humanos são desprezados, discriminados e, dependendo das circunstâncias, até mesmo agredidos de forma violenta não por causa de sua conduta individual, mas simplesmente por pertencer a um grupo.

Isso significa também que não só pessoas de origem estrangeira, como imigrantes, muçulmanos ou, sob certos aspectos, judeus se tornam alvos de discriminação, mas também homossexuais, sem-teto e portadores de deficiências.

O problema central é que estamos falando de uma síndrome. Isso significa que as discriminações podem variar. De acordo com a época e os agentes de mobilização que, numa sociedade, estão dispostos a se voltar contra determinados grupos, ela pode ser muito sutil ou abertamente brutal.

A hostilidade voltada a grupos de seres humanos é algo que uma sociedade pode evitar?

Sozialwissenschaftler Wilhelm Heitmeyer
Wilhelm HeitmeyerFoto: Nele Heitmeyer

Podemos partir do princípio de que o núcleo comum a todas as formas de hostilidade dirigidas a grupos de seres humanos é a valoração desigual das pessoas. Ela serve de legitimação, seja da discriminação, seja da violência. Por isso, deve-se primeiramente agir contra todas as formas de valoração desigual das pessoas no debate público ou no discurso cotidiano.

O segundo ponto é que aqueles que discriminam possuem uma relação específica com a sua própria situação social. Em todos os lugares onde há processos de desintegração – seja no aspecto profissional, político ou social – fica evidente que eles implicam uma perda de orientação. Isso, por sua vez, estimula a discriminação de grupos fracos.

O senhor criticou campanhas de identidade como "Du bist Deutschland" (Você é a Alemanha). Por quê?

De fato, eu considero esse um procedimento extremamente problemático, pois é necessário levar em conta que tais campanhas de afirmação da identidade, apelos patrióticos, campanhas de orgulho nacional ou debates sobre culturas dominantes têm por objetivo criar meios alternativos para solucionar o problema de estratos sociais que se apartam. Elas devem funcionar como aglutinadores, mas acabam criando fronteiras, ressaltando aquilo que é próprio e aquilo que é estranho. O que significa que cada uma dessas identidades tem um avesso, que é, em muitos casos, de natureza absolutamente hostil.

O senhor não se sentiu orgulhoso durante a Copa do Mundo? A Alemanha nunca teve uma festa popular tão divertida e amigável.

É preciso diferenciar: quanto aos resultados da Copa do Mundo de Futebol, trata-se em primeira linha do esporte e da alegria pelo futebol. Isso não tem nada a ver com orgulho. Eu, pessoalmente, apreciei apenas o esporte, um cruzamento bem feito, um passe bem dado e um gol de craque – nada mais.

A acentuação da identidade nacional alemã precisa necessariamente estar acompanhada da segregação de minorias? Não existe um patriotismo sadio?

É extremamente importante observar que a acentuação do orgulho nacional, na análise causal que fazemos ao longo dos tempos, indica claramente que o orgulho nacional também gera xenofobia. Há que diferenciar de patriotismo, ainda que o conceito de patriotismo sadio não me diga muita coisa. Na nossa análise, o patriotismo não é capaz de produzir desgraças caso seja definido como um orgulho pela democracia alemã ou pela capacidade da sociedade de desenvolver sistemas de segurança social. Mas se limitarmos o orgulho nacional à história alemã ou a frases feitas como "eu tenho orgulho de ser alemão", então é necessário um grande cuidado.