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Parlamento alemão declara Holodomor ucraniano como genocídio

30 de novembro de 2022

Partidos da coalizão do governo Scholz aprovam resolução que classifica morte de milhões de ucranianos nos anos 30, durante o jugo soviético, como "crime contra a humanidade". Ultradireita e esquerda se abstêm.

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Bundestag
Partidos da coalizão do governo Scholz, que têm maioria no Bundestag, e oposição conservadora votaram a favor da resolução Foto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

Deputados alemães aprovaram nesta quarta-feira (30/11) uma resolução que declara as ações do governo soviético que resultaram na morte de milhões de ucranianos entre 1932 e 1933 como genocídio.

O fatídico episódio é chamado de Holodomor, que em ucraniano significa "morte por fome", e foi causado por políticas do regime soviético liderado pelo ditador Josef Stalin.

A resolução também aponta que o Holodomor constitui um "crime contra a humanidade". "A liderança política da União Soviética sob Josef Stalin foi responsável", diz o texto.

Os três partidos da coalizão governista do chanceler federal Olaf Scholz, os 

social-democratas (SPD), verdes e liberal-democratas (FDP), bem como a principal sigla da oposição, os democratas-cristãos (CDU) e a conservadora União Social Cristã (CSU), votaram a favor da resolução no Parlamento (Bundestag).

O deputado verde Robin Wagener disse durante discurso no Parlamento que "a morte pela fome também teve como objetivo a repressão política da identidade nacional, cultura e língua ucranianas". Ele ainda disse que "os paralelos com a atualidade são claros" - um ponto repetido por outros oradores no Parlamento nove meses após o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia.

"A atual guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia está inserida nesta tradição histórica", disse o deputado conservador Volker Ullrich.

 Holodomor  1932/1933
Estima-se que o Holodomor provocou a morte de pelo menos 3,5 milhões de ucranianosFoto: Tass Sindeyev Vladimir/dpa/picture-alliance

Ultradireita e Esquerda se abstêm

Durante a votação da resolução, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e a legenda A Esquerda, que reúnem juntas mais pouco mais de 100 deputados, escolheram se abster.

Estima-se que o Holodomor tenha provocado a morte de pelo menos 3,5 milhões de ucranianos. O episódio foi negado pela União Soviética até 1987, foi muito debatido no final dos anos 80 e e é hoje considerado uma das maiores políticas de extermínio em massa na Europa no século 20, antes do Holocausto.

Oleksii Makeiev
Oleksii Makeiev, embaixador da Ucrânia na Alemanha, disse estar satisfeito com o resultadoFoto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

Em 2006, a Ucrânia reconheceu a grande fome como um genocídio. Todos os anos, no quarto sábado de novembro, o país presta suas homenagens às vítimas no Dia em Memória ao Holodomor.

A Rússia, por outro lado, nega veementemente o genocídio, alegando que não foram apenas ucranianos, mas também russos, cazaques, alemães da região do rio Volga e outros que foram vítimas da grande fome no início da década de 30.

Ao justificar a abstenção, o deputado da AfD Marc Jongen denunciou o que chamou de "instrumentalização da história" e se opôs a uma "equação histórica" ​​com a atual guerra na Ucrânia. Nos últimos anos, deputados da ultradireitista AfD provocaram repúdio na Alemanha por posições pró Putin e por viajarem à Crimeia ocupada.

Já na legenda A Esquerda, que foi em parte fundada por remanescentes do antigo partido comunista da Alemanha Oriental, o deputado Gregor Gysi também alertou contra tentativas de traçar equivalências entre o ditador Adolf Hitler e Josef Stalin: "Stalin era ruim, muito ruim, mas nenhum Hitler", disse.

Embaixador ucraniano elogia resultado

Após a aprovação da resolução, o embaixador da Ucrânia na Alemanha, Oleksii Makeiev, disse à DW estar "muito satisfeito" com a decisão do Bundestag.

"Esta é uma decisão muito importante do Parlamento alemão que os ucranianos esperam há décadas. Também é importante que hoje todos os oradores da coalizão de governo e da oposição façam paralelos com a guerra genocida, que está sendo liderada pela Federação Russa contra a Ucrânia. Portanto, todos esses crimes, crimes genocidas, crimes contra a humanidade e crimes de guerra devem ser punidos."

Alguns historiadores afirmam que Stalin orquestrou propositadamente a fome para eliminar o movimento de independência ucraniano. Outros dizem que o Holodomor foi o resultado das políticas fracassadas da União Soviética para coletivizar terras agrícolas.

Já a resolução apresentada ao Bundestag adotou a seguinte linha: "as mortes em massa por fome não foram resultado de colheitas fracassadas; a liderança política da União Soviética sob Josef Stalin foi responsável por elas."

A Alemanha não é o primeiro país a reconhecer o Holodomor da Ucrânia como genocídio. De acordo com o Museu Holomodor em Kiev, 16 países até agora reconheceram o episódio como genocídio: Austrália, Equador, Estônia, Canadá, Colômbia, Geórgia, Hungria, Letônia, Lituânia, México, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, Estados Unidos e Vaticano.

jps (DW, ots)