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Paul van Dyk: dance music é um ato político

Rodrigo Rimon15 de outubro de 2005

Frank Zappa vira rua em Berlim – Fã abre museu dos Ramones – Visita guiada à cena musical da capital – Comet 2005 premia artistas alemães e decepciona a mídia – Paul van Dyk lança segundo volume de sua Politics of Dance

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Capa do novo CD de Paul van DykFoto: Universal

Este ano o outono está demorando para derrubar as folhas das árvores e a temperatura permanece amena nas principais cidades alemãs. Só em Berlim é que a temperatura subiu horrores. Não devido a nenhuma massa de ar quente, mas à chegada de Robbie Williams, que tomou conta da cidade, onde deu o único show para promover seu novo álbum Intensive Care (veja a coluna do mês passado), que foi transmitido – ao vivo e em alta definição – para 21 lugares em 11 países da Europa. Durante três dias não se falou em outra coisa. Mas nós vamos falar de outras coisas.

Rua Frank Zappa, nº 0

Frank Zappa
Foto de Frank Zappa aos 27 anos em 1968Foto: AP

Berlim deve ganhar ainda neste ano uma rua com o nome de Frank Zappa. Pelo menos lá o músico obteve o devido reconhecimento e deixou os subterrâneos da música, mesmo que seja no afastado e problemático bairro de Marzahn-Hellersdorf. Sintomático que um ícone de uma geração e símbolo da luta contra o racismo e a guerra do Vietnã esteja em casa numa das regiões "preferidas" por skinheads. Ironias da história…

Essa foi a forma que a administração do distrito encontrou para reconhecer e incentivar um projeto situado na rua, a Orwohaus, uma velha fábrica de sete andares comprada por mais de 80 bandas para servir de local de ensaio.

Ramones de volta ao porão

Eles começaram tocando em porões em Nova York e acabaram eternizados em um pequeno museu no bairro berlinense de Kreuzberg. Graças a Florian Hayler, que durante anos colecionou memorabilia dos quatro Ramones e agora as expôs em um porão. E assim criou o primeiro e, por enquanto, único museu do mundo dedicado aos quatro punks, de cuja formação original apenas um ainda vive.

Johnny Ramone
Johnny Ramone, que morreu em 2004, era fã de ElvisFoto: AP

Hayler é editor-assistente da revista Uncle Sally's, especializada em música e cultura pop e distribuída gratuitamente na Alemanha. Hoje com 32 anos, ele é fã dos Ramones desde os 16 – isso é metade de uma vida. Ele juntou cartazes, ingressos, panfletos e capas de discos, até um abridor de cartas, um skate e um short dos Ramones. "Esse short da turnê eu troquei com Johnny Ramone por um pôster do Elvis", disse ao jornal Berliner Zeitung.

Os sons da capital

Turistas, não percam: a partir de agora, a rádio Fritz oferece uma visita guiada à cena musical berlinense de hoje e de ontem. Num ônibus de turismo, equipado com monitores que passam depoimentos de artistas da cidade ou que lá vivem, a visita inclui pontos como a Siegessäule, onde acontece (acontecia? acontecerá?) a Love Parade e de onde Dr. Motte enviava sua mensagem aos fãs de tecno no mundo todo.

Ou o clube Tresor, uma das instituições da cena tecno internacional desde 1991, onde Sven Väth fazia seus DJ-Sets de 12 horas e Paul van Dyk discotecou pela primeira vez, onde foi praticamente composta a trilha sonora da reunificação alemã; o estúdio onde David Bowie gravou hits como Heroes, e onde trabalharam Iggy Pop, Depeche Mode, U2, Nina Hagen e Nena.

Após a divisão da Alemanha em 1961, o estúdio ficou situado em Berlim Ocidental direto no Muro de Berlim, e por isso Bowie carinhosamente o apelidou de "the big hall by the wall". A viagem também passa pelos estúdios da MTV e da Universal, pelo clube SO36, que já foi palco de shows históricos do Einstürzende Neubauten, dos Dead Kennedys e do Exploited.

"Pegar carona nesta cauda de cometa…"

A cidade de Oberhausen foi palco da segunda maior premiação da música pop alemã, o Comet 2005, que só perde para o Echo. Só que este ano o evento teve uma cara bem diferente. Quando o canal alemão VIVA o criou dez anos atrás, o Comet deveria fazer frente ao MTV Video Music Awards. Agora que a VIVA foi devorada pelo consórcio estadunidense Viacom, dono da MTV, a concorrência perdeu o sentido. E o Comet, seu perfil.

Comet 2005 Preisverleihung Oberhausen
Os apresentadores Gülcan Karahanci (e) e Stefan Raab com um dos prêmios nas mãosFoto: dpa

A partir deste ano, exclusivamente artistas alemães concorrem ao prêmio, um globo de vidro colorido que lembra um cinzeiro de mesa dos anos 70.

Mas, em vez de reconhecer aí um amadurecimento da cena nacional, a mídia antes lamentou a decadência do Comet, acusado de haver se tornado apenas um programa de comédia no horário nobre da tevê. Por exemplo, ninguém aproveitou a presença de Robbie Williams na cidade para levantar o moral do evento.

Seja como for, taí a lista dos premiados deste ano. Você já deve ter lido sobre alguns deles aqui na DW Antena. Caso contrário, agüenta que um dia eles pintam por aqui.

Melhor Álbum – Noiz, do Söhne Mannheims

Melhor Banda – Fettes Brot

Melhor Música - Emanuela, do Fettes Brot

Melhor Artista Feminina – Sarah Connor

Melhor Artista Masculino – Gentleman

Melhor Performance Ao Vivo – Silbermond

Melhor Videoclipe – Keine Lust, do Rammstein

Revelação do ano – Tokio Hotel

Melhor Comediante – Oliver Pocher

Leia mais na próxima página sobre o novo disco de Paul van Dyk.

Paul van Dyk: a política da dança

Potsdam, 3 de outubro de 2005. Políticos dos principais partidos marcam presença na celebração oficial do dia da reunificação alemã na cidade situada nas proximidades de Berlim, da qual está separada pelo Rio Havel. Foi-se o tempo em que o caminho de uma à outra chegou a custar a vida dos que se dispunham a atravessar o rio a nado e em que pontes como a Glienicker Brücke eram usadas apenas para trocar espiões entre soviéticos e americanos.

A trilha sonora escolhida para marcar a data este ano foi a música Wir sind wir, composta por Paul van Dyk em parceria com Peter Heppner, do Wolfsheim, e orquestrada para o evento pela Orquestra Cinematográfica de Babelsberg.

Rádio pirata

Paul van Dyk é hoje o comercialmente mais bem-sucedido DJ e produtor de música eletrônica alemão e um dos principais produtos culturais de exportação do país. Quem visita o escritório de seu selo Vandits na avenida Kurfürstendamm pode considerar encerrada sua trajetória da pequena e triste Einsenhüttenstadt, uma cidade mineradora da ex-Alemanha Oriental composta por edifícios pré-fabricados até onde o olhar alcança, onde escutava diariamente a rádio de Berlim Ocidental às escondidas, até um dos mais caros metros quadrados no centro da antiga Berlim Ocidental.

Mas quando tudo parecia alcançado, aos 33 anos Paul van Dyk descobriu seu veio político e missionário. Wir sind wir é um produto disso. Mas não é o primeiro: há quatro anos, van Dyk lançou sua primeira compilação de remixes, The Politics of Dancing, com o intuito de questionar e combater a imagem de hedonística, alienada e movida a drogas imposta à comunidade tecno nos anos 90. Detalhe: ele próprio não usa drogas e diz que não bebe muito.

Paul van Dyk, Reflections
Foto: Universal

Um ato político

Mas esse caminho foi longo. No verão europeu de 1989, Paul e sua mãe conseguiram permissão para viajar à Alemanha Ocidental, pouco antes da queda do Muro. Ele estava no epicentro do tecno e fazia parte de uma geração que depositava em um novo estilo musical as esperanças de um futuro promissor. Já não seria esse um ato político?

Paul virou seus primeiros discos no lendário clube Tresor, aberto no cofre da loja de departamentos Wertheim, destruída durante a guerra. Ele compôs e produziu diversos hits de pista sob codinomes obscuros até que, em 1993, teve de substituir um amigo no Limelight de Nova York e foi "descoberto". Depois só colheu sucessos, foi eleito por várias revistas especializadas Melhor DJ Internacional e até nomeado a um Grammy.

Na Alemanha, ele se posiciona abertamente como um simpatizante da esquerda e recomenda paciência com o programa de reformas da coalizão de verdes e social-democratas. Internacionalmente, engajou-se em iniciativas para ajudar crianças carentes na Índia e se pronunciou contra a guerra no Iraque. Nos EUA, participou da campanha Rock the Vote! pela eleição de John Kerry, concorrente de George W. Bush.

Música eletrônica era subcultura

Mas o fato de ele próprio ser engajado não implica necessariamente que sua música – ou a música eletrônica em geral – tenha um caráter político. Nesse caso, sim. Para ele, a música eletrônica já surgiu como subcultura e teve de criar uma estrutura própria de divulgação, coisa que o rock já tinha. Outro ato que já é político por natureza.

Paul van Dyk, Reflections
Foto: Universal

"O tecno tem um poder diplomático que nenhum congresso internacional pode superar", disse ao jornal Die Welt. A sensação de pertencer a uma comunidade global seria um componente vital para esse tipo de música, que dispensa textos e na qual os compositores permanecem desconhecidos.

Mas a qualidade de sua música deixa muito a desejar para muitos fãs da boa música eletrônica. Inclusive para pessoas que nunca questionaram (nem questionariam!) seu potencial político e transformador, não é essa a questão. Paul van Dyk foi enquadrado por muitos na gaveta do tecno comercial e sua atitude permanece presa ao espírito dos anos 90, do qual essa cena já se emancipou, evoluindo para um processo de composição muito mais híbrido e aberto a misturas.

Mas, embora o aspecto "clássico" em sua música seja visto de um modo um tanto pejorativo, vale lembrar que a vitalidade de sua música deve-se ao tanto de sua personalidade que ele investe em seu trabalho. Por mais que saia em defesa de um estilo que há muito já se transformou, a pista cheia é sempre uma prova do reconhecimento do público de que ele acredita no que faz.

O vencedor do CD Blitzkrieg Pop, do T.Raumschmiere, sorteado por esta coluna no mês passado, é Délcio Marcos Neitzke, de Passo Fundo (RS). Não se preocupe, você será avisado por e-mail e receberá o prêmio no endereço fornecido.