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Pegida é "válvula de escape" e anti-islamismo é "secundário"

14 de janeiro de 2015

Pesquisa conclui que insatisfação com a política é principal motivo que leva manifestantes às ruas de Dresden. Pesquisador vê ressentimentos profundos com a elite política e formadora de opinião da Alemanha.

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Foto: picture-alliance/dpa/Arno Burgi

O típico manifestante do movimento Pegida (sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente") é do sexo masculino, tem boa formação escolar, está empregado e recebe um salário um pouco acima da média, afirma um estudo divulgado nesta quarta-feira (14/01) pela Universidade Técnica de Dresden.

De acordo com o relatório final (pdf, em alemão), a principal motivação que leva os manifestantes às ruas é uma insatisfação generalizada com a política. Em segundo lugar estão as críticas à mídia e à opinião pública. Depois vêm os ressentimentos contra imigrantes e solicitantes de asilo, em especial os muçulmanos. Apenas 23% dos manifestantes citaram "islã, islamismo ou islamização" como motivo para participar dos protestos.

Cerca de 400 pessoas foram entrevistadas em três manifestações no fim de dezembro. Dois em cada três manifestantes abordados pelos pesquisadores se recusaram a participar da pesquisa.

"Mesmo que o Pegida, como o nome sugere, se volte contra a islamização do Ocidente, para a maioria dos participantes as manifestações são sobretudo uma oportunidade de expressar ressentimentos profundos e ainda não articulados com a elite política e formadora de opinião", afirmou o cientista político Hans Vorländer, que conduziu o estudo.

Crise da democracia representativa

Com base nos dados coletados, os pesquisadores traçaram o perfil médio do manifestante do Pegida. Ele recebe um salário acima da média para os padrões da Saxônia, estado do qual Dresden, o centro do movimento Pegida, é a capital.

Além disso, tem em média 48 anos de idade, é homem e é da Saxônia. Ele não pertence a nenhuma confissão religiosa ou partido político. E, de acordo com o estudo, 70% dos participantes possuem um emprego fixo. Só 2% se declararam desempregados. Os aposentados são 18% dos consultados.

Segundo Vorländer, o movimento Pegida é um sinal de uma crise da democracia representativa na Alemanha – uma sensação de que "os de cima" estejam ditando o que "os de baixo" devem fazer. Muitos participantes não estão preparados para aceitar a morosidade das mudanças numa democracia nem os compromissos necessários para que o sistema funcione, explicou Vorländer.

O levantamento da Universidade Técnica de Dresden é o primeiro estudo empírico sobre o movimento Pegida, que a partir da capital da Saxônia se espalhou para outras cidades alemãs, ainda que sem o mesmo sucesso. Na última segunda-feira, cerca de 25 mil adeptos do Pegida marcharam em Dresden. Em contrapartida, aproximadamente 100 mil pessoas foram às ruas em diversas cidades alemãs protestar contra o Pegida e defender a pluralidade da sociedade alemã.

PV/afp/dpa/kna