Partidos ameaçados?
4 de setembro de 2007Anúncio
A grande coalizão que governa a Alemanha apresentou, em agosto, uma sugestão para salvar os partidos políticos do país: 20 milhões de euros adicionais deveriam sair dos cofres públicos a cada ano para reverter a grave situação financeira das agremiações. Sob fortes críticas, a idéia foi logo posta de lado. Mas o debate em torno da proposta evidenciou a profunda crise pela qual passam os partidos políticos, cujo número de filiados cai ano após ano e, com eles, o dinheiro das contribuições.
Serão os partidos um modelo ultrapassado? Cientistas políticos dizem que não. "O sistema político alemão é inimaginável sem partidos. Eles sempre terão uma função central", afirma Oskar Niedermayer, do grupo de pesquisa sobre partidos políticos da Associação Alemã para Ciências Políticas, um dos mais importantes centros de estudo desta área na Alemanha. Klaus Detterbeck, da Universidade de Magdeburg, é da mesma opinião: "Há uma mudança na forma de ação – mas os partidos políticos não perderão importância."
Niedermayer lembra que há décadas já se fala numa suposta crise dos partidos políticos, e "nem por isso eles deixaram de existir." Mas há diversos processos de transformação social em curso na Europa Ocidental que também os afetarão.
Concorrência das ONGs
De um lado, os partidos políticos têm que lidar hoje com a concorrência das organizações não governamentais (ONGs) e dos novos movimentos sociais. "Nos anos 50, quem quisesse agir politicamente tinha de se filiar a um partido, enquanto hoje ele pode ir, por exemplo, para a Attac", comenta Niedermayer.
Especialmente os jovens preferem esse engajamento focado em projetos específicos e por um prazo limitado. E, se a "concorrência" para os partidos aumentou, o número de pessoas interessadas em ter uma participação política não é maior hoje do que era nos anos 50. Detterbeck vai ainda mais longe: muitos potenciais membros de partidos políticos podem mesmo deixar a política completamente de lado em favor dos movimentos sociais.
Niedermayer avalia também que os círculos clássicos nos quais os partidos políticos estavam enraizados se dissolveram. Como igrejas e sindicatos também sofrem com a falta de membros, eles deixam de servir como "espaço de recrutamento" para os partidos políticos.
"Até mesmo o comportamento das pessoas em relação ao seu tempo livre mudou", comenta Niedermayer. "Elas não dependem mais dos partidos políticos como formadores de opinião e difusores de informações."
Pequenos são menos afetados
Para Detterbeck, há ainda outra mudança fundamental no sistema partidário: a decisões são tomadas freqüentemente por políticos profissionais nas bancadas parlamentares ou nas comissões especializadas. "As bases só participam marginalmente das decisões."
Uma tendência que parece ser irreversível. "Processos de decisão complexos exigem profissionais especializados. É inimaginável que um cidadão comum use seu tempo livre para desenvolver idéias sobre a política energética européia", exemplifica Detterbeck. Segundo ele, isso contribui para tornar cada vez menos atrativa a participação num partido político.
Já Niedermayer diz não acreditar que a fuga de filiados esteja relacionada às reduzidas oportunidades de participação interna. Nem todos os partidos são atingidos da mesma forma pelo fenômeno: principalmente os pequenos, que não precisam defender interesses de grupos heterogêneos, têm poucos problemas com filiados.
A Esquerda afeta os social-democratas
O Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) é o mais afetado pela queda no número de filiados. No final de 2006, em torno de 560 mil pessoas integravam o partido – no início dos anos 1990, eram mais de 900 mil. Na CDU, principal rival dos social-democratas, também diminuiu o número de membros, mas menos: de 658 mil para 553 mil no mesmo período.
No entanto, a perda de filiados do SPD não está relacionada à sua atual liderança, salienta Niedermayer, lembrando que "o problema não surgiu nos últimos 18 meses". A dissolução dos seus ambientes tradicionais e a transformação econômica, que trouxe consigo a diminuição da classe trabalhadora, acertaram em cheio o SPD.
A isso, soma-se o impopular programa de reformas Agenda 2010, que acarretou uma onda de desligamento de filiados, e o aumento da concorrência no espectro político de esquerda, primeiramente pelo Partido Verde, mais tarde pelo recém-fundado partido A Esquerda.
"Em médio prazo, o SPD terá que aprender a lidar com A Esquerda", acrescenta Niedermayer, por mais que o furor em torno do partido tenha passado e os almejados prognósticos de 20% dos votos sejam "típicos de contos de fadas".
Mesmo assim, Niedermayer prevê que o partido continuará tendo representantes no Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão), bem como nos governos dos estados da antiga Alemanha Oriental e, futuramente, mesmo em alguns estados do oeste do país.
"Na Escandinávia também houve partidos que se estabeleceram mais à esquerda que os social-democratas no espectro político", compara Detterbeck. "Trata-se, em parte, de partidos relativamente populistas, mas isso é o suficiente para mantê-los nos parlamentos."
Tempos nada fáceis
A dificuldade para encontrar novos membros é um problema de todos os partidos. "E eles não aceitam isso com indiferença", afirma Detterbeck. "Criar estímulos, remover obstáculos, gerar oportunidades" são as medidas que os partidos políticos tomam para combater a queda do número filiados e o seu envelhecimento.
Eles criam novas maneiras de participação (por exemplo por meio de eleições primárias diretas), diminuem as barreiras para ingresso na agremiação e procuram atrair novos membros através de projetos locais.
"Tudo isso funciona de certa forma, mas não gera centenas de filiações", avalia Niedermayer. "Não está prevista uma era dourada para o futuro próximo. Os partidos terão que fazer de tudo para manter constante o seu número de sócios."
Serão os partidos um modelo ultrapassado? Cientistas políticos dizem que não. "O sistema político alemão é inimaginável sem partidos. Eles sempre terão uma função central", afirma Oskar Niedermayer, do grupo de pesquisa sobre partidos políticos da Associação Alemã para Ciências Políticas, um dos mais importantes centros de estudo desta área na Alemanha. Klaus Detterbeck, da Universidade de Magdeburg, é da mesma opinião: "Há uma mudança na forma de ação – mas os partidos políticos não perderão importância."
Niedermayer lembra que há décadas já se fala numa suposta crise dos partidos políticos, e "nem por isso eles deixaram de existir." Mas há diversos processos de transformação social em curso na Europa Ocidental que também os afetarão.
Concorrência das ONGs
De um lado, os partidos políticos têm que lidar hoje com a concorrência das organizações não governamentais (ONGs) e dos novos movimentos sociais. "Nos anos 50, quem quisesse agir politicamente tinha de se filiar a um partido, enquanto hoje ele pode ir, por exemplo, para a Attac", comenta Niedermayer.
Especialmente os jovens preferem esse engajamento focado em projetos específicos e por um prazo limitado. E, se a "concorrência" para os partidos aumentou, o número de pessoas interessadas em ter uma participação política não é maior hoje do que era nos anos 50. Detterbeck vai ainda mais longe: muitos potenciais membros de partidos políticos podem mesmo deixar a política completamente de lado em favor dos movimentos sociais.
Niedermayer avalia também que os círculos clássicos nos quais os partidos políticos estavam enraizados se dissolveram. Como igrejas e sindicatos também sofrem com a falta de membros, eles deixam de servir como "espaço de recrutamento" para os partidos políticos.
"Até mesmo o comportamento das pessoas em relação ao seu tempo livre mudou", comenta Niedermayer. "Elas não dependem mais dos partidos políticos como formadores de opinião e difusores de informações."
Pequenos são menos afetados
Para Detterbeck, há ainda outra mudança fundamental no sistema partidário: a decisões são tomadas freqüentemente por políticos profissionais nas bancadas parlamentares ou nas comissões especializadas. "As bases só participam marginalmente das decisões."
Uma tendência que parece ser irreversível. "Processos de decisão complexos exigem profissionais especializados. É inimaginável que um cidadão comum use seu tempo livre para desenvolver idéias sobre a política energética européia", exemplifica Detterbeck. Segundo ele, isso contribui para tornar cada vez menos atrativa a participação num partido político.
Já Niedermayer diz não acreditar que a fuga de filiados esteja relacionada às reduzidas oportunidades de participação interna. Nem todos os partidos são atingidos da mesma forma pelo fenômeno: principalmente os pequenos, que não precisam defender interesses de grupos heterogêneos, têm poucos problemas com filiados.
A Esquerda afeta os social-democratas
O Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) é o mais afetado pela queda no número de filiados. No final de 2006, em torno de 560 mil pessoas integravam o partido – no início dos anos 1990, eram mais de 900 mil. Na CDU, principal rival dos social-democratas, também diminuiu o número de membros, mas menos: de 658 mil para 553 mil no mesmo período.
No entanto, a perda de filiados do SPD não está relacionada à sua atual liderança, salienta Niedermayer, lembrando que "o problema não surgiu nos últimos 18 meses". A dissolução dos seus ambientes tradicionais e a transformação econômica, que trouxe consigo a diminuição da classe trabalhadora, acertaram em cheio o SPD.
A isso, soma-se o impopular programa de reformas Agenda 2010, que acarretou uma onda de desligamento de filiados, e o aumento da concorrência no espectro político de esquerda, primeiramente pelo Partido Verde, mais tarde pelo recém-fundado partido A Esquerda.
"Em médio prazo, o SPD terá que aprender a lidar com A Esquerda", acrescenta Niedermayer, por mais que o furor em torno do partido tenha passado e os almejados prognósticos de 20% dos votos sejam "típicos de contos de fadas".
Mesmo assim, Niedermayer prevê que o partido continuará tendo representantes no Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão), bem como nos governos dos estados da antiga Alemanha Oriental e, futuramente, mesmo em alguns estados do oeste do país.
"Na Escandinávia também houve partidos que se estabeleceram mais à esquerda que os social-democratas no espectro político", compara Detterbeck. "Trata-se, em parte, de partidos relativamente populistas, mas isso é o suficiente para mantê-los nos parlamentos."
Tempos nada fáceis
A dificuldade para encontrar novos membros é um problema de todos os partidos. "E eles não aceitam isso com indiferença", afirma Detterbeck. "Criar estímulos, remover obstáculos, gerar oportunidades" são as medidas que os partidos políticos tomam para combater a queda do número filiados e o seu envelhecimento.
Eles criam novas maneiras de participação (por exemplo por meio de eleições primárias diretas), diminuem as barreiras para ingresso na agremiação e procuram atrair novos membros através de projetos locais.
"Tudo isso funciona de certa forma, mas não gera centenas de filiações", avalia Niedermayer. "Não está prevista uma era dourada para o futuro próximo. Os partidos terão que fazer de tudo para manter constante o seu número de sócios."
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