Língua alemã
10 de novembro de 2010Na última terça-feira (09/11), representantes da Associação do Idioma Alemão (VDS) e da Associação para as Relações Culturais Alemãs no Exterior (VDA) entregaram cerca de 50 mil assinaturas ao presidente do Parlamento alemão, Norbert Lammert, reivindicando que o alemão seja adotado como língua oficial no país.
"O idioma da Alemanha é o alemão". É a frase que a VDS espera ver futuramente na Lei Fundamental. "Acreditamos que o alemão desfrute de pouco prestígio em nossa sociedade", afirma Holger Klatte, porta-voz da associação, referindo-se ao peso do inglês na ciência, tecnologia e outras áreas. "Com a inclusão do alemão na Lei Fundamental, a importância da língua seria outra", diz.
Há dois anos a associação chegou a um estágio vitorioso com o apoio do partido conservador União Democrata Cristã (CDU). No entanto, na coalizão de governo com o Partido Liberal Democrático (FDP), a reivindicação perdeu força.
O jornal alemão Bild aderiu à campanha e recrutou seus leitores para enviarem uma carta à VDS, onde consta, entre outros, a afirmação: "eu não quero famílias de imigrantes que, na sua terceira geração, ainda se recusam a aprender corretamente o idioma do país onde vivem".
Sentimento de exclusão
Mesmo que uma mudança constitucional seja barrada, porque são necessários dois terços de maioria nas duas câmaras do Parlamento, o debate entre os grupos de imigrantes continua acirrado. "Isso ameaça a convivência pacífica", afirma Karamba Diaby, presidente do Conselho Federal de Imigração e Integração. "E reforça o clima negativo na Alemanha, passando a imagem aos grupos étnicos de que 'vocês não são um de nós'".
A afirmação em si não é apenas desnecessária, mas também perigosa: "a consolidação da língua alemã na Lei Fundamental se aproxima de uma exigência de assimilação – e isso não é útil para a convivência", afirma Diaby.
"Nem tudo precisa estar incorporado à Constituição - e o fato de o alemão ser a língua oficial da Alemanha é evidente", diz Mehmet Tanriverdi, presidente do Comitê de Trabalho Nacional das Associações de Imigrantes. "Quando as pessoas imigram, trazem com elas sua cultura, e a língua faz parte disso devendo, portanto, ser preservada".
Kenan Kolat, presidente da Federação Turca da Alemanha, teme que tal resolução possa levar a situações como a proibição do uso de qualquer outra língua se não o alemão nos intervalos das escolas. Ele questiona ainda que uma mudança na lei não pode provocar uma mudança na língua do país. No entanto, caso venha a se tornar legal, Kolat espera ver uma subcláusula incluída: "o Estado respeita a identidade cultural e linguística das minorias".
A ameaça do anglicismo
A VDS esclarece que não é contra o fato de as pessoas falarem outros idiomas. "Imigrantes devem ser encorajados a falar suas línguas nativas", afirma Klatte. Segundo a associação, a língua está em risco não por causa dos imigrantes, mas pelo uso crescente do anglicismo e por não criar um novo vocabulário. "A língua não está se desenvolvendo", diz Klatte.
No entanto, alguns questionam que a adoção de palavras em inglês é parte do processo natural da língua. "Frequentemente o anglicismo cobre lacunas temporárias", afirma Doris Steffens, do Instituto da Língua Alemã de Mannheim. "Pegar emprestado palavras de outros idiomas tem acontecido há séculos – do francês e ainda antes do latim", diz Steffens. "O idioma alemão não é uma grandeza absoluta, que possa ser colocado em uma lei. É um sistema em constantes mudanças ", finaliza.
Autor: Dennis Stute (mda)
Revisão: Carlos Albuquerque