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Peça brasileira é encenada em penitenciária alemã

Marion Andrea Strüssmann, de Colônia25 de junho de 2002

O grupo paulista Teatro da Vertigem abriu o 9º festival "Teatro do Mundo", na Alemanha, com a peça "Apocalipse 1,11", encenada numa penitenciária de Colônia.

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"Apocalipse 1,11", de Antônio Araújo, aborda o massacre na prisão de CarandiruFoto: Lenise Pinheiro

Baseada em textos da Bíblia e nas obras As Observações sobre as Profecias de Daniel e Apocalipse de São João, de Isaac Newton, além de A Profecia sobre o Fim do Mundo, de Leonardo da Vinci, a peça Apocalipse 1,11 busca traçar um paralelo entre a realidade da sociedade moderna, as crenças e os valores culturais, com ênfase no massacre ocorrido em 1992 na penitenciária paulista do Carandiru, a maior da América Latina, que resultou na morte de 111 presos amotinados.

O público não exerce o papel de mero espectador. Ele é cúmplice e colaborador por estar integrado em um contexto que exige sua participação. Não é possível escapar. Todos estão literalmente presos, à mercê dos personagens que, além de imprevisíveis, circulam por vários cenários capazes de causar arrepios.

Logo na chegada, o público é envolto pela atmosfera da penitenciária de Köln-Ossendorf e recepcionado por uma mulher, que garante ter visto Jesus Cristo. Enquanto ela caminha entre os espectadores, João, o protagonista, chega com uma mala e pára no portão principal. As pessoas acompanham o personagem e têm acesso ao presídio depois de passarem por uma revista, esta sim, verdadeira.

O que acontece daí em diante é uma sucessão de encontros inesperados. Anjos rebeldes, imagens santas personificadas, mensageiros e prostitutas são alguns dos personagens que retratam um cotidiano bem familiar. O espetáculo não se restringe a um palco e uma platéia, mas percorre um itinerário pelo interior da penitenciária.

Um dos pontos altos da peça é a boate Nova Jerusalém, um típico inferninho de baixa categoria que oferece um show de luxúria e promiscuidade, capaz de chocar não apenas os conservadores.

A cena numa ala desativada da penitenciária, onde presos são perseguidos e mortos, é outro momento forte de Apocalipse 1,11. O público observa tudo bem de perto, no próprio corredor, e se sente impotente perante a barbárie. Como João, os espectadores também acompanham um julgamento, onde justiça é o que menos importa.

Patamar internacional –

Apocalipse 1,11 não é uma peça de entretenimento. É um convite à reflexão sobre os valores sociais, religiosos e culturais. O elenco, formado por excelentes profissionais, é prova de que o teatro brasileiro já atingiu patamar internacional. Embora a montagem tenha sido toda falada em português, o público pôde acompanhar o desenrolar da história através da leitura de uma sinopse em alemão, entregue antes do início do espetáculo.

Os comentários foram bastante positivos, apesar da barreira do idioma. Até os funcionários e diretores da penitenciária, que assistiram à peça, aplaudiram com entusiasmo os atores. Os detentos de Ossendorf não puderam acompanhar o espetáculo.

Apocalipse 1,11

está sendo apresentado seis vezes até o dia 30 de junho, sempre na penitenciária de Köln-Ossendorf. O espetáculo faz parte do festival "Teatro do Mundo", que acontece até o final do mês nas cidades de Bonn, Colônia, Düsseldorf e Duisburg, contando com a participação de 35 companhias de teatro, além de seis projetos de performance, 12 filmes e uma série de palestras.