PF faz operação contra suposto esquema envolvendo a Codevasf
20 de julho de 2022A Polícia Federal (PF) realizou nesta quarta-feira (20/07) uma operação para tentar combater uma suposta quadrilha, suspeita de desviar recursos públicos federais de contratos com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), no Maranhão.
A chamada Operação Odoacro investiga os crimes de fraudes em licitações, lavagem de dinheiro e associação criminosa – penas que, somadas, podem chegar a 16 anos de prisão.
Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Luís, Dom Pedro, Codó, Santo Antônio dos Lopes e Barreirinhas, e 80 policiais participaram das diligências. A PF apreendeu R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo e bens de luxo, como relógios.
O que é a Codevasf
A Codevasf é uma estatal federal criada em 1974, durante a ditadura militar, e originalmente incumbida de realizar obras e serviços nas margens do Rio São Francisco.
Sua área de atuação foi progressivamente ampliada e hoje abrange municípios do Nordeste, Norte e Sudeste, e o Distrito Federal, que equivalem a 36,6% do território nacional. A empresa já foi alvo de diversos escândalos de corrupção em sua história.
A Codevasf é hoje comandada por pessoas de confiança do Centrão, grupo de partidos que apoia o presidente Jair Bolsonaro, e sob seu governo tornou-se destino preferencial de emendas parlamentares. A estatal beneficiou-se especialmente das chamadas emendas de relator, sobre as quais falta transparência e que foram apelidadas de "orçamento secreto".
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, de 2018 a 2021, o valor reservado no orçamento para a Codevasf subiu de R$ 1,3 bilhão para R$ 3,4 bilhões, e os recursos provenientes de emendas cresceram de R$ 302 milhões para R$ 2,1 bilhões no mesmo período.
A Codevasf é vantajosa como destino de emendas parlamentares, pois tem mais agilidade para executar obras e comprar maquinários do que um ministério do governo federal. Durante o governo Bolsonaro, a área de atuação da Codevasf passou por sua maior ampliação, para abranger também o Amapá, o Rio Grande do Norte e a Paraíba.
Quais são as suspeitas
A PF afirma que o esquema tem em seu centro a empresa Construservice, da qual Eduardo Costa Barros, que foi preso temporariamente nesta quarta-feira, seria sócio oculto. A empresa é a segunda que mais fechou contratos com a Codevasf no governo Bolsonaro.
Segundo a investigação, foram criadas empresas de fachada em nome de "laranjas" para simular competições durante licitações, mas, no final, quem ganhava era sempre a Construservice. Segundo a PF, quem operava essas empresas de fachada era Barros.
Um esquema semelhante já havia sido alvo de uma operação da Polícia Civil em 2015 que investigou um esquema que teria desviado R$ 100 milhões de 42 prefeituras do Maranhão. Na época, porém, tratava-se de verbas municipais.
"Após a referida operação policial, notou-se que o esquema criminoso não recuou, ao contrário, acabou crescendo exponencialmente nos anos posteriores, alterando, apenas, a origem da verba desviada – que passou a ser federal", afirmou a PF.
bl/av (ots)