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Preso 2º suspeito por desaparecimento de Phillips e Pereira

15 de junho de 2022

Homem é irmão de pescador que já está preso por suspeita de envolvimento no caso. Buscas por indigenista e jornalista britânico na Amazônia entram no 11º dia.

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Buscas na Amazônia
Buscas pela dupla continuam no AmazonasFoto: Brazilian Ministry Of Defense/Handout via REUTERS

A Polícia Federal informou na noite de terça-feira (14/06) que prendeu mais um suspeito de envolvimento no desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, na região do Vale do Javari. O suspeito foi identificado como Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como "Dos Santos", de 41 anos. Ele é irmão do pescador Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", outro suspeito de envolvimento no caso.

A PF informou ainda que Oseney foi interrogado na terça-feira e seria posteriormente encaminhado para uma audiência de custódia na Justiça em Atalaia do Norte.

"Além disso, houve o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão expedidos pelo Poder Judiciário em Atalaia do Norte (AM) tendo sido apreendidos alguns cartuchos de arma de fogo e um remo, os quais serão objeto de análise", diz nota divulgada pela PF.

De acordo com a agência Pública, o delegado Alex Peres afirmou que testemunhas colocaram os dois no local onde supostamente ocorreu o crime. Questionado pela agência sobre qual seria o crime sob investigação, o delegado respondeu: "suposto homicídio qualificado".

Até o momento, nove pessoas foram ouvidas pela PF. Entre elas, a mulher de Amarildo.

Amarildo foi preso no dia 7 de junho, após a Polícia Militar realizar buscas em sua casa, na qual foram encontradas uma porção de droga e munição de uso restrito das Forças Armadas. Em 10 de junho, a PF informou que faria uma perícia no que acreditava ser material genético encontrado na lancha de Amarildo.

Dom Phillips e Bruno Pereira foram vistos pela última vez em 5 de junho, enquanto viajavam pelo Vale do Javari, região remota do estado do Amazonas e palco de conflitos entre invasores e indígenas. Segundo informações da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), da qual Pereira fazia parte, o indigenista era alvo de ameaças constantes de madeireiros, garimpeiros e pescadores da região.

Desde então, membros das forças de segurança e voluntários indígenas passaram a vasculhar a área.

Na última sexta-feira, a Polícia Federal no Amazonas informou que equipes de busca chegaram a encontrar material orgânico "aparentemente humano" em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte. O material ainda está sendo periciado.

No domingo, a Polícia Federal também divulgou que foram encontrados objetos pessoais pertencentes aos desaparecidos: um cartão de saúde em nome de Bruno Pereira; uma calça, um chinelo e botas pertencentes ao indigenista; botas e uma mochila pertencentes a Dom Phillips contendo roupas.

Embaixada pede desculpas

O embaixador brasileiro no Reino Unido, Fred Arruda, pediu desculpas na terça-feira à família de Dom Phillips após a representação diplomática ter informado incorretamente que o corpo do jornalista britânico havia sido encontrado na Amazônia, juntamente com o do indigenista Bruno Pereira.

Na manhã de segunda-feira, um funcionário da embaixada brasileira havia ligado para a irmã e o cunhado do jornalista, informando que os corpos dele e de Pereira haviam sido encontrados amarrados a uma árvore.

A informação incorreta acabou sendo repassada à imprensa pela mulher do jornalista, Alessandra Sampaio, e divulgada por vários veículos de comunicação do Brasil e do exterior. Logo depois, a Polícia Federal e a Univaja negaram que os corpos tivessem sido efetivamente encontrados e afirmaram que as buscas pela dupla prosseguem.

Nesta terça-feira, Arruda escreveu à família de Phillips para pedir desculpas. "Lamentamos profundamente que a embaixada tenha passado à família ontem informações que não se mostraram corretas", disse. De acordo com o diplomata brasileiro, uma equipe multiagências criada na embaixada em Londres para lidar com o caso havia sido "enganada" por informações recebidas de "investigadores".

"Pensando bem, houve precipitação por parte da equipe multiagências, pelo que peço desculpa de todo o coração", acrescentou Arruda. Segundo o diplomata, "a operação de busca vai continuar, sem poupar esforços".

Os desaparecidos

Bruno Araújo Pereira é um dos funcionários mais experientes da Funai que atua na região do Vale do Javari. Ele supervisionou o escritório regional da entidade antes de sair em licença.

Pereira também foi o responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai até outubro de 2019, quando foi exonerado por pressão política, já no governo Bolsonaro e quando a Funai estava sob a jurisdição do então ministro da Justiça Sergio Moro. Em seu lugar, foi indicado um delegado da Polícia Federal, apoiado pela bancada ruralista.

Segundo entidades, Pereira era alvo constante de ameaças de pescadores e caçadores ilegais.

"A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal, o Ministério Público Federal em Tabatinga, o Conselho Nacional de Direitos Humanos e o Indigenous Peoples Rights International", disse a Univaja em nota.

O jornalista Dom Phillips
O jornalista Dom PhillipsFoto: Joao LAET/AFP

Dom Phillips, jornalista veterano e colaborador do The Guardian, de 57 anos, vive no Brasil há 15 anos. Ao longo da sua carreira, ele também escreveu para vários outros veículos internacionais, incluindo Financial Times, New York Times e Washington Post, além de ter produzido reportagens para o serviço em inglês da Deutsche Welle (DW).

Antes de desaparecer, Phillips trabalhava num livro sobre preservação da Amazônia, com apoio da Fundação Alicia Patterson, que lhe concedeu uma bolsa de um ano para reportagens ambientais, que durou até janeiro.

"Ele é um jornalista cauteloso, com um conhecimento impressionante das complexidades da crise ambiental brasileira", escreveu Margaret Engel, diretora executiva da Fundação Alicia Patterson, em um e-mail.

jps/lf (ots)