Planos de megashow em Düsseldorf causam polêmica
15 de agosto de 2020Os ingressos para o Give Live a Chance, um grande show para 13 mil espectadores marcado para setembro na cidade alemã de Düsseldorf já estão sendo vendidos, mas ainda não está certo se o evento vai realmente acontecer. A decisão será tomada no final de agosto e vai depender da situação por causa da pandemia do novo coronavírus. Em tempos normais, o show provavelmente não causaria alvoroço, mas, em tempos de covid-19, a ideia provocou discussões acaloradas.
Devido à pandemia, grandes festivais de música foram cancelados em todo o mundo. Agora, após concertos virtuais ou cinemas drive-in e shows em piqueniques ao ar livre, organizadores começam a ousar novamente com as primeiras apresentações em local fechado diante de um público em pequena escala - sob rígidas regras, é claro.
Nessa fase de retorno cauteloso, o plano do produtor Marek Lieberberg causou polêmica. Sua agência, a Live Nation Germany, anunciou para o dia 4 de setembro um grande concerto na Alemanha com 13 mil espectadores no estádio com teto retrátil (Merkur Spiel-Arena) em Düsseldorf. No evento, são esperados artistas como o cantor canadense Bryan Adams, a cantora alemã Sarah Connor e o cantor e guitarrista irlandês Rea Garvey.
Os 13 mil espectadores previstos para o show representariam, portanto, cerca de 23% de sua capacidade. O conceito de Lieberberg, conforme as rígidas regras de distanciamento e higiene devido à pandemia do coronavírus, já foi acertado com as autoridades locais.
Aumento de infecções em aglomerações
Com o evento "Give Live a Chance", o organizador Marek Lieberberg quer passar uma mensagem. "É muito importante que as pessoas recebam um sinal de esperança, de que a indústria, os fãs, os artistas e os muitos prestadores de serviços também tenham motivos para ter esperança novamente", disse ele em entrevista à DW. Em contraste com os setores culturais financiados pelo Estado, como ópera ou teatro, a indústria de eventos do setor privado recebe apenas uma fração da assistência financeira criada em função da pandemia do coronavírus.
Marek Lieberberg é um dos maiores promotores de shows na Alemanha. Ele organiza, entre outras coisas, o festival "Rock am Ring", que atraiu 70 mil espectadores em 2019 e este ano - como muitos outros eventos - teve de ser cancelado devido à pandemia.
Lieberberg mal pôs seus planos sobre a mesa e já teve que enfrentar a resistência da Secretaria da Saúde da Renânia do Norte-Vestfália. O secretário estadual Karl-Josef Laumann questiona a base legal para a realização do show e alerta sobre a complexa situação de risco de infecção no final da temporada de férias. “Nesta situação, encorajar gente de toda a Alemanha a viajar pelo país para Düsseldorf e se juntarem a outros milhares é simplesmente irresponsável", explicou.
Como a cidade de Düsseldorf verificou em detalhes se o concerto pode cumprir todas as regulamentações da Portaria de Proteção contra o Coronavírus, o prefeito Thomas Geisel não vê nenhum impedimento legal. Marek Lieberberg tampouco entende as reações do governo estadual, e atribui tais disputas sobretudo a conflitos de interesse devido à campanha eleitoral para as eleições municipais de setembro.
Entre as várias medidas tomadas no conceito de higiene e segurança, estão a admissão em grupos e em diferentes horários e a exigência de uso de máscara enquanto sentados. "Cada espaço é concebido de forma a garantir um distanciamento de um metro e meio para a frente, para trás e para os lados", afirma Marek Lieberberg. A cobertura do estádio permanecerá aberta.
Ainda que fãs de pop e rock não sejam exatamente conhecidos por ficarem sentados quietinhos em suas cadeiras durante shows, Lieberberg está firmemente convencido do senso de responsabilidade de seu público. "Não estamos lidando com hooligans nem com gente que se confronta durante um evento. Todos vêm com um objetivo, ou seja, curtir a música." Para que tudo permaneça tranquilo, o álcool deve ser banido e as apresentações dos músicos serão por vezes acústicas, ou seja, sem amplificação elétrica dos instrumentos.
Receios pelo setor
Lieberberg acrescenta que sua iniciativa já atraiu atenção em todo o mundo, principalmente na Europa e nos EUA, onde grandes shows estão fora de questão em muitas regiões devido à situação provocada pela covid-19. "Tudo isso provocou ondas enormes. É claro que as pessoas anseiam por cultura, anseiam por shows."
Obviamente, nenhuma aglomeração em áreas públicas é isenta de riscos, mas isso se aplica a todas as situações em que há encontros, diz Lieberberg, aludindo às aglomerações em manifestações, locais públicos e praias populares, onde não há mais como controlar as regras de distanciamento, sobretudo nos fins de semana. "Temos uma situação muito melhor aqui em Düsseldorf, no estádio, do que em todos os outros lugares cobiçados deste país no fim de semana."
Sem grandes eventos, Lieberberg teme pelo futuro do setor. Ele sente falta de um plano do governo para tornar novamente possíveis os grandes eventos de forma gradual. Pequenos concertos já começaram na Lanxess Arena de Colônia, com um limite máximo de 2,4 mil espectadores. Para Lieberberg, isso não é opção, também por razões financeiras: "Não podemos organizar para mil espectadores um concerto projetado para 10 mil. Precisamos de uma certa capacidade de vendas para eventos assim."
Ainda assim, cientistas já estão se preocupando com a questão dos grandes eventos. Um "experimento de coronavírus" com o cantor e compositor Tim Bendzko está em andamento no Hospital Universitário de Halle, em Saxônia-Anhalt. Como parte do projeto Restart-19, o show marcado para o dia 22 de agosto na Arena de Leipzig deverá equipar cerca de 4 mil voluntários com dispositivos de rastreamento, uma espécie de detector de movimento e garrafas com desinfetante fluorescente, a fim de determinar uma possível disseminação da covid-19. Os pesquisadores querem desenvolver um modelo matemático para calcular o risco de um surto de coronavírus após eventos do gênero.
Enquanto isso, "Give Live a Chance" é a primeira tentativa de Marek Lieberberg de fazer a diferença, pelo menos ao ar livre. No dia 3 de setembro, o Berlin Waldbühne quer recomeçar com shows em espaços abertos sob o lema "Back to live". Dos 22,2 mil assentos, um máximo de 5 mil serão ocupados. Em termos percentuais, isso corresponde aproximadamente à ocupação no estádio de Düsseldorf.
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