Sul do Sudão
8 de janeiro de 2011Às vésperas da votação sobre a independência do sul do Sudão, tanto Berlim quanto Washington, Londres e Paris insistiam para que a paz fosse mantida no país, independentemente do resultado das urnas. Contudo, os apelos não fazem esquecer o fato de que no passado o Ocidente dedicou pouco interesse aos atritos entre o norte e o sul do país africano.
Wolfram Lacher, especialista em assuntos sudaneses do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), explica a situação:
"Nos últimos anos, a atenção da comunidade internacional sobre o Sudão oscilou muito. Quer dizer: entre 2003 e 2005 Darfur esteve no fim da lista de prioridades, para que o acordo de paz norte-sul não fosse ameaçado. Depois que este foi assinado, a atenção se voltou maciçamente para Darfur."
No último ano, o interesse mudou mais uma vez: Darfur perdeu importância, em favor do processo de paz entre as duas partes do Sudão, segundo Lacher. Mesmo assim, o engajamento chegou tarde demais, prejudicando o plebiscito.
Diversos tópicos do acordo de paz ou não foram implementados ou foram postos em vigor com atraso. Um exemplo é que tanto o norte como o sul demoraram demais a realizar um recenseamento para verificar o número de eleitores para o plebiscito. Até hoje, o sul questiona os dados do censo, fato que poderá utilizar mais tarde para colocar em dúvida o resultado do referendo.
Influência ocidental restrita
À medida que se aproximava a data do plebiscito, voltou a crescer o interesse internacional pelo Sudão. No início de outubro de 2010, a revista Africa Confidential noticiava que o país africano era a terceira prioridade para a política externa dos Estados Unidos, logo após o Iraque e o Afeganistão. Diversos enviados especiais circularam entre Washington, a capital sudanesa (Cartum) e o sul do país.
No entanto, peritos como Peter Schumann, antigo coordenador da missão das Nações Unidas no Sudão (Unmis, na sigla em inglês), classificam como modesta a influência das nações ocidentais sobre os acontecimentos no país. Uma das razões para tal é sua política no passado.
"Cartum soube jogar com maestria os interesses próprios dos diferentes Estados, opondo-os uns aos outros. Os EUA, por exemplo, cooperaram estreitamente com o governo sudanês na luta contra o terrorismo, que era sua meta principal. Na realidade, por este motivo foi rechaçada uma mudança de regime", analisa Schumann.
Enquanto tanto Africa Confidential quanto o jornal Washington Post relatam uma aproximação entre os serviços secretos norte-americano e sudanês, o Sudão consta oficialmente da lista dos países que apoiam o terrorismo internacional. Especialistas creem que os EUA farão ofertas e concessões ao regime sudanês, para que a cooperação informal existente entre os dois países são seja afetada. Nesse sentido, Washington já considerou até suspender as sanções econômicas contra a nação africana.
Dívida externa e engajamento
A dívida externa sudanesa – um dos principais pomos da discórdia – é um outro instrumento que as potências industriais ocidentais podem acionar no contexto das negociações norte-sul. Caso o sul se torne independente, o norte do Sudão pretende empurrar parte de suas dívidas para o novo Estado, algo que o sul rejeita veementemente.
Aqui, o analista Wolfram Lacher vê uma chance para os países ocidentais exercerem um papel de mediação. Importante, segundo o especialista, é que ambos os lados sejam considerados, o que poderá tornar o Norte mais flexível em alguns pontos.
Na qualidade de diplomata experiente, Peter Schumann tem um outro conselho para os governos ocidentais: mais engajamento in loco.
"O importante é uma presença, não apenas nas capitais, mas sim abrangente – como a que a missão da ONU e os representantes da sociedade civil internacional vêm mantendo, até certo ponto. Essa é uma contribuição muito mais importante, para deixar claro às pessoas, nas aldeias e nas cidades, de que alguém está observando a situação."
O plebiscito sobre a eventual independência do sul do Sudão se inicia neste domingo (09/01).
Autor: D. Pelz / P. Brooks / A. Valente
Revisão: Marcio Damasceno