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CriminalidadeFrança

França prende mais dois suspeitos após ataque em Nice

1 de novembro de 2020

Autoridades já têm seis pessoas sob custódia suspeitas de ligação com o autor do atentado a faca que deixou três mortos em igreja na cidade francesa, incluindo uma brasileira.

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Basílica Notre-Dame, em Nice, repleta de flores em homenagem aos mortos no ataque
Basílica Notre-Dame, em Nice, repleta de flores em homenagem aos mortos no ataqueFoto: Marina Strauß/DW

A polícia francesa prendeu mais duas pessoas suspeitas de envolvimento no ataque com faca perpetrado na semana passada em uma igreja em Nice, no sul do país. O atentado deixou três mortos, incluindo uma brasileira.

Com isso, as autoridades já têm sob custódia seis suspeitos, enquanto investigam a possível ligação deles com o tunisiano de 21 anos apontado como o autor do ataque na Basílica Notre-Dame.

Segundo informaram fontes judiciais neste domingo (01/11), as últimas pessoas detidas têm 25 e 63 anos e foram presas no sábado na residência de outro suspeito detido mais cedo no mesmo dia. Além deles, outros três suspeitos de ligação com o agressor foram presos entre quinta e sexta-feira.

Os investigadores acreditam que o autor do atentado chegou à Europa em 20 de setembro, através da ilha italiana de Lampedusa, ponto de entrada para migrantes que cruzam em barcos a partir do Norte da África. Ele teria então seguido para a cidade italiana de Bari no início de outubro, num navio usado para colocar migrantes em quarentena.

Uma investigação paralela foi aberta na Itália para esclarecer detalhes sobre a passagem dele pelo país e identificar as pessoas com as quais ele teve contato. O agressor estava na França desde 9 de outubro, e chegou a Nice dois dias antes do ataque.

Até o momento não está claro se o tunisiano obteve ajuda externa para o atentado na Notre-Dame, o mais recente de uma série de atos com motivação islâmica na França nas últimas semanas.

O agressor foi baleado várias vezes pela polícia logo após o ataque, e atualmente está internado em estado grave num hospital. Por isso, os investigadores ainda não conseguiram interrogá-lo, e suas motivações específicas para o ato violento permanecem incertas.

"Ainda é muito cedo para dizer se houve outros cúmplices, quais foram suas motivações para vir à França e quando essa ideia se enraizou nele", disse uma fonte judicial próxima ao inquérito, que conversou com a agência de notícias francesa AFP e pediu anonimato.

A mesma fonte afirmou que informações sobre dois telefones do agressor, bem como uma investigação que está sendo conduzida pelas autoridades tunisianas, serão decisivas na apuração do caso na França.

Homenagens neste domingo

As tensões no país não impediram os católicos de comemorarem o feriado de Todos os Santos neste domingo em Nice, ainda que sob a mais rígida segurança policial.

"Fiquei apreensiva, com medo de vir", conta Claudia, de 49 anos, a caminho da igreja, afirmando estar tranquilizada pela presença de soldados fortemente armados. "Precisamos mostrar que não estamos com medo e que estamos aqui."

Várias igrejas em todo o país ainda aproveitaram o feriado para realizar cultos dominicais em homenagem aos mortos no ataque.

Em 29 de outubro, o agressor entrou na basílica de Nice e, em 30 minutos, matou três pessoas a facadas: uma mulher de 60 anos que quase foi decapitada, o sacristão do templo, de 55 anos, e a brasileira Simone Barreto Silva, de 44. Esta ainda conseguiu deixar a igreja e tentou se esconder em um restaurante próximo, mas não resistiu aos ferimentos.

O suspeito teria gritado "Allahu Akbar" (Deus é grande, em árabe) ao perpetrar o ataque e carregava um Alcorão. Ele não estava no radar das agências de inteligência como uma ameaça potencial.

Ataques na França

O atentado em Nice ocorreu num momento em que a França está em alerta para atos terroristas em meio a tensões envolvendo caricaturas do profeta Maomé.

Em 16 de outubro, o professor de história Samuel Paty foi decapitado por um extremista islâmico nas proximidades de Paris, após ter exibido caricaturas do profeta em sala de aula, durante uma discussão sobre liberdade de expressão.

Em reação, o presidente francês, Emmanuel Macron, enviou milhares de soldados para proteger locais de cultos e escolas, e endureceu o discurso contra agressores islâmicos.

Em uma cerimônia de homenagem ao professor, Macron defendeu a liberdade de expressão e o direito de divulgar caricaturas no país, incluindo de Maomé, e acabou virando alvo de uma onda de indignação no mundo muçulmano, onde têm se multiplicado os apelos ao boicote de produtos franceses e os protestos.

Em 25 de setembro passado, duas pessoas foram esfaqueadas perto do local onde ficava a antiga sede do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris. O autor do atentado disse que não conseguiu suportar a nova publicação de caricaturas de Maomé pelo jornal.

Já neste sábado, um padre ortodoxo grego de 52 anos foi baleado em frente a um templo religioso no centro da cidade de Lyon, no  sudeste da França. Ele estava fechando a igreja no meio da tarde quando foi atacado pelo atirador e agora está em estado grave num hospital.

O agressor fugiu do local, mas o promotor público de Lyon anunciou mais tarde que um suspeito havia sido preso, acrescentando que a motivação para o ataque ainda não estava clara.

EK/afp/dpa/ots