Polêmica interrompe construção do Memorial do Holocausto
27 de outubro de 2003Dentre as inúmeras empresas alemãs que colaboraram para o extermínio de seis milhões de judeus nos campos de concentração nazistas destaca-se a Degesch (Deutsche Gesellschaft für Schädlingsbekämpfung), uma subsidiária da Degussa especializada na produção de inseticidas.
Um dos seus produtos, o gás inseticida Zyklon B, foi utilizado, a partir de setembro de 1941, nos campos de extermínio administrados pelas tropas da SS nazista. A particularidade do Zyklon B era não produzir nenhum cheiro. Os judeus e outras vítimas eram conduzidos às duchas coletivas, onde o gás letal era espalhado de forma imperceptível.
O Memorial do Holocausto consiste basicamente em 2751 colunas de concretos ocupando uma imensa área equivalente a quatro campos de futebol, ao sul do Portão de Brandenburgo, no centro de Berlim. A Degussa havia sido encarregada de fornecer um produto químico destinado a proteger as colunas de pichações.
A curadoria da fundação responsável pela construção do memorial resolveu (25/10/2003) rescindir o contrato com a Degussa, alegando que seria um absurdo permitir que esta empresa lucre mais uma vez com o Holocausto.
O difícil passado nazista
Esta polêmica em torno da Degussa é mais um capítulo na difícil história da superação do passado nazista alemão. A construção do Memorial do Holocausto é uma idéia que vem se arrastando há mais de 15 anos. O design e a localização do Memorial foram modificados várias vezes por razões políticas e financeiras.
Orçado em 27,6 milhões de euros, o atual projeto do arquiteto americano Peter Eisenman prevê, além das 2751 colunas, um centro de informação subterrâneo contendo a lista dos seis milhões de judeus exterminados durante o Terceiro Reich.
Pichações neonazistas são bem-vindas
Eisenman havia aprovado a aplicação do produto químico da Degussa (Protectosil) pelo fato de ele corrigir pequenas irregularidades do concreto e atenuar o desgaste do tempo. Entretanto, o autor do projeto acha que não é necessário proteger as colunas contra possíveis pichações de neonazistas.
Tais pichações, na opinião de Einsenman, fazem parte do Memorial e contribuem para estimular na sociedade alemã o debate sobre os atos de barbárie cometidos pelas gerações dos pais, avós e bisavós.