Políticos alemães exigem esclarecimento de torturas
11 de maio de 2004O ministro alemão do Interior, Otto Schily (SPD), qualificou as torturas nas prisões iraquianas de "golpe sério" na luta contra o terrorismo. É um golpe contra tudo o que os Estados Unidos representam, como democracia e liberdade de direitos, disse o ministro alemão.
A ministra alemã da Justiça, Brigitte Zypries (SPD), afirmou que a luta contra o terrorismo precisa ser conduzida com métodos democráticos e legais.
Schily e Zypries encontram-se desde segunda-feira em Washington participando do encontro preparativo à cúpula do G-8, que será realizado no mês de junho nos Estados Unidos. Eles estão discutindo, entre outras questões, medidas antiterroristas como a proteção à infra-estrutura de energia, transportes e comunicações.
As imagens de torturas de prisioneiros iraquianos são "chocantes" e "horripilantes", afirmou Schily. Os prejuízos causados às forças da coalizão no Iraque são incalculáveis. É um alívio que o governo americano tenha condenado claramente as torturas e prometido investigá-las.
Prisioneiros em Guantánamo
O ministro alemão do Interior ressaltou também a posição crítica do governo alemão em relação ao campo de prisioneiros mantido pelos Estados Unidos na Baía de Guantánamo, em Cuba. É inaceitável que o governo americano continue negando a advogados e à Justiça americana o acesso à maioria dos 600 detentos que lá se encontram, segundo Otto Schily.
O governo alemão defende o respeito aos métodos legais e aos direitos humanos em relação a todos os prisioneiros, afirmou a ministra alemã da Justiça num pronunciamento em Washington. Se as democracias ocidentais empregarem os mesmos métodos dos terroristas, elas perdem sua legitimidade, disse Brigitte Zypries.
Críticas do governo e da oposição
O Partido Verde, parceiro do Partido Social Democrata (SPD) no governo alemão, exige que o governo dos Estados Unidos não apenas peça desculpas, mas assuma a responsabilidade política pelo escândalo das torturas. Os Estados Unidos precisam restabelecer a confiança, sobretudo no mundo árabe, afirmou Angelika Beer, presidente dos verdes.
"Uma catástrofe moral", foi como o governador da Baviera e presidente do partido CSU, Edmund Stoiber, qualificou os maus-tratos aos prisioneiros iraquianos. Os responsáveis precisam ser punidos. Stoiber deixou claro que nenhum soldado alemão será enviado ao Iraque, mesmo que a oposição assuma o governo.
O presidente do SPD, Franz Müntefering, afirmou que as torturas são uma "catástrofe absoluta" para as esforços de paz no mundo. É "uma vergonha para as democracias ocidentais", disse Münterfering. As imagens de "ofensa aos povos islâmicos" vão permanecer encravadas profundamente na memória.
Perigo para o futuro do Iraque
Em Washington, antes de iniciar suas conversações na Casa Branca, o ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, afirmou que acusações de tortura contra os soldados americanos e britânicos constituem não apenas um crime repugnante, como também um perigo para o futuro do Iraque.
Fischer encontrará o secretário de Estado americano, Colin Powell, e a assessora de segurança Condoleezza Rice. O ministro alemão afirmou que ressaltará a necessidade de que sejam criadas as condições para que o Iraque recupere a sua soberania.
Na opinião do ministro alemão, as Nações Unidas devem assumir o processo político, esforçando para estabelecer um consenso entre as diversas forças políticas do Iraque. O Conselho de Segurança da ONU está aguardando o relatório do enviado especial, Lakhdar Brahimi, a fim de negociar uma nova resolução para o Iraque.