Ajuda à potência?
31 de julho de 2008Pouco antes do início dos Jogos Olímpicos em Pequim, políticos democrata-cristãos (CDU) e liberais (FDP) exigiram que a Alemanha pare de pagar ajuda ao desenvolvimento à China. Segundo a avaliação dos conservadores, a China pode e deve começar a resolver seus problemas sozinha.
O ministério alemão do Desenvolvimento negou que tenha planos nesse sentido. Um porta-voz do Ministério lembrou que a ministra Heidemarie Wieczorek-Zeul (SPD) já suspendeu as negociações com Pequim em março deste ano, em decorrência da violência no Tibete.
Ao que tudo indica, o Ministério quer esperar para ver como se desenvolvem a situação no Tibete e as negociações entre Pequim e representantes do Dalai Lama, a ocorrerem após os Jogos Olímpicos. Possivelmente o governo alemão só decidirá daqui a alguns meses se retomará as negociações sobre novos recursos de desenvolvimento para o país asiático.
Maior beneficiária da ajuda alemã ao desenvolvimento
A China é a quarta maior economia e a terceira maior nação industrial do mundo. Com um volume de exportações de 2,17 bilhões e divisas no valor de 1,53 bilhão de dólares, o país asiático atraiu, em 2007, investimentos diretos de 75 bilhões de dólares. As empresas chinesas, por sua vez, investem cerca de 18 bilhões de dólares no exterior. No ano passado, o PIB da China aumentou aproximadamente 11,4%. Prevê-se que, em 2009, a China ultrapasse a Alemanha no volume de exportações.
Diante desse quadro, políticos alemães conservadores e liberais questionam o sentido de manter a China como a maior beneficiária da ajuda alemã ao desenvolvimento. Em 2007, os recursos de desenvolvimento transferidos para o país asiático chegaram a 57,5 milhões de euros; em 2008, o orçamento foi complementado com mais 10 milhões.
Esses números se referem estritamente à contribuição liberada diretamente pelo Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento. No entanto, a ajuda de desenvolvimento oficial é bem mais alta do que isso, tendo aumentado de 187 milhões para 195 milhões de euros de 2005 para 2006.
Serviços pagos em vez de ajuda ao desenvolvimento
Os opositores do apoio econômico argumentam que a China é rica o suficiente para combater sozinha seus problemas sociais. No entanto, faz tempo que a ajuda alemã não visa mais ao combate à pobreza. O Ministério argumenta que a concessão de ajuda econômica, hoje, tem efeitos importantes sobre a economia alemã e a proteção ao clima.
O governo em Berlim quer que a ajuda à China se concentre justamente no incentivo à proteção ambiental e ao desenvolvimento econômico sustentável e ofereça o know-how necessário para tal. Para muitos, no entanto, isso não precisaria ocorrer no contexto de ajuda ao desenvolvimento, mas poderia ser realizado por meio de investimentos privados e serviços pagos.
Um outro argumento contra a ajuda à China são as vantagens econômicas que o país já teve em decorrência da abertura da União Européia aos produtos chineses. Na opinião de alguns, isso já seria ajuda suficiente como apoio econômico.
Por outro lado, a própria China estaria praticando uma espécie de política de desenvolvimento na África, a fim de assegurar recursos para si mesma, sem metas humanitárias ou transferência de know-how – uma outra opinião divulgada.
Quanto ao alcance político de uma contribuição econômica à China, muitos criticam que esse instrumento não se mostrou eficiente como forma de pressionar Pequim à uma abertura democrática, ao combate a estruturas corruptas e autocráticas ou à proteção dos direitos humanos.
Um país em desenvolvimento, sim
Por outro lado, a China continua sendo um país em desenvolvimento. Quase 200 milhões de chineses vivem abaixo do limite de pobreza estipulado pelas Nações Unidas, recebendo menos de um dólar ao dia. Com uma renda per capita anual de 1,8 mil dólares, a China revela uma grande discrepância entre cidade e campo, além de ter uma infra-estrutura deficitária e falhas nos sistemas de saúde e educação.
Os defensores da ajuda econômica à China, por sua vez, argumentam que vale a pena investir nessa cooperação. Afinal, isso possibilitaria à Alemanha acompanhar os processos de transformação do país e influenciar o desenvolvimento em direções que venham ao encontro dos interesses econômicos e políticos alemães. Esta meta une opositores e defensores da ajuda ao desenvolvimento à China. (sm)