População de Munique envia recado ao COI ao rejeitar Jogos Olímpicos
13 de novembro de 2013A cidade de Munique não entrará na disputa para receber os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, de acordo com o resultado de um plebiscito realizado neste domingo (10/11). A maioria dos cidadãos da capital bávara e também a maioria nas localidades de Traunstein, Berchtesgaden e Garmisch-Partenkirchen, que receberiam algumas competições, foi contra a candidatura aos Jogos.
Esperava-se um resultado apertado, já que muitos muniquenses se envolveram apaixonadamente numa campanha pelo "sim". Mas o comparecimento às urnas foi baixo. A participação dos eleitores – em caráter não obrigatório – ficou abaixo de um terço do total de 1,3 milhão de votantes.
O risco de uma derrota da candidatura era grande desde o início. Era necessária a maioria dos votos em todos os quatro distritos eleitorais. Se em apenas um deles o "não" saísse vencedor, Munique já estaria de fora da corrida. A rejeição acabou sendo unânime: todos os quatro distritos disseram não.
Aproximadamente uma hora após o encerramento da votação, o prefeito da cidade, Christian Ude, já admitia o revés. "Essa é uma derrota evidente, a candidatura fracassou", lamentou.
O secretário-geral da Federação Alemã de Esportes Olímpicos (DOSB, na sigla em alemão), Michael Vesper, comentou, desiludido, que o resultado deixou os que apoiavam a candidatura muito decepcionados. "Fomos surpreendidos", afirmou.
Altos custos, lucro dos outros
Os temores dos oponentes da candidatura estavam relacionados principalmente aos custos imprevisíveis e à desconfiança em relação ao organizador do evento, o Comitê Olímpico Internacional (COI). Eles temiam que o COI viesse a forçar a cidade a aceitar contratos que acarretariam nas mesmas experiências já vividas por outras cidades-sede, gerando lucros enormes para o COI durante as duas semanas do evento, enquanto Munique e as comunidades vizinhas teriam que arcar com os custos de organização.
Havia também o temor de alterações drásticas na paisagem local. No sábado, os membros da Associação Alemã de Alpinismo já haviam, em ampla maioria, recusado a candidatura. O clube, de grande prestígio, temia danos irreparáveis ao meio ambiente.
Os residentes das localidades de Traunstein, Berchtesgaden e Garmisch-Partenkirchen receavam que o fluxo de milhares de turistas criaria caos na região. A infraestrutura local já é insuficiente para a circulação dos visitantes habituais, atraídos pelos esportes de inverno.
Em 1972, Munique já havia sediado os Jogos Olímpicos de Verão. O prefeito argumentava que, 50 anos depois, os Jogos de Inverno trariam um grande ganho de imagem à cidade.
Rumo a países sem tradição democrática
A rejeição de Munique aos Jogos não é um fato isolado. Nos últimos anos, votações semelhantes em cidades da Suíça, da França e da Áustria também resultaram em situações semelhantes.
O "não" de Munique acaba sendo um voto de desconfiança ao COI. Assim como ocorre com a entidade máxima do futebol, a Fifa, o COI costumam lucrar alto com seus eventos esportivos, deixado os altos custos para os organizadores.
Por isso, em muitos países democráticos aumenta cada vez mais a desconfiança em relação à Fifa e ao COI, como mostram os protestos que aconteceram no Brasil durante a Copa das Confederações.
Diante disso, especialistas afirmam que os grandes eventos esportivos tendem cada vez mais a serem realizados em países de pouca tradição democrática, principalmente na Ásia. Em locais assim, a população não é consultada nem têm voz. O melhor exemplo disso são as Copas do Mundo de 2018, na Rússia, e de 2022, no Catar, bem como os próximos Jogos Olímpicos de Inverno, que vão ocorrer em Sochi, também na Rússia.
"Para o COI, isso significa que vai ficar especialmente difícil organizar Jogos Olímpicos em democracias", afirma o sociólogo Helmut Dingel, membro do conselho da Federação Internacional de Atletismo. Segundo ele, seria "desastroso" para o futuro desenvolvimento dos esportes olímpicos se o COI decidisse optar por países autoritários ou ditaduras.
Em vez disso, o ex-presidente da Associação Atlética Alemã sustenta que o COI deveria deixar claro ao público a sua predisposição em reformar o processo de candidatura aos Jogos, simplificando-o e reduzindo significativamente os custos e as exigências feitas às sedes.