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Populismo à la Trump sem chance na Alemanha, diz estudo

Jefferson Chase
25 de julho de 2017

Pesquisa sugere que frustração dos eleitores alemães em relação ao establishment é bem menor que a vista nos EUA e no Reino Unido. Após ascensão nas enquetes, partido populista de direita AfD vem perdendo terreno.

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Desfile de carnaval na cidade de Mainz, na Alemanha, tematiza a presidência de Trump nos EUA, em fevereiro de 2017
Desfile de carnaval na cidade de Mainz, na Alemanha, tematiza a presidência de Trump nos EUAFoto: Getty Images/T. Lohnes

A frustração antiestablishment que levou Donald Trump ao poder e o Reino Unido a votar pelo Brexit existe na Alemanha, mas de uma forma muito mais moderada e que não decidirá a eleição nacional do país, em 24 de setembro deste ano. Esta é a conclusão central de um estudo encomendado pela Fundação Bertelsmann sobre como cidadãos aptos a votar no próximo pleito legislativo veem o populismo.

Os pesquisadores definiram o populismo como hostilidade em relação ao establishment, crença de que "o povo" é basicamente um grupo homogêneo e a visão de que a liderança política deveria ser a expressão direta da vontade popular. O estudo concluiu que 29,2% dos potenciais eleitores alemães são completamente populistas, 33,9% o são em parte, e 36,9% não apresentaram quaisquer traços populistas.

Leia a cobertura completa sobre a eleição na Alemanha em 2017

Embora uma pequena maioria dos alemães esteja frustrada com a forma como a democracia funciona na prática, houve um apoio irrestrito – mesmo entre populistas ferrenhos – pela democracia como sistema político.

"As pessoas com atitudes populistas na Alemanha são democratas decepcionadas, mas não inimigas da democracia", disse o coautor da pesquisa, Robert Vehrkamp, na apresentação oficial do estudo em Berlim.

O mesmo padrão se aplica à União Europeia (UE), garantiu Vehrkamp. Os alemães consultados criticaram a UE na sua forma atual, embora tenham apoiado fortemente o bloco europeu como um conceito geral. Eleitores alemães parecem estar menos irritados do que americanos ou britânicos. Vehrkamp classificou tal clima político na Alemanha de "populismo moderado".

Campanha populista de Trump

Trump dirigiu uma campanha "puramente populista" nas eleições presidenciais de 2016, lançando-se como a voz do povo americano, homogeneamente concebido, e definindo um voto nele como um voto contra o establishment e as elites políticas, aponta Vehrkamp.

Na Alemanha, os pesquisadores da Fundação Bertelsmann questionaram seus entrevistados sobre o que eles pensariam de um político alemão fazendo algo semelhante e descobriram que, tanto para populistas quanto para não populistas, defender a fragilização das elites políticas prejudicaria um político ou partido.

"Na Alemanha, nem mesmo os potenciais eleitores populistas querem ver as elites despojadas de seu poder", disse Vehrkamp. "Uma campanha tipicamente populista antiestablishment como a que Trump realizou não teria a mínima chance na Alemanha."

Quando questionado sobre por que os eleitores alemães e americanos têm visões tão distintas, Vehrkamp citou fatores socioeconômicos. Ele apontou que o estudo mostrou que quanto mais pobres e menos escolarizado são os alemães, mais provável é que eles tenham atitudes populistas.

Vehrkamp supõe que a maior equidade econômica na Alemanha em relação aos EUA levou menos pessoas de baixa renda a se sentirem completamente fora do sistema.

"É por isso que a nossa situação é completamente diferente da dos EUA ou do Reino Unido, onde o populismo é muito mais evidente e se expressa nos resultados eleitorais e até mesmo nas maiorias políticas", disse o cientista político alemão.

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A exceção chamada AfD

O estudo da Fundação Bertelsmann também abordou a questão de quão populistas são os sete partidos que provavelmente estarão representados no Bundestag (Parlamento alemão). Também nesse caso, o populismo se mostrou moderado.

Os conservadores da União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) e o Partido Verde foram considerados os menos populistas, e até mesmo o partido A Esquerda não foi considerado particularmente radical em sua oposição ao establishment.

A única exceção foi o partido de direita Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), que o estudo concluiu estar quase além da escala da intensidade populista. Curiosamente, embora a AfD tenha começado como uma associação eurocética, os pesquisadores concluíram que seus membros não estão mais interessados na UE. Em vez disso, eles estão obcecados com uma única questão: refugiados.

Embora a maioria dos alemães não queira ver um grande número de refugiados chegando ao país, como foi o caso em 2015, esta mesma maioria quer ver a Alemanha continuar acolhendo alguns migrantes e rejeita a ideia de deportações em massa. Dessa forma, o estudo sugeriu que os outros partidos devem evitar adotar as posições da AfD numa tentativa de angariar mais votos.

"Se eles fizerem isso, o apoio entre os próprios eleitores habituais diminuirá", alertou Vehrkamp. "Todos os outros partidos seriam aconselhados a não imitar posições da direita populista da AfD, seja em questões relacionadas à Europa ou a refugiados. Distanciar-se dessas posições promete mais sucesso nas eleições."

Um estudo semelhante sobre a eleição regional na Renânia do Norte-Vestfália, realizada em maio, sugeriu que cerca de metade do apoio à AfD vem de pessoas que geralmente não votam. O restante é proveniente de antigos simpatizantes populistas de outros partidos e de pessoas que emitem votos de protesto.

"Provavelmente o resultado mais estranho do estudo, em minha opinião, foi que a maior transferência de votos foi do Partido Pirata [de esquerda] para a AfD", disse Vehrkamp.

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AfD focou na questão dos refugiados e ganhou força nas pesquisas no auge da crise migratóriaFoto: picture-alliance/dpa/F. May

Contramobilização e defesa da democracia

A AfD obteve 7,4% dos votos na Renânia do Norte-Vestfália, o suficiente para estar representada no parlamento regional, mas muito longe dos mais de 20% que os populistas de direita estavam obtendo em pesquisas populares em outros estados alemães há menos de um ano. Então, qual será a performance da AfD em nível nacional, em setembro?

Os pesquisadores da Fundação Bertelsmann afirmam acreditar que a mobilização será um fator determinante. Como uma legenda de um tópico só, a AfD esperará um evento que novamente agite a ansiedade generalizada da sociedade sobre o afluxo de refugiados na Alemanha. "Um ressurgimento da questão dos refugiados ofereceria à AfD uma chance para mobilizar eleitores", afirmou Vehrkamp.

Cientistas políticos afirmam, no entanto, que o crescimento dos populistas de direita em 2016 na Alemanha, junto com o Brexit e a eleição de Trump, estimulou aqueles que estão no poder político a defender o sistema e as instituições da democracia.

"A contramobilização do mainstream contra a AfD cresceu e até mesmo supera a mobilização dos próprios eleitores da AfD, de modo que, quando aumenta o comparecimento às urnas, resultados como os da Renânia do Norte-Vestfália são possíveis", explicou Vehrkamp.

Em suma, o estudo da Fundação Bertelsmann pinta um cenário positivo para os principais partidos políticos da Alemanha e sugere que o "momento populista" acabou. 

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