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Por que o México vai acabar aceitando o muro de Trump

13 de janeiro de 2017

Pagar pela promessa de campanha do presidente eleito americano pode ser o menor dos males para Peña Nieto. Na verdade, imigração, tráfico e livre-comércio são diferentes elementos da mesma discussão entre os países.

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Enrique Pena Nieto und Donald Trump
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Lopez-Mills

O muro foi um das principais promessas eleitorais de Donald Trump. E ele assegurou que o México deve pagar por ele. Mas a resposta que veio do sul do Rio Grande foi um sonoro "no" – sobretudo por parte do presidente Enrique Peña Nieto. O tempo vai dizer se ele vai manter essa posição.

"O governo mexicano vai tentar encontrar formas de cooperar", opina Michelle Mittelstadt, porta-voz do instituto de política migratória MPI, baseado em Washington.

Peña Nieto mostrou isso não apenas com palavras, mas também com ações ao nomear Luis Videgaray, um apoiador de Trump, como seu novo ministro das Relações Exteriores. A parceria com Washington é importante para o governo: em um ano e meio vão ocorrer eleições presidenciais no México. 

Mas com o atual estado das coisas na segurança pública a e na luta contra a corrupção, os mexicanos tem poucos motivos para depositar esperanças no atual governo. Mais do que nunca, políticos e cartéis de drogas ignoram a lei. O México também precisa se recuperar de um período de turbulência econômica.

O relacionamento com os EUA, portanto, poderia desempenhar um papel importante na campanha eleitoral mexicana.

Nafta em xeque

Diferentemente de Venezuela e Cuba, o México não tem uma tradição de inimizade ideológica perante os EUA. Mas tem uma tradição de laços econômicos – e não apenas desde o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta).

Os questionamentos de Trump sobre a continuidade do Nafta tiveram um efeito incômodo no México, e as ameaças foram levadas por muitos a sério. Logo depois da vitória eleitoral do magnata, o peso mexicano perdeu 15% do seu valor em relação ao dólar americano.

Desde então, a diferença se alargou para quase 20%. No início de janeiro, a montadora americana Ford anunciou que não vai seguir com o plano bilionário de instalar uma nova fábrica no México – em vez disso decidiu expandir uma já instalada nos EUA.

Mas não são apenas interesses econômicos que estão em discussão. Ambos os países têm um inimigo em comum: o crime organizado e seus ganhos ilícitos com o comércio de drogas e armas entre o México e os EUA. Os ganhos anuais nesse mercado negro são estimados em 65 bilhões de dólares.

Manifestação contra o presidente Peña Nieto na cidade do México
Manifestação contra o presidente Peña Nieto na cidade do MéxicoFoto: picture-alliance/dpa/S. Gutierrez

Outro lado do muro

Pode-se argumentar que um muro pode vir a beneficiar o México porque ele poderia arruinar as atividades dos cartéis. Mas a realidade é bem diferente: 1130 dos 3200 quilômetros de fronteira já são protegidos com cercas e outras barreiras físicas. Isso tudo não coibiu o contrabando.

Em sua coluna Security Weekly, Scott Stewart, da agência privada de inteligência Stratfor, escreveu que "o movimento de bens e pessoas na fronteira é movido por forças grandes o suficiente para contornar qualquer barreira."

Os cartéis não apenas construíram túneis abaixo da barreira já existente. A maioria das drogas que chegam aos EUA está escondida em veículos ou é transportada por pessoas que cruzam a fronteira nos postos de passagem oficiais, escreveu Stewart. É por isso que os cartéis mexicanos se esforçam tanto na luta pelo controle de cidades onde existem esses postos, como Nuevo Laredo, Juárez e Tijuana.

Os cartéis estão, no entanto, mais preocupados com a legalização gradual da maconha nos EUA. Especialistas preveem que apenas essa medida pode cortar seus lucros em até 30%. Mas ainda há drogas ilegais como cocaína, crack, metanfetaminas e heroína para manter os negócios dos cartéis.

Além disso, os cartéis se diversificaram para outras atividades comerciais: sequestro e extorsão – e o tráfico de pessoas. Controles mais rígidos na fronteira têm levado imigrantes a depender cada vez mais do crime organizado para chegar aos EUA.

Muitas questões a negociar

Mas o México também tem interesse em aprimorar a segurança de suas fronteiras. Isso porque ele é um país de trânsito para milhares de pessoas de toda a América Latina. Elas, por sua vez, contribuem para o financiamento dos cartéis.

"O México criou em 2011 uma nova lei para implementar uma espécie de sistema de migração", lembra Mittelstadt, do MPI. E isso foi reconhecimento do fato de que o México não é apenas mais um país de emigrantes, ou um país de trânsito, mas um país de destino.

O fato de o presidente Peña Nieto se recusar a financiar o muro de Trump não pode ser interpretado como se ele não quisesse parar com a migração. Mas, acima de tudo, as duas partes estão concentradas na questão do livre-comércio.

A luta contra o tráfico ilegal de pessoas, armas e bens, assim como o futuro dos acordos de livre-comércio são diferentes elementos da mesma discussão entre EUA e México. Trump quer reduzir tudo isso. Peña Nieto, apenas uma parte. Isso significa que a construção do muro pode ser uma concessão política de Peña Nieto para Trump.