Portal Wikileaks
29 de novembro de 2009Cansada do governo e da corrupção generalizada, em 2002, a população do Quênia elegeu Mwai Kibaki como presidente. Ele transformou o jornalista John Githongo no maior inimigo da corrupção do país. No entanto, após algum tempo no gabinete de governo, Githongo observou que o novo governo era tão corrupto quanto o anterior.
Pouco tempo depois, ele começou a gravar conversas com ministros, para provar que eram corruptíveis. Githongo passou a temer por sua vida, fugiu para o Reino Unido e publicou suas informações no site de internet Wikileaks.
Decisivo nas eleições
As informações disponibilizadas por Githongo foram um dos maiores êxitos de Wikileaks, disse Daniel Schmitt, coordenador do site na Alemanha. Afinal de contas, o relatório foi muito importante para os resultados das eleições presidenciais em 2007. "Estima-se que 10% a 15% dos votos foram influenciados por esse relatório. Ele foi comentado durante semanas nos noticiários. Todo mundo no Quênia tomou conhecimento dele", relatou Schmitt.
Wikileaks é uma plataforma aberta de internet, na qual podem ser publicados documentos sensíveis e confidenciais. A única condição é que tais documentos sejam verdadeiros. Em todo o mundo, cerca de 1200 pessoas cooperam com o projeto, entre jornalistas, ativistas de direitos humanos, especialistas em informática.
O que os une é a vontade de combater a corrupção e o comportamento ilegal de governos e empresas. De fato, essa é a principal tarefa da mídia. No entanto, muitas redações não dispõem de recursos para pesquisas investigativas.
Fonte barata de informações para jornalistas
"O jornalismo investigativo está bastante ameaçado", afirmou Schmitt. Em vez disso, a superficialidade toma conta cada vez mais das reportagens, acresceu. "Entretenimento e cultura pop, tudo isso nos distrai do que é realmente importante". Com Wikileaks, os jornalistas podem dispor agora de uma fonte barata de material "explosivo" – e os informantes, uma nova possibilidade de divulgar o que sabem.
Para comprovar a veracidade de um documento, o pessoal do Wikileaks desenvolveu uma série de mecanismos. Especialistas em informática avaliam, através de diferentes testes, se o material foi manipulado tecnicamente. Depois disso, contatam-se os respectivos especialistas sobre os diferentes temas.
Hans Layendecker, jornalista investigativo do diário alemão Süddeutsche Zeitung, mostrou-se cético quanto a Wikileaks. "É uma fonte que pode ser consultada, mas não se deve depositar nela grandes esperanças", disse. O jornalista afirmou que não se pode distinguir muitas vezes entre o falso e o verdadeiro. "E o segundo ponto é que, na melhor das hipóteses, os documentos fornecem somente pontos de partida para uma pesquisa mais abrangente, e nada mais".
Proteção de informantes
Entrementes, o site contém 1,2 milhão de documentos. O número de informantes é também bastante volumoso, porque eles continuam anônimos. Antes que um arquivo seja publicado no site, ele é encaminhado pelo pessoal da Wikileaks para países com rígidas leis de imprensa.
Se alguém processar judicialmente Wikileaks, então valem os amplos direitos de imprensa da Suécia ou dos EUA. A Igreja da Cientologia, o banco Julius Bär e o governo iraniano já tomaram medidas jurídicas contra Wikileaks – sem sucesso.
A maioria dos colaboradores de Wikileaks também permanecem anônimos. Na verdade, Daniel Schmitt é um pseudônimo. Na Alemanha, ele é o único a ter uma atuação pública. Quem descobre escândalos políticos vive perigosamente. "No começo do ano, duas pessoas do nosso pessoal foram assassinadas no Quênia", disse Schmitt. "Naquele momento, eu cheguei à conclusão de que seria melhor não divulgar meu verdadeiro nome".
Sentido de vida
A Alemanha não é o Quênia. Isso também está claro para Schmitt. "Mas a questão é sempre contra quem se dirigem as denúncias e quanto esforço pessoas são capazes de investir, para afastar problemas de seu caminho", explicou.
Apesar de seu pessoal viver perigosamente, Wikileaks é um importante instrumento para que oposicionistas ou dissidentes, em países sem liberdade de imprensa, possam divulgar o sensível material que têm em mãos – com risco relativamente baixo para eles próprios.
Até poucos meses atrás, Daniel Schmitt trabalhava com especialista em informática, instalando redes para empresas. Para ele, esse foi um motivo para deixar o emprego. "Nunca na minha vida eu agi de forma tão correta como agora. Quando acordo de manhã, sei que durante o dia farei algo que poderá ajudar alguém em alguma parte do mundo".
Autor: Manfred Götzke (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer