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Possível treinamento de franceses pelo Talibã cria temor de novos ataques

28 de março de 2012

Há indícios de que Mohamed Merah tenha sido um de muitos muçulmanos europeus treinados em campos terroristas no Paquistão. Analistas atribuem a governos parte da responsabilidade pela radicalização islâmica na Europa.

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Foto: Reuters

As autoridades da França investigam se Mohamed Merah fazia parte de um grupo de muçulmanos franceses treinados pelo Talibã do Paquistão. O francês de origem argelina, morto após 32 horas de cerco policial na quinta-feira passada (22/03) em Toulouse, é acusado de assassinar sete pessoas no sul da França, inclusive três escolares judeus e um rabino.

Merah alegou estar associado à organização terrorista Al Qaeda e, segundo as autoridades, teria viajado duas vezes para o Afeganistão em 2010 e, em 2011, para o Paquistão.

A revelação, feita por membros do serviço de inteligência paquistanês, de que mais de 80 franceses teriam treinado nos últimos três anos com militantes islâmicos no Waziristão do Norte, região montanhosa no noroeste do Paquistão, deixou em alerta as autoridades francesas, que temem que o país se torne alvo de atentados de radicais islâmicos.

Segundo as informações transmitidas sob condição de anonimato à agência de notícias AP, os franceses operariam próximo às cidades de Miran Shah e Datta Khel, sob o nome Djihad-e-Islami. Acredita-se que o Waziristão do Norte seja a fortaleza dos talibãs paquistaneses e da rede Haqqani, ambos grupos estreitamente ligados à Al Qaeda.

Segundo a AP, o comandante de milícia Ahmed Merwat haveria alegado que Merah estava filiado à ala Jundullah dos talibãs paquistaneses no Waziristão, afirmativa essa que não pôde ser confirmada.

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Mohamed Merah teria sido treinado pelo Talibã paquistanêsFoto: Reutes/France 2 Television

Responsabilidade do Ocidente

Farooq Sulehria, jornalista paquistanês baseado em Londres, declarou à DW não ser esta a primeira notícia de muçulmanos europeus sendo treinados no Paquistão. "Cidadãos suecos já foram acusados de viajar ao Paquistão para receber treinamento militante. Houve inúmeros exemplos disso na Grã-Bretanha. Portanto este caso [de Mohamed Merah] não é único."

"Cada vez que o mundo fica sabendo da conexão do Paquistão com tais incidentes, a imagem do país fica mais manchada", observou. No entanto, o jornalista diz duvidar que o governo civil do Paquistão tenha qualquer controle sobre o que ele denomina a "estrutura de jihad" do país. São as poderosas forças militares do país que não estão prontas para "desmantelar os santuários talibâs", afirma. Sulehria questiona se o governo civil é sequer suficientemente sério para impor rédeas aos militantes talibãs.

Em sua opinião, a islamização crescente dos países árabes é um fator-chave para a radicalização da juventude muçulmana no Ocidente. "Isso não ocorre apenas entre os muçulmanos. Quando o partido Bharatiya Janata (BJP) subiu ao poder na Índia, os jovens indianos vivendo no Ocidente também exibiram comportamento fundamentalista."

Sulehria também culpa os governos ocidentais pela ascensão do fundamentalismo islâmico em seus países. "Os governos franceses da década de 1980, em particular, encorajaram os radicais islâmicos a operarem livremente na França, para reduzir a influência comunista entre os imigrantes muçulmanos."

Pakistan Landschaft in Waziristan Luftaufnahme
Vista aérea da região montanhosa Waziristão do NorteFoto: Abdul Sabooh

Questões de identidade

Adeel Khan, doutorando em Antropologia Islâmica na Universidade de Cambridge e especialista em Educação Islâmica, adverte para uma simplificação excessiva do fenômeno da radicalização. "Há alguns fatores que precisam ser analisados para que se compreenda a afirmação das identidades islâmicas na esfera pública da Europa", comentou à DW. "Um deles é a busca de uma identidade universal, baseada na religião e nos costumes dos pais, capaz de resistir dentro do espaço público da Europa, predominantemente secular."

O segundo seria o conflito entre a geração jovem e os mais velhos, os quais, segundo a juventude muçulmana no Ocidente, estariam presos aos costumes locais, sem ter noção da época áurea do domínio muçulmano na ciência, religião e humanidades, durante a Idade Média. "Assim, eles têm esse desejo reacionário de afirmar sua identidade, numa sociedade que os considera, a eles e a seu passado, retrógrados e inapropriados à Europa moderna", diagnostica Khan.

Noman Benotman, analista-chefe do think tank antiextremista Quilliam Foundation, sediado em Londres, acredita que faz parte da natureza da sociedade democrática ocidental não permitir que o extremismo seja enfrentado com mais extremismo.

"É como tentar encontrar um equilíbrio entre essas duas questões: como enfrentar o extremismo e, ao mesmo tempo, não sacrificar os próprios valores [seculares]. Isso significaria perder a guerra", comentou à DW. "Esses países têm que se ater a esses valores. Isso é positivo, e não negativo."

Autor: Shamil Shams (av)
Revisão: Alexandre Schossler