Preço alto pelo fim das sanções
18 de agosto de 2003Há meses que o regime de Muammar Gadafi comunicou à Alemanha sua disposição para pagar pelo ato terrorista de 1986, na discoteca La Belle então muito freqüentada por soldados americanos, em Berlim, segundo a última edição da revista alemã Der Spiegel.
Numa sentença em novembro de 2001, o Tribunal Regional de Berlim responsabilizou o serviço secreto líbio pelo atentado em que morreram três pessoas e outras 200 ficaram feridas. O governo alemão insistiu em indenização da Líbia e um grupo de advogados que representam 67 vítimas não americanas está trabalhando numa solução com juristas do Ministério das Relações Exteriores, segundo a Der Spiegel.
Meio milhão por vítima - A exigência é de 500 mil euros por vítima, em média. O dinheiro deverá ser investido num fundo para se pagar cada vítima uma soma de acordo com as lesões sofridas. Os pagamentos poderão ser feitos em 2003.
Depois da Alemanha, a França é o segundo membro da União Européia com o qual a Líbia deve ajustar contas, literalmente, por seus atos terroristas. Paris também está negociando uma indenização superior a 30,5 milhões de euros pela derrubada de um avião francês, em 1989, quando voava de Brazaville para Paris. Morreram todas as 170 pessoas a bordo. Como Alemanha e França são membros do Conselho de Segurança da ONU, é tido como certo que Trípoli vai firmar acordo de indenização com Berlim e Paris.
Em conversa pelo telefone com o presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, o líder revolucionário Gadafi, teria dito que quer normalizar as relações da Líbia com a União Européia o mais cedo possível. Segundo revelou um porta-voz da Comissão em Bruxelas, Gadafi quer encerrar rápido o "doloroso capítulo do terrorismo, para que a Líbia reencontre o seu lugar na comunidade internacional".
Lockerbie & EUA – Para garantir o voto dos Estados Unidos a favor da suspensão das sanções contra a Líbia, este país se dispôs a pagar US$ 2,7 bilhões de indenização aos familiares das 270 vítimas do atentado sobre Lockerbye, em 1988. Um jumbo da PanAm foi abatido em 21 de dezembro daquele ano, quando voava sobre a cidade escocesa. Todos os passageiros e tripulantes morreram.
A Líbia assumiu a responsabilidade pelo atentado numa carta ao Conselho de Segurança da ONU, divulgada na sexta-feira (15), nos Estados Unidos. O Departamento de Estado norte-americano esclareceu, todavia, que uma suspensão das sanções da ONU não afetaria suas relações bilaterais com país de Gadafi. Washington continuaria inquieto com os abusos dos direitos humanos e a inexistência de instituições democráticas no país africano.
O governo do George W. Bush se preocupa especialmente com o que chama de "papel destrutivo da Líbia nos conflitos regionais africanos" e, nesse contexto, com o possível desenvolvimento de armas de destruição em massa. Para os EUA, a Líbia integra o "eixo do mal" e apóia o terrorismo internacional.