Premiê chinês visita Alemanha
3 de maio de 2004Visitas de Gerhard Schröder à China não passam de um registro corriqueiro na mídia alemã. Desta vez, no entanto, a novidade fica por conta da ilustre presença do premiê chinês Wen Jiabao em Berlim, recebido de braços abertos pelo governo alemão. Afinal, a Alemanha é o principal parceiro comercial da China, responsável por um terço das relações comerciais entre o país e a União Européia.
Se na China são fabricados mais veículos Volkswagen que na central alemã da montadora em Wolfsburg, um número cada vez maior de empresas chinesas – hoje 600 – se estabelecem no mercado alemão. Além disso, o filho predileto da tecnologia de ponta alemã – o trem de alta velocidade Transrapid – deverá estar circulando em breve por Xangai.
Silêncio sobre venda de usina atômica
Wen Jiabao fica onze dias na Europa e traz na bagagem o propósito de duplicar as já intensas relações comerciais com a UE até o ano de 2010. O premiê chinês é tido como discreto em suas ações, porém decisivo.
A questão polêmica envolvendo a venda da usina atômica alemã de Hanau para a China – que desencadeou enormes divergências internas na Alemanha – não está na agenda da visita. Wen Jiabao, embora afirme que a China ainda tenha interesse na compra, deixa o assunto de lado, provavelmente para poupar Gerhard Schröder dos ataques que o tema novamente suscitaria.
Benno von Canstein, presidente da Câmara Alemã de Comércio em Xangai acredita que os propósitos estabelecidos pelo premiê Wen Jiabao são um tanto quanto ambiciosos: “Embora nós já estejamos há tempo suficiente na China para saber que alvos, que pareciam completamente irreais no passado, puderam ser alcançados”.
Bons momentos
Atualmente, as relações econômicas teuto-chinesas não poderiam ser melhores. Em 2003, o volume de exportações alemãs para a China ficou em torno de 18 bilhões de euros. O fluxo de empresários alemães rumo ao país é enorme, desde a indústria pesada, passando pelas montadoras, até às médias empresas.
A Volkswagen, por exemplo, pretende expandir sua presença em Dalian, hoje já a terceira maior unidade da montadora em todo o mundo. A VW está presente em solo chinês desde 1985. Também a Mercedes-Benz tem planos de se estabelecer no norte do país e a Siemens Mobile pretende estabelecer uma parceria com o maior fabricante chinês de celulares Bird.
Os chineses, por sua vez, estariam mais interessados em uma cooperação mais estreita no setor de tecnologia de ponta: “Percebemos que os chineses estão interessados em montar joint ventures com empresas alemãs de tecnologia de ponta, especialmente no setor de transporte urbano, incluindo aí metrôs, trens de superfície, etc. O Transrapid é um exemplo disso.
Certamente a China vai continuar exercendo pressão para reduzir as importações nesse campo, em prol de um estabelecimento duradouro de empresas high tech em solo chinês, com transferência real de tecnologia”, observa von Canstein.
Conflitos e problemas
Alguns aspectos da cultura empresarial chinesas, contudo, continuam assustando parte do empresariado alemão. O combate à pirataria e um sistema jurídico deficitário ainda são os principais problemas enfrentados por empresas estrangeiras no país. Sem contar as dificuldades com o abastecimento de energia.
Em meados do último ano, por exemplo, a unidade da Volkswagen foi obrigada a engolir o fato de as autoridades locais terem, de súbito, suspendido o fornecimento energético na zona onde está localizada a montadora no país. Também a Siemens, que exporta um terço dos celulares que produz em Xangai, acredita que pode se ver envolvida com alguns problemas imprevisíveis em solo chinês.
Direitos humanos e embargos de armas
Assuntos de ordem política deverão ficar de lado na agenda de Wen Jiabao à Alemanha, embora o tema do respeito aos direitos humanos na China paire sobre a visita do premiê à UE.
Já a suspensão do embargo de armas ao país é um dos principais pontos a serem tratados pelo premiê, embora o tema não seja um consenso entre os países do bloco. No encontro de ministros do Exterior da UE, em 26 de abril último, representantes de vários países demonstraram a preocupação em suspender o embargo.
Alemanha e França defendem que a decisão teria apenas um caráter simbólico, que contribuiria para impulsionar mudanças na China hoje. Países como Dinamarca, Suécia e Holanda, contudo, insistem que o desrespeito aos direitos humanos no país ainda não permite tal concessão. Entre Schröder e Wen Jiabao, o assunto também deve ficar de lado.